Wednesday, October 03, 2007

O Cano

De Li de Oliveira

Zilda Gabrieli tinha muitas expectativas para a balada. Sabe aquele friozinho na barriga de alguém que espera uma coisa de sábado a noite? Essa era a parte da história que ela chamava de ARREPIO.
Bem era verdade que eles nem se conheciam a tanto tempo. E ela de repente nem tinha direito de esperar algo. Ahhhhhhhhhhh mas era tão boa a sensação de querer estar perto!!!
Fez "a" produção. Maquiagem, olhos carregados e boca levemente com um brilho, afinal, o batom era a primeira coisa que iria sair não é? Roupa. Aquela que emagrece sabe? Que te faz sentir poderosa... Essa era parte da história que ela chamava de "EU SEI QUE EU SOU BONITA E GOSTOSA"
Mas então, a gostosa, ou seja, Zilda Gabrieli ouve a ansiedade gritar alto e resolve ligar para saber se está tudo certo.
- Alô? Hugo Emanuel? Oi... é a Zildinha... Eu já to aqui pronta, to indo pro barzinho já e queria saber você ta indo agora também?
- Ah... Oi... Sabe o que aconteceu?
Essa era a parte da história que ela chamava de "IHHHHHHH LA VEM BOMBA".
- Eu to em Paranapiacaba. Vim buscar uns passarinhos com meu com o tio do primo do meu vizinho. Mas já to indo! – Hugo Emanuel tentou dar ênfase ao animo da última frase.
Tá... Essa parte ela chamou de "ESPERANCINHA". Engoliu aquelas palavras e tentou se manter animada.
Chegou ao bar reencontrou velhos amigos. Encontrou, inclusive, um amigo que a muitooo tentava convidá-la para sair. E essa parte ela chamada de "SAIA JUSTA". Porque se o bonito resolve continuar o ataque justo naquela hora? Ai, ai, ai... Ela ficava tensa só de pensar.
Conversa vai, chopp vem. E a hora passa. Cadê? Nem sinal de Hugo Emanuel. Conferia a porta de rabo de olho. Conferia também o sinal do celular. Celular ok, ninguém na porta. Tudo bem, respira, inspira. Essa era a hora que ela chamava de "SOCORRO!!".
De repente o telefone toca! Zilda Gabrieli quase pula da cadeira, atende sem nem ver quem ligava. Era ele! Só podia!
- Alo... Zizi? Linda tas aonde? Queria te ver... É Vicente Jonatah.
- Ah... Oi Vi. Tudo bem? É não vai rolar... To longe... To em outra cidade... To com meus tios num baile da terceira idade tinha prometido pra eles. Sabe como é...
Essa era a parte que ela chamava de "MENTIRINHA DO BEM", pois, Vicente Jonatah não estava e nunca tinha estado em seus planos. Principalmente neste momento que o nome de Hugo Emanuel piscava em neon em sua lembrança.
Mas as horas corriam. E a música parecia cada vez mais depressiva. Começou a enumerar em pensamento seus defeitos e qualidades. Quais pesavam mais? Era uma pessoa bacana? Boa companhia? Pois, esse era o momento que ela chamava "ENGULINDO O SAPO AOS POUCOS".
Num último lampejo do seu desespero telefonou novamente para Hugo Emanuel, tentando não pensar no pior.
- Hugo? E aí, o que aconteceu?
- Então Zi... Seguinte. Sabe o tio do primo do meu vizinho? Então, estávamos voltando de Paranapiacaba e aí ligaram pra ele falando que o papagaio dele morreu. Nossa, ele ta mal, to sem coragem de deixar o cara sozinho...
E assim Zilda Gabrieli, entendeu que tinha duas opções. E resolveu chamar esta parte da historia de "COMPRAR UMA BICICLETA". Guardou sua decepção pra si e só quis dançar, dançar, dançar...

Monday, September 24, 2007

O Upgrade Feminino

De Luciana Muniz

Houve um tempo em que o sentido divino era feminino e também masculino. Deuses e Deusas conviviam no universo e nos corações dos que os cultuavam, olhando por suas criaturas.
Com o passar dos séculos a balança pendeu para um dos lados em detrimento do divino feminino. Assim surgiu a árdua tarefa feminina de recuperar o espaço perdido. Durante este processo a figura feminina passou por alguns “upgrades” antes de ser tornar a versão que conhecemos atualmente.
Na Versão “Original”, após a chegada do cristianismo e as lendas de Adão e Eva, os homens subiram em um pedestal e as mulheres passaram a se submeter e, pior, a acreditar que eram inferiores aos seus maridos, seus amantes, seus irmãos e seus pais! Uma cultura machista se instalou e a maior ambição de uma mulher passou a ser o casamento e a criação dos filhos. E assim foi por muitos anos...
Já na Versão Medieval haviam mulheres corajosas, à frente do seu tempo e das convenções sociais, que lutavam, cada qual à sua maneira, para minimizar de alguma forma tanta injustiça. Como mulheres assim eram escassas, os homens se voltavam para elas com a fúria de um gigante que recebe uma pedrada na testa de um moleque travesso e ágil.
Então começaram a transformar as mulheres inteligentes e intuitivas em bruxas, bacantes e seguidoras do diabo... Muitas foram perseguidas e queimadas vivas por conta da feminilidade que transbordava de seus poros... A mesma feminilidade que atraía estes mesmos homens... Todos sabem que homens e mulheres se procuram e se atraem, mas a atração se transforma em agressividade se um dos lados se sente em terreno desconhecido. Subjugar o que não se conhece passou a ser a medida adotada pela sociedade machista.
Durante a Versão Moderna felizmente os anos escorreram como água em correnteza e os homens passaram a questionar mais abertamente a “intuição feminina” e a localização exata do tal “ponto G”.
As mulheres por sua vez, passaram a não mais se calar e a cada vez mais conquistar, mesmo que devagar, o seu próprio espaço. Espaço este não apenas no terreno profissional, mas também em casa e no cuidado com os filhos. Lentamente os papéis começam a se inverter e a balança começa a dar sinais de um novo ponto de equilíbrio.
Em nossa Versão Contemporânea, escapar das armadilhas é o maior desafio das mulheres do século XXI, temos a missão de ser excelentes profissionais, mães, amantes, donas de casa e ainda cuidar do nosso bem estar como pessoa. Mais uma vez a tarefa imposta não é fácil de se cumprir. Mas ser mulher é mais do que intuir se um dos filhos precisa de ajuda, é mais do que sofrer por amor ou não ter vergonha de chorar.
E ainda carregamos o rótulo de sexo frágil... Intimamente sabemos que isso não é verdade, mas não ser frágil também não significa saber tudo, o bom senso deve prevalecer sempre. Não é justo criticar atitudes masculinas e por conta do feminismo nos transformarmos em “mulheres homens”, ou seja, mulheres com atitudes de homens, com a doce ilusão de que assim seremos modernas e vitoriosas. Ser mulher é ser forte, é saber enfrentar os desafios, mas nunca, em momento algum, perder a delicadeza que nos faz ser aquilo que somos: MULHERES!

Wednesday, September 19, 2007

O ROUBO (2x)

De Li de Oliveira

Foi rápido. Sem dor. Sem nem sentir para ser sincera. Uma hora estava com ele nas mãos, para em cinco minutos passados ele deixar de existir. Pelo menos para ela. Um celular que havia comprado há tão pouco, sumiu de sua bolsa em fração de segundos. Sabe destes que tem música, foto, vídeo, gravador, Bluetooth, infravermelho... Enfim, ele até telefonava! Á princípio desespero. Mas depois, de que adiantaria? Nada e ninguém o traria de volta. Foram-se os anéis e ficaram os dedos, não é o que dizem? Era o que importava. Mas então vinha todo aquele procedimento chatíssimo: bloquear linha, negociar com a prestadora...
"Boa noite, bem vindo ao atendimento OBSCURO! Para pagamento de conta disque 1. Para informações sobre promoção disque 2. Para carregamento de saldo disque 3. Para saber de quanto é o seu saldo disque 4. Para saber seu saldo promocional disque 5..."
- PQP eu só quero falar para alguém que eu fui roubadaaaaaaaaaa!!!!
"Por favor, este é um sistema inteligente que entende o que você fala. Retornando ao menu inicial. Para pagamento de conta disque 1. Para informações sobre promoção disque 2..."
Samara Cláudia, murmurou outro palavrão, mas desta vez bem baixinho para a que a Sra Sistema Mala Inteligente não a ouvisse.
"Disque 6 para reparos no seu telefone... Disque 69 para ligações indevidas. Disque 666 para caso de roubo..."
Samara Claudia estava pensando na morte da bezerra a esta altura. E quase não prestou atenção no número que tinha que digitar...
"Se quiser retornar ao menu inicial disque 92754809716-97..."
- PELO AMOR DE DEUS!!!!!!! – Ela discou rapidamente o tal do 666.
"Em caso de roubo disque 171. Em caso de furto disque 007. Caso queira estar aplicando um golpe em seu seguro, alertamos, isso é crime e pode dar cadeia."
- EU SÓ QUERO FALAR COM ALGUEMMMMM!!!
"Por favor, este é um sistema inteligente, ajuste o volume do seu telefone. A ligação está mais alta do que é permitido em conversas amigáveis."
- Mas é um cacete mesmo !!!!!
"Não podemos continuar com o menu inteligente, suas palavras não correspondem ao sistema. Sua ligação está sendo transferida para um de nossos atendentes..."
- Finalmente! Oba! Uhuuuuu.
- Prestadora Obscuro, Cristiano Ricardo, boa noite.
- Ah, oi! Que bom falar com você!!! Adorooooo falar com gente. Cristiano Ricardo né? Ah que bom que me atendeu.
- Ah? É. Em que posso ajudá-la?
- Eu queria informar que fui roubada e queria bloquear minha linha.
- Ok Senhora, estaremos fazendo o procedimento de bloqueio. Para isso eu preciso que esteja com RG, CIC, comprovante de residência em mãos e me confirme algumas informações OK senhora? Para que a gente esteja bloqueando esta linha também, informo que é necessário o pagamento do próximo mês efetuado.
- Mas eu fui roubada!!!!!!! Não vou usar!
- Este é o nosso procedimento senhora, o bloqueio só estará sendo efetuado quando vermos que a senhora vai estar pagando esta conta.
- Então, eu não quero bloquear nada! Eu quero é cancelar essa porcaria de linha!
- Para o cancelamento da linha senhora, terá que estar pagando a taxa de R$ 591,99 de acordo a carência de seu plano.
- Meu plano não é carente! A carente de paciência aqui sou eu!
- Senhora, todos estes procedimentos estavam escrito no seu contrato logo abaixo da página na pagina 3 em letras Times New Roman n° 6.
- Mas era o que me faltava!!!!! Ladrões são vocês!!! O cara que me roubou é gente boa!! Pelo menos levou só o telefone sem cobrar taxa!
- Para maiores informações de seu plano, vou retornar com a ligação para o sistema de menu inteligente. Cristiano Ricardo e Obscuro agradecem e tenham uma boa noite...
- NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!
"Para saber detalhes do seu plano disque 1... Caso tenha um plano B disque 2... "
TU TU TU TU TU ...

Monday, September 17, 2007

Socorro, SuperNanny!

De Suzana Marion

O mocinho planejou tudo por semanas, em todos os detalhes. Trocou cartas por meses, e com elas enviava estrelas, para que a mocinha não estranhasse o céu que ele lhe prometeu. Depois de aguardar o tempo necessário decidiu acabar com aquele ‘e se’ que o consumia. Fez todas as manobras possíveis, lutou contra uns dragões, rodeou o castelo... a mocinha na janela da mais alta torre já lhe sorria. Ela aguardou por meses a fio seu resgate, todas as noites imaginou seu rosto naqueles segundos confusos que antecedem o sono. Não era tão crescido quanto imaginara e suas pernas e braços tremiam à medida que seu coração saltava de ansiedade... Daí, durante a escalada ele lembrou que deixou o feijão no fogo, que tinha que pegar a tia doente na rodoviária, sentiu vontade de fumar outro cigarro, dor-de-cabeça, dor-de-barriga, ou qualquer coisa do tipo. Desceu os poucos metros que subira, deu umas moedas para o porteiro, pegou o elevador. Entrou depressa e deu um selinho na princesa sem ao menos saborear o momento e de nervoso esqueceu o número da árvore em que estacionou o Alasão. Chamou um táxi. Entre suas desculpas, desvios e atalhos não houve entrega ou alegria, pois a proximidade do amanhã inevitável já o assombrava e fez vã toda a sua jornada. Ela olhava pra ele e ele olhava pela janela durante todo o caminho. Pediu ao motorista que o deixasse primeiro em casa porque era mais perto e a princesa foi embora resignada e sozinha, com sua metade da corrida para pagar e tentando não pensar nos planos que fizera. Ele devia entrar na torre pela janela, suspende-la em seus braços com carinho, cavalgar abraçados para longe dali. Eles entrariam numa cabana na floresta, o príncipe fecharia atrás de si a porta e as janelas sem tirar os olhos dela e então eles ouviriam apenas o som dos pássaros e da chuva lá fora. Ele não diria banalidades, não ligaria a TV. Toda a sua atenção e seus sentidos estariam voltados para ela. Ele devia beijar seus olhos, sua testa, seu ombro, morder de leve a ponta da sua orelha direita, respirariam no mesmo compasso e brindariam com um longo beijo quente aquele momento sublime. Mas ela precisava dissipar aquelas nuvens de sonhos, pois ele ignorou todos os seus avisos e sucumbiu à própria covardia. Então ela ordenou ao motorista que desse meia volta, pediu que ele parasse na beira do caminho, pendurou, ao lado da placa “só solteiros” outra que dizia “apenas maiores de 30 anos”, e seguiu de volta ao castelo para mais uma vez trancar-se em sua torre. Menos que um sonho, aquela realização foi nada! Ficou apenas uma sensação, como ele mesmo dissera, de que ‘não custava tentar”.

Sunday, September 16, 2007

Como irritar uma mulher em 10 lições

De Lucinana Muniz

Quem já presenciou uma mulher à beira de um ataque de nervos?
Aposto que a maioria. Porém saio em defesa destas que, não são nada difíceis de agradar, é que os homens também pisam bastante na bola e como pisam!
Digníssimos representantes do sexo masculino leiam e parem para pensar se as gurias não têm um pouquinho de razão. Transcrevo abaixo apenas dez exemplos que foram citados em uma roda de amigas e não foi necessariamente no momento em que foram juntas ao toalete:
1. Trate ela como criança todas as vezes em que ela estiver lhe dando uma merecida bronca (vai dizer que você não se liga quando merece uns puxões de orelha?).
2. Olhe bem fundo em seus olhos e lhe diga antes de saírem para a balada:
– Você pintou a cara?
3. Compare o corpo dela com o da sua ex-namorada, mesmo que seja para dizer que o dela é mais bonito.
4. Fale mal das mulheres que têm TPM nos dias em que ela estiver de TPM (Acham que a mulherada se aproveita desta famigerada fase para tripudiar? Experimenta passar por uma TPM, experimenta!).
5. Não abaixe nem sob tortura a tampa do vaso (Essa é básica!).
6. Não ligue no dia seguinte, ligue no mês seguinte e dê uma desculpa bem esfarrapada, dando claramente a entender que está subestimando sua inteligência e a chame para sair, afinal você está morrendo de saudades, não é mesmo?
7. Faça-a estar pronta às 21:45 e chegue à meia noite, sem avisar que vai se atrasar.
8. Desligue o celular na sexta à noite e só ligue novamente na segunda de manhã.
9. Desmarque um encontro com ela para ir ao futebol com os amigos.
10. Quando estiver ao telefone com a namorada ou esposa grite:
– Goooool!!!!!
Se sobreviver, comente a experiência...

Wednesday, September 05, 2007

Dois pensamentos, uma história.

De Li de Oliveira

Foi numa dessas noites de inicio do verão. Onde todos se sentiam leves. Felizes por poderem sair das suas casas e aproveitarem a leve brisa que passeia pelas ruas abatendo o calor. Eles haviam se conhecido há pouco tempo, mas a simpatia foi mútua logo de cara. O interesse foi nítido também. Conversaram por telefone algumas vezes. Trocaram e-mails. Enfim, arrumaram motivos desnecessários só para manter o contato. Até que um dia a coragem veio e marcaram um encontro. Um barzinho da moda. Cada um foi no seu próprio carro. Música agradável. Assuntos infindáveis. Risos. Toques que se tornavam involuntários. Para finalmente, o beijo. Beijo que puxou outros beijos e respirar se tornou desnecessário. À noite, terminou no apartamento dele. Perfeita como eles imaginavam. E ela só saiu de lá quando o sol gritava alto.

Após o acontecido...

PENSAMENTOS DE SOLANGE JAQUELYNE:

Burra!! Em vez eu fazer um joguinho... Deixar uma vontade... Nãoooo! Vou logo abrindo as pernas... E Dona Solange Jaquelyne, o que senhora sua mãe pensaria de você agora, heim? Ai será que ele me achou muito atirada!? Claro, que achou!! Até me chamou de vadia! Olhou no meu olho, o que mostra a sinceridade, encheu a boca e disse "Vadia". Ai, ai, ai... Isso deve ser mau sinal. Tudo bem, que logo após me chamou de gostosa. Isso é bom? Isso é verdade? Ele é tão perfeito para mim, eu senti isso!! Senhor, faça com que seja ele! Droga, olha aí, já to apaixonadinha... Eu não devia ter dado! Não devia! Mas foi bommm. Dei mesmo. Sou uma mulher moderna. Mas não devia ter feito. Só que já fiz e agora não tem volta. Bom, se ele não me ligar AMANHÃ, choro um pouco, mas continuo minha vida...

PENSAMENTOS DE NARCISO ANTÔNIO:

Caraca! Que mulher meu, que mulher! Toda decidida pá... Sem frescura. Chegou, chegando e me surpreendeu, heim? A melhor parte, toda timidazinha, escondendo o jogo, chega na hora, opa! Surpresa... Ela vai que vai ! Me lembrou até da Ana Sandrinha.... saudade daquela mulher... Bom, mas vamos combinar, heim, muleke, mandou bemm!!! Noite toda só de boa, me controlando pra dar o bote na hora certa. Aee muleke, mostra como faz! Eu e o "brou", dupla infalível na parada! Só que pensando bem, ela é super gente boa, nem vou entrar numa de zuar com a Solanginha. Curti a noite, e vou querer outra, né não? É... isso aí. Semana que vem ligo pra ela e marco outro encontro. Só que só semana que vem... Essa semana já to pensando naquele outro esquema... Uiii muleke!

Tuesday, September 04, 2007

Casualidade

Cronista Convidado: Maria Izabel

- Você ficou descabelada.
Sorrindo ela passou os dedos pelo cabelo.
Desajeitado ele procurou e tirou do bolso um pequeno pente:
- Ruinzinho mas dá pra usar.
Enquanto penteava os cabelos curtos, ouriçados, sentia os olhos dele. De um jeito tão menino, tão terno.
- Não, assim não. Espera!
E tomando o pente nas mãos se pôs a ajeitar os cabelos dela.
Com gestos suaves, aos poucos, sem se dar conta, desembaraçou-a.

Monday, September 03, 2007

Fim Meio e Começo

De Suzana Marion

Entre o fim e um novo começo, a gente tem que ter um meio, uma pausa onde haja tempo pra cicatrizar as feridas, fazer uma plástica nas cicatrizes ou até cobrí-las com uma tatuagem! O que não dá pra fazer é cutucar a ferida aberta com o dedo alheio!
Quando a gente termina um relacionamento muito longo, acaba levando junto os vícios e costumes para o próximo. Com o tempo esses vícios são diluídos e não fazem tanto peso na nova relação, mas quando é muito recente a gente corre o risco de sabotar tudo, projetando as expectativas frustradas, as manias... jogando no outro a culpa do um!
É claro que existe hipocrisia quando as pessoas dizem “olha lá a Fulana, mal terminou e já está com outro”, porque, em geral, um relacionamento só termina quando não está mais dando certo já há algum tempo. As pessoas tentam salvar seus relacionamentos antes de dar um ponto final, poxa! Mas quando as coisas não vão bem, é sempre mais fácil chegar alguém que resplandeça de tão perfeito, só por ser o oposto daquilo que a gente tinha. E é nessa hora que precisamos tomar cuidado, pra não ferir nenhum coração. Vai que você encontrou o relacionamento ideal dessa vez... será que vale a pena deixar a empolgação te levar ou é melhor ser um pouquinho calculista? E não adianta dizer agora “lá vem a Suzana com a sua habitual frieza para assuntos românticos”, porque se você parar para pensar, vai ver que muitas vezes tentou chegar em Paris com o mapa de Diadema nas mãos. Pensa bem, não é exatamente isso que a gente faz quando emenda os relacionamentos?É por isso que se recomenda um repouso, um resguardo, uma quarentena! A gente precisa se desintoxicar para que uma coisa que pode ser bonita, duradoura, não se torne um arrependimento. Se você conseguir esperar mais um pouco, conhecer o outro melhor, dar um tempo pra você, quem sabe não cai um bilhete de 1ª classe nas suas mãos (com direito a um guia alto, moreno, de olhos verdes), direto pra cidade do amor?

Wednesday, August 29, 2007

Pura Glicose

De Lucimara Paiva

Ontem eu consegui ingerir, no mínimo, 5000 calorias. Uma ansiedade “maledeta”, sabe? Comecei com pão de queijo e só parei de comer às nove da noite: temaki de shimeji e outro imenso de chocolate com morango, passando por bolinho de chuva, torta, trufa, trufa e mais trufa. Resultado? Enjôo tão grande quanto o temaki.
Enjoada de tanto doce e enjoada com a mediocridade que insiste em me perseguir. Forro o estômago com glicose e carboidrato para deixar menos espaço para a estupidez que sou obrigada a engolir.
Comentei, num dos textos que escrevi, que entro num ciclo medonho de ansiedade sem saber a razão. Já descobri. Excesso de gente rasa que pipoca por aí aos montes. Uma mistura indigesta de ignorância, bitola, falta de vontade e inveja.
Se no Mc Dia Feliz eu quiser comer salada, eu vou comer salada. Não entendi porque ficaram tão assustados com o alface que eu comia. Não quero ajudar criancinhas dessa maneira, porque não ajudo pessoas matando bovinos. Não como vaca, obrigada. Sejam felizes com seu “Mc Dia Hipocrisia”, comprando “Números 1” ao invés de Bic Mac, sem saber que desse jeito só estão engordando sem ajudar nem ao menos a abelha que insiste em mergulhar no copo de Coca-Cola.
Se você passa tanta necessidade que chega a não ter o que comer, mas mesmo assim se preocupa com o piso decente que quer colocar na casa que não tem nem reboco, que não quer trabalhar porque demora quarenta minutos de ônibus e que só se mexe para beber, fumar e se drogar enquanto a porra da salvação não cai do céu, sinto muito, vá para o inferno você e sua acomodação e, por favor, desça rolando junto do barraco soterrado. Se você não faz nada para mudar não sou eu quem vai se comover. Se depender de mim, morra na pobreza enquanto dou risadas sádicas.
Se eu farei plástica porque algo me incomoda, garanto que, enquanto você expõe que, o que mais me incomoda, em você é perfeito, só terei uma reação: te chamar de louca invejosa e dizer que precisa de sexo.
Além disso, eu nunca, nunca mesmo, enquanto eu constar na face dessa Terra podre, vou dar atenção para quem grita para ser superior. Seja você cliente, chefe, parente ou namorado.
Amigos, peço desculpas, pois, depois dessa corro o risco de me tornar redundante e cansativa, mas a semana tem sido estressante, fiquei indignada, precisava dividir com vocês minha vontade de virar uma samambaia. Uma planta tem mais razões de existir, menos encheção de saco, menos perguntas e menos fome, porém não tenho opção. Alguém tem uma caixa de bombom aí?

Monday, August 27, 2007

Espelhos d´água

De Luciana Muniz

Muitos dizem que os amigos representam a família que podemos escolher.
Concordo. Escolhemos os amigos por afinidade, já a família é um tanto diferente. Considero completamente hipócrita o pensamento de que devemos adorar aquele primo chato que vive falando mal de tudo e de todos, só porque faz parte de um ramo familiar da árvore genealógica. Claro que nada impede de termos relações cristalinas e gratificantes com pessoas da família, só não acredito em nada que é imposto ou forçado em nome das aparências.
Quer um outro exemplo clássico? A relação com colegas de trabalho. Duvido que haja um ser que se relacione com todos de maneira igual. Na maioria das vezes existe aquele (ou aquela) em que depositamos mais carinho, nos sentimos mais à vontade para comentar as mazelas do dia-a-dia ou mesmo desabafar algo que nos perturba.
E por que isso acontece? Relações são construídas a todo instante, um assunto em comum, uma opinião ou anseios semelhantes são suficientes para aproximar pessoas, mas não tanto para mantê-las em um laço de amizade. O que faz com a amizade prevaleça é uma mistura homogênea de confiança e dedicação.
Nos vemos no outro, ele nos entende e nós o entendemos. Como um espelho d’água, enxergamos no outro um pouco de nós e é essa sensação de que podemos ficar à vontade que propicia, na minha opinião, a construção das relações amistosas.
Quem é que se sente bem na companhia de alguém que nos faz sentir inferior, não entende nossos anseios, ri das nossas dificuldades e parece não compreender nossas motivações?
Obviamente que não estou pregando que um amigo ideal é aquele que concorda com tudo só para agradar. Não, não é isso. Um verdadeiro amigo é aquele que sabe dizer a verdade olhando no fundo dos teus olhos, sem medo de te desagradar, sabe elogiar sem te deixar fora da realidade e torce pelo teu sucesso.E claro, não desaparece nos momentos de turbulência...

Friday, August 24, 2007

Ventríloquo de sabonetes

De Marcelo Ferrari

Poeta: Vem! Vamos aprender, fala comigo: a-r-t-e
Sabonete: D-i-n...
Poeta: Não! Dinheiro não! A-r-t-e
Sabonete: D-i-n-h-e...
Poeta: A-r-t-e! A-r-t-e! A-r-t-e!
Sabonete: D-i-n-h-e-i...
Poeta: Ai, ai, ai! Dinheiro não! A-r-t-e!
Sabonete: A-r... A-r... A-r...
Poeta: Isso mesmo! Continua: A-r-t-e!
Sabonete: A-r.... A-r... Arame, bufunfa, bronze,capim, caroço, cobre, dimdim, ferro, gaita, grana,jabaculê, jimbra, legume, massa, metal, milho, níquel,numerário, óleo, ouro, pataca, prata, pagode, tacho,teca, tostão, tutu, tuncum, verba, zinco...

Thursday, August 23, 2007

Possibilidades

De Tiago Abad

Desafiar parâmetros, mudar regras, buscar provas... cada um que cuide do seu e cada um que vá atrás do seu conhecimento. As regras são claras, mas nem sempre precisamos seguí-las. Claro, desde que não seja prejudicial pra saúde, que não seja perigoso a alguém e que não tenha efeito destrutivo à nação.
Colocar em prática tudo aquilo que vem à mente, desde aquelas que parecem inúteis ou ao menos que aparentemente não tenham sentido. Já diria o filósofo: "Quem não arrisca, não petisca". O ato de arriscar não prevê momento, não tem hora marcada e muito menos regras. Arrisquei, chutei e é bem provável que acertei... em algum lugar, nem sempre o chute vai no lugar certo. Mas como se tratam de tentativas, o erro, às vezes, pode ser acerto.
O que é acerto, o que é erro? Quem ganha, quem perde? Somei, subtraí ou dividi? Questões dificílimas que se o Silvio Santos tivesse pensado na época camelô de ser, não teria arriscado absolutamente nada, assim como o senhor Casas Bahia.
Estou fazendo uma confusão de palavras pra arriscar falar algo hoje. Não tenho motivos pra dizer algo, muito menos pensar a respeito de uma coisa útil, portanto, estou arriscando... vai saber se este texto não é o que alguém gostaria de ler agora, neste momento.

Wednesday, August 22, 2007

OUÇA... (um conselho)

De Li de Oliveira

Talvez você não se dê conta de o quanto se tornou uma ilha, rodeada por um mar de pessoas. Um mar de problemas. Um mar de coisas imaginárias que você criou em sua solidão. Você vai para sua faculdade, seu trabalho no automático e mal se dá conta da vida que acontece em sua volta. A cada segundo.
E então olhando esse quadro que você e eu insistimos em pintar em nossas vidas, me dei conta, tive a brilhante percepção que existe um culpado para tudo isto!
Ele que anda roubando nossos pensamentos, desviando nossos olhares para um profundo nada. Porque assim estamos, uma legião de pessoas nos movimentando com os olhos presos ao léu. E olha que o Leo, nem é aquele cara saradão da academia.
Hoje em dia ninguém mais conversa. Não falamos de política, tempo, sexo, drogas ou rock'n roll. Não falamos “bom dia” para as pessoas que estão em nossa volta. E se falamos, não ouvimos a resposta. O mundo anda anti-social, e a culpa disto? Oh claro, tenho certeza que é dele!
Ah, maldito seja! Agora eu percebi a lavagem cerebral que sofremos e quantos escravos estamos nos submetendo ser. Será que você não percebe? Não se dá conta de quão fantoche é? Todo palhaço falando sozinho uma língua desconexa que só você sabe do que se trata. E balançando o corpo em um transe que acha que ninguém percebe. E, claro, ninguém percebe mesmo porque cada um está em seu próprio estado zumbi.
Seu mundinho pequeno com seus ouvidos tapados não se dá conta que a tecnologia está a te engolir. Acorda Maria! Acorda João!
Alow!!!!!!!! O inimigo mora ao lado. Ou melhor, mora dentro! Dentro da sua casa e como um diabinho sussurra: "Ouça-me e fique alheio ao mundo. Ama-me e não escute a mais ninguém..." E então você se rende. Porque tudo soa como música aos seus ouvidos...Conselho de amiga? Livre-se do seu Ipod.

Tuesday, August 21, 2007

Uma imagem vale mais que mil palavras

De Thiago Fabrette

Será?

Essa semana, em meu curso de fotografia, assisti um filme muito interessante que tem como tema “a janela da alma”. Contava como as pessoas viam o mundo, mesmo a partir de dificuldades.
Hermeto Pascoal, por exemplo, tem um sério problema de vista. Os olhos dele dançam, de um lado para o outro. Mas isso para ele não é um problema. Tem solução, cabe uma operação, mas para ele, isso não é um problema, na verdade, ele até gosta muito.
Outro personagem: um fotógrafo cego. E que fotografa utilizando uma máquina antiga, que usa ainda filmes para registrar. E... ele fotografa!! E fica muito bom!! Ele afirma que se não fosse cego, ele não poderia fotografar como tal.

Eu me identifiquei com uma cena em particular com o Saramago. Ele cita o livro “Ensaio sobre a Cegueira” e conta um pouco como desenvolveu a idéia, olhando da Janela da Alma (nossos olhos) para fora e também, para dentro.
A partir desse filme, depois de assistí-lo e de me impressionar muito com esse pedaço em particular, foi pedido um exercício sobre minhas impressões, obviamente, registrado em fotografia. E vou tentar aqui, desmistificar que uma imagem vale mais que mil palavras.

Menos de mil palavras explicam uma imagem? DESAFIO. Até aqui, 221 palavras.

Olhei para dentro. Olhei e vi o que é o Thiago de agora. Olhei e vi uma enorme confusão, um turbilhão de coisas, medos, tensões, milhares de pressões, milhares de coisas, e eu ainda sobrevivendo, tentando e conseguindo me destacar dessas pressões, medos e tais, subindo, me expressando através da arte, reencontrada. A fotografia e os textos.

Dá pra imaginar a fotografia que eu fiz? Obviamente, a fotografia que eu elaborei é um conceito.

Uma que mostrava exatamente isso, e o fiz, colocando diversos objetos em uma mesa, bibelôs, isqueiros, moedas, controle remoto, balas de revólveres, adoçante, um dedo de plástico, remédios, cada qual, em confusão, em cima de um jornal e, ao centro, um boneco com um violão, com o rosto iluminado, se destaca dos objetos confusos. A imagem é propositalmente soturna. O fundo é negro, completamente, para aumentar a sensação de escuridão da alma e, à esquerda, aparece uma pequena janela, que é a saída disso tudo, com a imagem do quadro “o grito”.

394 palavras. Expliquei tudo? Consegue imaginar? Esse meu desafio demonstra tudo o que eu queria?

Talvez em uma foto-conceito, que quer somente transmitir uma idéia, isso realmente consiga ser explicado em menos palavras, mas, em uma foto diferente, técnica ou não, em cores, em sentimentos, nada disso se consiga traduzir em palavras.

O resultado desse meu desafio? Simples, essas são duas artes complementares e não, inimigas, como a frase em questão me faz parecer.

Uma imagem vale muito mais se acompanhada de 1000 palavras. E vice-versa.
(470 palavras)
(Quem quiser ver a foto, me manda um e-mail, ok? fabrette@multiclube.com.br)

Monday, August 20, 2007

Caixas de Pandora individuais

De Suzana Marion

Hoje eu preciso falar de luto, mas luto pra mim não é apenas a dor da perda para a morte, é a dor da perda ponto. Ultimamente tenho visto muita dor, muito luto e vivido as minhas próprias perdas. Mas como sou a favor de sofrer tudo de uma vez, até a última gota, não vejo sentido em guardar a dor numa caixinha lá no fundo e viver como se nada tivesse acontecido, porque a caixa se abre no momento mais inoportuno, como se a avó caduca do seu namorado, ou aquele tio inconveniente, resolvesse perguntar sua idade ou seu peso no meio do almoço de domingo.
Você acha que eu pareço louca por querer sofrer de uma vez? Mas você conhece a história da caixa de pandora, não é? Todas as dores do mundo estavam numa caixa até que Pandora foi induzida a abrí-la. Então, quase todos os males foram liberados de uma só vez e, se não fosse o medo de Pandora, o último mal teria sido liberado e aí já era a esperança, já era o nosso mundinho! Pois é disso que eu estou falando, de acumular toda a dor e toda a mágoa e depois começar a chorar assistindo comercial de margarina! De fingir que nada aconteceu e depois perder o controle numa discussão sobre o sabor do pastel na feira. Estou falando de perder o seu filho ou seu pai e não dar o tempo devido ao luto, tornando desastroso o nascimento de um novo filho ou o relacionamento com a sua mãe, por exemplo.
E agora alguém pode pensar: “falou a psicóloga”, “falou a dona da verdade”, mas não é essa a minha intenção. O que eu quero mesmo é tentar tirar de dentro de mim a tristeza que eu sinto pelos outros, porque senão eu não posso ajudar. O que acontece no Admirável Mundo Novo de Huxley não acontece com a gente. As pessoas ali eram condicionadas a ver a morte como ganho e não como perda, tinham a crença de que todos eram células do corpo e você não chora quando faz esfoliação, certo? Mas a nossa visão é de que somos um corpo, e o corpo todo sofre quando se perde um membro. O mais perto que podemos chegar daquele desprendimento está em algumas religiões e culturas, como por exemplo o Shivah dos judeus, mas não deixa de haver tristeza e sofrimento, mesmo que haja algum tipo de celebração.Assim, se eu pudesse, aconselharia a todos a não trancar suas dores e medos, pediria pra lutar até superar, pra só então se ver livre das amarras, dos erros cometidos e das fatalidades dessa vida. Quero que o luto vá embora e que você viva.

Wednesday, August 15, 2007

Enjoy the silence

De Lucimara Paiva

Sabe aquele dia em que a cabeça simplesmente não funciona? Pois é, não estou conseguindo escrever e qualquer tentativa não passaria de um texto chato. Hoje é um daqueles dias em que não tenho vontade de saber de absolutamente nada.
Não quero saber se tem cliente surtado pra variar, se tenho que comer, se a garrafa de água está vazia e que por isso estou com sede. A preguiça é maior.
Foi uma luta para conseguir acordar. A mente mandava, mas o corpo não respondia e ao invés de as coisas serem feitas rapidamente, pois eu já estava atrasada, fiquei enrolando, enrolando, enrolando.....Talvez estava esperando o ânimo chegar. Não chegou e me arrastei até aqui. Só o corpo, que fique bem claro. A mente se perdeu pelo caminho, não sei onde ela está, pois são tantos caminhos que resolvi deixá-la escolher para onde ir.
Não quero saber se você é um doente que me cobra pelos meus sumiços, mas quando eu resolvo aparecer, some também. Se você persegue cada passo meu apenas porque sente que me possui como possui um vaso. Se eu, às vezes, sinto que vou explodir de tanta saudade e fico me sufocando com mil mensagens de celular. Se vou quando você chama e me encolho quando você vai embora. Se fico nessa espera insana sem saber quando e onde vou parar. Teste para ver quem é mais idiota?
Não quero saber se tenho que usar protetor por causa das rugas, se alguma vez me arrependi, se magoei, se fodi a vida de alguém.
Não sei se sou adequada, se o guardinha lá da minha rua fica curioso sobre o que eu faço da vida toda vez que chego em casa, se eu tenho que parar de usar tênis e passar a usar scarpin para parecer comportada e não a Avril Lavigne depois da gripe.
Cansei de ser uma chata reclamona que supre a carência com uma caixa de chocolate e que acha que ser do contra é lindo. Lulu, meu amor, mais fácil ser só mais uma. Aí é só começar a dar para “só mais um”. Será uma foda “só mais uma”, que renderá uma história “só mais uma” e se der algum problema a resposta estará no orkut. Só que eu não quero mais saber de orkut e deletei tudo.
Também não estou com a mínima vontade de falar. Língua com preguiça, já viu? Acho que meu corpo está parando aos poucos, e só por hoje vou deixá-lo assim, inércia pura.
Só por hoje quero ser alienada, entende? Alienada sobre o mundo, alienada sobre essa realidade podre que me dá vontade de vomitar a cada meia hora, sobre gravatas, sobre ternos, sobre regras, tanto que parei de passar chapinha e tinta na cabeça. Alienada sobre você que brinca de esconde-esconde comigo só para suprir teu ego sádico, alienada sobre minhas escolhas e minha angústia sem fundo, sobre como serei quando não tiver mais tanto cabelo assim. Não consigo responder se acho mesmo que meu cabelo combina com minha cara, muito menos se meu nome combina com o resto do corpo. E se fosse Júlia, Bárbara, Hermenegilda? E se o cabelo fosse curto e loiro? E se eu fosse magérrima e não tivesse essa bunda grande?
Não quero mais saber porque palavras são desnecessárias, não quero saber por que quanto mais eu falo mais eu me arrependo, e por que cada vez que fico quieta, me arrependo por ter ficado engasgada. Então parei de pensar. Nem adianta tentar me dar opinião, não quero ouvir, além disso, como diria Raulzito, pegue toda essa opinião que você tem formada sobre tudo e enfie no meio do olho do teu cu. Farei algum esforço para ouví-lo quando seus próprios conselhos servirem para você, caso contrário, muito obrigada, enlouqueça sozinho, pois só por hoje não quero saber.

Monday, August 13, 2007

Aos 13 de agosto

De Luciana Muniz

Acordou com azia. Mais um dia de trabalho. Aquela semana não acabava nunca? Chegou atrasado para a reunião de líderes, justo a que o diretor da sua área compareceria. Dez minutos antes, perdera a vaga para um engraçadinho que se fingiu de morto e estacionou primeiro. Ele teve o ímpeto de fazer o fingimento se tornar realidade, mas desistiu da idéia porque sabia que já estava atrasado e não queria se tornar um homicida e um desempregado no mesmo dia.
A reunião não poderia ter sido mais terrível, um verdadeiro show de horror, o diretor era tão polido quanto um mastodonte e (pior!) tinha a plena certeza de que era a versão melhorada de Maquiavel nos planos estratégicos. Lamentável...
Quando olhou no relógio já eram duas da tarde e nada dele poder sair para almoçar e respirar um pouco. Então, já que o almoço tinha ido para as cucuias, resolveu sair tão logo as dezoito horas chegassem.
Anoitecia quando pisou na calçada, deu um longo suspiro. Que dia!
Manobrava o carro quando se deu conta de que havia esquecido o celular em sua mesa, voltou para buscar rapidamente.
Minutos depois, um tanto cansado, entrou no carro e não percebeu que haviam aproveitado sua distração.
Parou no farol vermelho e ao olhar no espelho percebeu que não estava sozinho. A primeira reação foi de incredulidade, não entendia como alguém tinha entrado em seu carro. Mas assim que sentiu o canivete em seu abdômen, se lembrou de que deixou a porta do carro destravada, confiante de que não demoraria na operação de ir e voltar.
– Entra à esquerda na próxima rua e nem um pio, senão te furo!
– Ca-calma... Já estou entrando... Mas é uma rua sem saída...
– É esta mesmo!
Chegando na ruazinha mal iluminada, agilmente escolhida pelo ladrão, sentiu que assim como o dia, a noite também seria longa. O larápio exigiu que ele saísse do carro e deixasse tudo, celular, carteira, documentos e até o paletó. Pensando bem, a gravata também era bonita...
Obedeceu a todas as exigências sem protesto algum, já tentando buscar na memória os números de telefone do seguro.
De tão obediente que fora, o ladrãozinho de voz fina desconfiou de suas intenções e tratou de retardar a sua busca por qualquer tipo de ajuda.
Saiu decidido do carro e então ele pôde ver que o assaltante era bem alto e corpulento, forte demais para uma briga justa, além de estar com um canivete.
Quando o assaltante saiu da viela com os pneus cantando, ele estava caído no chão com um corte não muito profundo na barriga, mas o suficiente para sangrar e apavora-lo. Sentia uma dor muito fina no local atingido e por conta disso não conseguia andar. Teve que quase se rastejar até a avenida mais próxima e implorar para que o ajudassem. Os transeuntes andavam apressados e não queriam se envolver. Só depois de quase meia hora uma senhora parou e o ajudou a chamar um táxi.
O caminho para o hospital foi um capítulo à parte. Os minutos não passavam e os segundos desfilavam vagarosamente pirracentos, gozando de sua dor. Suava frio. Perdia sangue. Estava exausto.
Quando enfim chegou ao hospital, foi medicado e levou os pontos necessários. Foi liberado em seguida, com uma receita repleta de remédios e recomendações.
Agora a segunda parte. Avisar a seguradora do roubo do automóvel e em seguida procurar uma delegacia para o boletim de ocorrência. Com a seguradora foi relativamente rápido, sem contar os quarenta e cinco minutos de espera ouvindo musiquinha. Mas na delegacia... A espera foi grande, o delegado estava em uma mega operação para prender uma quadrilha de assaltantes que estava lhe tirando o sono desde Abril. Do ano retrasado.
Quando chegou em casa e finalmente foi dormir, eram exatamente vinte e três horas e cinqüenta e oito minutos. Foi então que se deu conta. Faltavam dois minutos para o seu aflitivo dia acabar. Era uma sexta-feira, 13 de Agosto.

Thursday, August 09, 2007

Problemas encontrados em uma lata de refrigerante

De Tiago Abad

Apresentarei agora oito problemas encontrados nas latas de refrigerante. Não gostaria que pensassem que não tenho nada pra escrever, mas gostaria de uma oportunidade em fornecer mais um pensamento sobre utilidade pública.
1. O anelzinho entra no vão da unha, dói pra caramba.
2. Se o anelzinho quebra, antes de abrir a lata, fudeu. Você terá que meter o dedo dentro da lata, e possivelmente acaba de ganhar um cortinho, que arde pra caramba.
3. Enquanto você bebe, sempre fica um restinho envolta da boca da lata. Aliás, cuidado, ao menor descuido, pode cair na roupa. Digo isto, pois se você estiver em uma festa e a mancha na roupa estiver presente, você acreditará piamente que todos estão te olhando.
4. As latas estão cada vez mais finas, se caso você têm manias de amassar a lata enquanto conversa, ela corta e aí já sabemos, ocorre o mesmo problema da situação "3".
5. Dizem que pode ter xixi de rato na boca da lata, nunca ouvi dizer que alguém morreu ou está doente por causa disso (sempre lançam boatos pra evitar a possibilidade de o cara ser pobre, morar do lado de um esgoto à céu aberto e numa enchente ter ficado doente).
6. Se você estiver puto e jogar em alguém, alvo de sua putisse, não machucará, procure algo mais pesado.
7. É um material reciclável, mas, dificilmente você encontra um lixinho para materiais recicláveis, logo, você poderá ficar com a lata o dia todo nas mãos.
8. Jamais (eu disse Jamais!), deixe a lata no sol com o refrigerante (o efeito produzido por esta combinação é similar ao da ingestão de um lacto purga).
Claro que temos vários problemas em vários produtos, mas como consumidores, consumíveis, precisamos avaliar as embalagens também, e olha que nem comecei a falar sobre embalagens de molho de tomate, por exemplo.

Wednesday, August 08, 2007

Crise Aérea

De Li de Oliveira

Lady Leydiane mal podia crer em sua falta de sorte. Suas mãos estavam geladas e tremulas e seu pensamento ia longe... Voava! A propósito, pelo visto é a única coisa que poderia voar ali. Estava ela no aeroporto de Guarulhos, a espera do seu vôo. Vôo que estava atrasado.
Essa seria no mínimo a viagem dos seus sonhos, estava a caminho de Porto Seguro, para conhecer Jorge Welson, o homem da sua vida. Há três meses eles teclavam pela internet, se conheceram na comunidade do Orkut “Românticos Assumidos”. E o amor havia nascido assim, à distância. E agora, finalmente o conheceria pessoalmente! Mas e este vôo??
Olhou mais uma vez o painel... E nada. Nem sombra que seu vôo sairia. Pensou comprar uma revista para se distrair. Enquanto olhava as manchetes, decidindo qual levaria, uma voz surgiu aos seus ouvidos.
- Aposto que a guria vai morrer para que tenha assunto para o resto da novela.
Lady Leydiane olhou para um lado, para o outro e ninguém estava tão próximo para que o comentário pudesse ser com outra pessoa. Mirou o homem a sua frente, era loiro, de porte atlético, olhos claros. Sim, ele era bonito demais, porque falava com ela?
- Desculpe, tu não sabes que estou tão cansado de esperar meu vôo, que acho que se não conversar com alguém enlouqueço. Prazer sou Sandro Anderson.
- Oh, prazer, sou Lady Laydiane. Seu vôo também está atrasado? Bom, isso não é novidade. – Ela riu tímida.
- Ah estais no mesmo barco? Ou melhor, no mesmo avião? Ou melhor, avião é que não estamos mesmo, não é?
- Verdade, avião é o que está bem difícil para estar ultimamente. Para onde vai?
- Sou de Porto Alegre, sabes. Mas vou a Belo Horizonte a negócios. Isto se esse negócio aí resolver levantar vôo.
Mais uma vez ela riu, desta vez mais largamente, ele era extremamente agradável. Além de inegavelmente bonito. Estava sendo muito bom poder contar com esta companhia tornando os momentos de aflição, em leves sorrisos.
- Ah, eu estou indo para Porto Seguro, mas farei escala em Belo Horizonte. Você vai de PAM?
- Não! Com os últimos acontecimentos... PAM é o que ela faz quando chega ao chão. Não, meu vôo é o KY 6969. E o seu?
- Sério? Também irei neste!
- Oh pelo menos teremos companhia até o vôo sair. Você não fugirá antes de mim.
- É ... parece que não...
- Mas então, vai morrer?
- O que??????
- Calma! A guria da novela, estas para morrer para que haja vários suspeitos.
- Nossa, que susto Sandro Anderson, não pode falar assim em um aeroporto! – ela não conseguia parar de sorrir para ele.
- Guria, se continuar a sorrir assim, não me importo de chegar em Belo Horizonte amanhã.
A conversa fluiu durante toda a espera, durante todo o vôo. Inclusive, Lady Laydiane segurou a mão de Sandro Anderson bem apertada ao levantar vôo. E sentiu um aperto, não pelo avião que subia e sim no coração. Quando chegou em Belo Horizonte, tinha descoberto novos caminhos e sentidos a sua vida. O que pensava que era amor, não era. Tudo fez um sentido muito maior ao conhecer Sandro Anderson. Então, limitou-se a mandar uma mensagem de texto a Jorge Welson: “Jorge Welson não me espere mais, no aeroporto eu entendi o conselho da ministra. Vou segui-lo!”.

Tuesday, August 07, 2007

Toda vez

De Thiago Fabrette

Toda vez que eu como um pedaço de carne, eu contribuo para o aquecimento global – a flatulência do gado é um dos maiores causadores do efeito estufa...

Mas toda vez que eu fecho a torneira para escovar os dentes ou lavar a louça,
Eu economizo água, uso menos produtos, enfim – os reservatórios de água e hidroelétricas são grandes responsáveis pela emissão de gases estufa.

Toda vez que eu vejo passar um avião, eu penso no presidente e nos motivos que me levaram a votar nele – se há dez meses, o caos aéreo é notícia na primeira página de todos os jornais, como ele não sabia?

Mas todas as vezes que eu vejo TV, eu penso – e essa corja completa? Quem daí se salva? Quem daí merece meu voto? – São todos, sem exceção, participantes, omissos ou não, desse sistema podre.

Toda vez que eu venho de carro para o trabalho, eu emito sujeira preta do meu pneu, emito gases estufa, contribuo para o trânsito caótico, contribuo para a redução da qualidade de vida em São Paulo...

Mas toda vez que eu pego o Metrô, eu vejo os trabalhadores ameaçando greves, eu fico inseguro de levar um Laptop, perco precioso tempo parado esperando, esperando...

E toda vez que eu olho pra mim no espelho, eu vejo um garoto ficando velho, sem passar pela fase adulta – Estou envelhecendo fisicamente, mas mentalmente, ainda me sinto um garoto, quero pular, correr, cometer irresponsabilidades...

Mas toda vez que eu me atraso pro trabalho, eu fico ansioso, acho que o mundo vai cair, irresponsabilidades não fazem mais parte desse garoto – adulto.

E toda essa história de “Toda vez” e “Mas toda vez” quer dizer uma coisa só: cadencio a minha vida por mim mesmo, sem pensar à minha volta. E toda vez, tenho que estar alerta para tudo, sempre em movimento, sempre preocupado.

Talvez por isso, toda vez que eu estou com meus amigos, em uma praia, sossegado, eu precise extravasar, beber, fumar, correr, gritar, dançar e me divertir ao extremo.
Porque toda vez, eu preciso esquecer o que é o meu dia-a-dia, toda vez.

Monday, August 06, 2007

Eu preciso

De Suzana Marion

Espelhos, mídia, gente. Eu já me perdi muitas vezes no meio dessas vitrines ambulantes que passam no meu nariz. Marcas e modas, todo tipo de conceito que já vem pré-moldado, que é só vestir para entrar na moda.
Ônibus, shopping, escola. Preciso de um sobretudo... Que celular lindo! Ah, eu quero! Preciso de uma bolsa nova e meus sapatos já estão tão antigos. Queria um perfume destes...
Mas não posso esquecer da minha frase preferida: “Eu seria feliz se ganhasse um Peugeot 206 cc!” Quantas vezes não torci o pescoço pra sonhar mais um pouco com aquela visão do outro mundo? Realmente um sonho!
Mas será que eu seria mesmo feliz, se por mágica (quem sabe um gênio da lâmpada), todas as vezes que eu dissesse “eu preciso”, surgisse na minha frente o objeto do meu desejo?
Quem sabe se eu tivesse um rompante de benevolência eu às vezes dissesse “ele precisa”? Para falar a verdade, no meio de todo esse entulho e lixo do consumismo que já nem dá prazer, o que mais eu preciso é deixar pelo menos por um dia de dizer “EU PRECISO!”.


*Resolvi publicar em comemoração ao meu “destrancamento” de matrícula e a volta às aulas hoje à noite. Escrevi este textinho em 2005, nos primeiros dias da faculdade. A professora que solicitou era uma daquelas pessoas beeem alternativas e eu pensei que ela fosse me expulsar da sala por excesso de consumismo! Mas que nada, consegui um 9,5 pro meu grupo! Como é que eu podia imaginar?

Friday, August 03, 2007

Para quê Brasil?

De Leandro Molino

Inicio a crônica desta semana já alertando: sei que irão me rotular de louco, racista, não-patriota, “anti-nordestino” e sei lá mais do quê. Adianto aos leitores e amigos que visitam esse espaço na “net” que aceito qualquer crítica, mesmo as mais duras, respeitando todas as opiniões. Mas tentem, ao menos, compreender em todas as nuanças o texto que se segue. Ele não se esgota em si próprio, pois pretende tão-somente instituir uma determinada discussão. Não sou santo, sequer o mais paciente e sábio dos homens. Todavia aprendi, com a mestra Vida que um dos primados da convivência é respeitar, principalmente os ideais dos outros. Isto posto, vamos ao texto. E seja o que Deus quiser... O seu título já sugere o roteiro que se seguirá: questiono para que serve esse trem chamado “Brasil”. Desde a formação deste País, em nenhum instante de sua história foi possível afirmar que esta nação encontrou o norte do desenvolvimento, elemento realmente capaz de dissipar, no que é possível, a mazela da pobreza, da ausência de educação e de cultura. Desde a sua “descoberta” (alguém ainda acredita na história do Cabral?), nosso País sempre foi administrado de maneira inteiramente equivocada, em razão da evidente falta de sensibilidade de nossos governantes. A inteligência dos nossos “administradores públicos” jamais atingiu este estágio, o da sensibilidade política e o do sentimento de servir à maioria e não aos interesses de seu grupo ideológico. Como sempre serviram aos interesses menores e pertencentes a uma minoria, os nossos “homens públicos” conseguiram gerar um povo individualista e receoso, desconfiado, especialmente no que concerne às divisões geopolíticas do País. Temos a sensação de que sempre está faltando alguma coisa para esse País “dar certo”. Desse modo, os devaneios administrativos que marcam a nossa História, desde as Capitanias Hereditárias, serviram para gerar o comportamento que até hoje nos caracteriza: o da segregação social. Somos racistas? Creio que sim. Mas em nossa sociedade, um outro comportamento ganha força dia-a-dia. Sejamos brancos ou negros, amarelos ou vermelhos, ou qualquer outra tipificação que seja inventada, em sendo brasileiros, somos, sim, “classistas”, pois discriminamos quem não detém ou dispõe, independente da cor da pele deste sujeito desventurado. Valoramos mais os que têm, não os que são. E, desta forma, valoramos mais o que temos e não o que somos. Nós, que habitamos a porção Centro-Sul do País, valoramos as nossas características, as nossas conquistas, a nossa historia. Os habitantes do Norte, idem. E o mesmo ocorre com os da região Nordestina. A denominada “história do Brasil” é, em verdade, uma colcha de retalhos. Nem mesmo com relação aos chamados “fatos históricos” há unidade, concordância. Daí calha a seguinte questão: somos, de verdade, um povo? Dispomos dos mesmos caracteres genéticos, culturais e comportamentais? E se não somos mais (ou nunca fomos) um povo verdadeiramente, necessitamos viver em um único País, “sobre o mesmo teto”? Hodiernamente, somos uma nação até mesmo em decorrência das questões legais: somos a República Federativa do Brasil, composta por vinte e sete estados agrupados em cinco regiões geopolíticas. E daí? Ser uma nação meramente do ponto de vista jurídico não nos torna um povo, unido pelo orgulho de sermos iguais e de determos os mesmos escopos. A principal causa da pobreza nordestina se dá pelo fato de o Nordeste pertencer ao Brasil. Loucura da minha parte? Se o Nordeste pudesse se separar do País, não existiriam mais as tão mal-afamadas verbas da “Indústria da Seca”. E o Nordeste poderia ser um País rico e vigoroso, produtor e exportador de frutas de qualidade, de vinhos nobres, detentor de uma pujante indústria do turismo, tão ou mais rica do que qualquer outra, oferecendo aos seus visitantes belezas naturais inimagináveis. As riquezas produzidas pelo Nordeste seriam administradas pelo seu próprio Governo, constituído lá mesmo, sendo destinadas a suprir as suas reais necessidades, não as necessidades que um engravatado, há mais de 800 km de distância, imagina existirem. Todos nós que vivemos no eixo centro-sul do País acreditamos, piamente, termos as respostas para todas as questões que afligem os nordestinos. Quanta presunção! E esse comortamento E o Norte do tal “Brasil”? Quem consegue, de fato, administrar e atender as necessidades de um povo que habita a maior reserva florestal do planeta? Seria alguém sentado à frente de um computador distante 1000 km da Selva Amazônica? A cada dia, ficam mais evidentes as discrepâncias deste País, onde cada vez mais há desunião ao invés de unidade. As demandas das Regiões Norte e Nordeste são absolutamente distintas entre si e entre as das outras Regiões do País. E em razão da vigência de um sistema absurdo, quem “sustenta” este País são as Regiões mais desenvolvidas. A que preço? Será que os habitantes destas regiões (supostamente) mais desenvolvidas concordam em verificar que seus impostos e taxas não lhe sejam direcionados, retornados? E será que este sistema é verdadeiramente capaz de fazer com que as regiões menos desenvolvidas um dia se desenvolvam social e economicamente? Como se percebe, do ponto de vista da lógica, não há qualquer razão para que os atualmente brasileiros se submetam, placidamente, a algo que não funciona. Nunca funcionou. Questões de soberania internacional? As “forças” que um País de grandes dimensões disporia no universo globalizado de hoje? Para estas duas questões, há controvérsias, até porque a Europa é pulverizada por diversos povos e Países. E é forte, muito forte. O que é certo, de fato, é que o mundo mudou e muda cada vez mais rapidamente. Da mesma forma, é certo que somente a partir de educação e cultura é que um povo ascende econômica ou socialmente. Errar uma vez é absolutamente humano. Mas insistir no erro, não. É doentio. Sádico. Errou-se ao pensar, ao projetar o Brasil? Sem dúvida. Então por que não mudamos tudo?

Wednesday, August 01, 2007

Ela está logo ali

De Lucimara Paiva

Temos a mania de querer saber sobre tudo, ter certeza de tudo. A sensação de controle só vem dessa maneira. Quando antecipamos, nos sentimos preservados. O “quase”, o “talvez”, o “como será” gera angústia. Apesar disso, quando temos a única real certeza, preferimos negá-la.
Eu tenho medo de morrer. E você? Se não conseguir responder, entenderei. Mas vamos morrer, sinto muito. E só de pensar nisso já senti uma pontada aqui dentro. Eita, sensação horrível. Deve ser por isso que caço assunto e fico ansiosa quando me sinto limitada. É a inútil tentativa de fazer o máximo em pouco tempo.
Você poderia estar dentro do “avião surfista”.
Poderia estar dormindo dentro do ônibus bem na hora em que uma carreta cheia de concreto quase passou por cima do mesmo gerando um engavetamento na estrada.
Você poderia estar naquele acidente de carro ou ser o escolhido por um delinqüente inexperiente - pois aqui no Brasil agradecemos quando os bandidos são “profissionais” – que só quer fazer maldade e que mantém tua vida num gatilho.
Nesse exato momento em que estou digitando esse texto, o prédio poderia pegar fogo. Na hora do almoço uma bala perdida pode me atingir ou posso comer comida estragada e morrer de infecção generalizada.
A opção de viver ou não também poderia ser minha, no caso de ser seqüestrada do nada, e na hora em que o infeliz dissesse “Tire a roupa, gatinha, vamos nos divertir um pouco já que você é pobre.”, a minha resposta imediata seria “Desculpe, você vai ter que me matar antes.”.
A morte pode ser trágica, estúpida, rápida, dolorida, lenta, silenciosa, mas sempre será inesperada. Mesmo que você seja um velhinho “da hora”, que não tenha sido ruim para ninguém e tiver 95 anos, a certeza que você pode sumir de repente, vai deixar alguém muito triste. As sensações de fragilidade e perda são indescritíveis. Nem vou comentar muito, pois vira clichê redundante.
Ê, Dona Cida, como queria que você estivesse aqui. Lembro que você sempre dizia que queria me ver casando. Lembro que você escondia as balas Soft, fazia minhas mamadeiras, me dava água com açúcar quando o tio Beto me assustava, lembro de você toda vez que vejo aquela foto do meu aniversário de quatro anos. Seu olhar meigo era único. A saudade também é, sempre foi. Assim vamos seguindo entre perdas e superações, sabendo que nunca será a mesma coisa. Só queria pedir para ver minhas tatuagens ficando enrugadas e meus netos brincando com cachorros e perguntando porque a avó deles é rabiscada. Queria pedir para conhecer tudo o que eu tiver vontade e para morrer dormindo quando mais nada for novidade. Não dá, né?
No fim, acabo tendo certeza que é melhor negar essa única certeza. Não é conformismo, é que dói menos.




PS: Eu disse velhinho “da hora” porque, como citou Fernanda Young, não é porque você é idoso que vai ganhar uma áurea de anjo e todas suas ”filhadaputices” serão esquecidas, pois nesse caso, meu caro, todo mundo vai querer que você morra sim.

Tuesday, July 31, 2007

Dorabella

De Fernando Alonso

Já se passaram 7 noites desde a gente foi pega, eu e minha irmãzinha. Me lembro bem, como se fosse ontem. Nunca senti um pavor tão grande! Eu sou mais nova que ela. É, a gente estava perto do Shopping. Como chama mesmo? Ah, Interlagos. Brincávamos no estacionamento quando nossa mãe lembrou que não tinha pago o ticket. Pediu para Clara (a Clarinha, minha irmã!) que a gente esperasse ao lado do carro. Foi quando um moço moreno grandão chegou e puxou ela pelo braço. Ela me segurou forte e juntas fomos levadas por aquele homem de nariz achatado. Ele tinha cara de mau, dava medo!

Ele tapou a boca de Clarinha enquanto nos arrastava para um carro amarelo, bem feio. Ela tentava gritar, mas não conseguia porque a boca continuava tapada. Eu gritei, mas ninguém ouvia! Ele então me jogou no banco de trás, e depois foi a vez de Clara. Ela estava muito assustada e ficava me apertando enquanto chorava. Eu também estava com medo, mas Clarinha me apertava tanto que eu nem conseguia enxergar nada!

Andamos por um tempão, e não sei bem por onde. O carro balançava muito e é difícil quando se é pequena conseguir enxergar pelo vidro do carro! E também a Clarinha não conseguia prestar atenção em nada, porque só chorava e me apertava o braço. Mas tudo bem, eu me sentia melhor, porque também morria de medo!

De uma hora pra outra o moço parou o carro. Ele desceu e fechou a porta. A gente tava num lugar muito feio e fedorento perto de um riozinho pequeninho, bem escuro e com um monte de casa feia em volta, parecia que não tavam prontas. Tem um monte de lugar assim em São Paulo né? Aí depois que ele terminou de conversar com outro moço ele voltou. Abriu de novo a porta e mandou a Clarinha calar a boca, senão batia nela. Eu fiquei com tanto medo que nem tentei falar mais nada depois disso.

Então o carro começou a andar de novo e aí a gente foi até o final da rua de terra. Chegando lá, o moço desceu e pegou Clarinha de novo pelo braço. Ela gritou por mim e ele deixou que ela me segurasse novamente pela mão. Estranho, o homem não tava nem aí pra mim, só pra Clarinha. Fiquei com medo por causa dela.

Bom, ele levou a gente pra uma daquelas casas bem feias. Lá abriu uma porta com cadeado e nos levou por uma escada pra baixo. Tinha um quarto escuro lá e sem janelas, com uma só lâmpada. Eu não gosto muito de ficar no escuro. Quando eu ficava só no nosso quarto passava muito nervoso. O bom é que a Clarinha sempre dormiu comigo. Mas então, ele jogou a gente lá dentro e trancou a porta. Minha irmã me abraçou e começou a chorar muito. Eu também queria chorar, mas não conseguia não sei por quê. E assim ficamos.

Passaram vários dias e Clarinha até emagreceu porque não conseguia comer direito. E a comida era muito nojenta também. Eles abriam a porta, deixavam o prato e fechavam de novo. Até barata aparecia no quarto. O colchão era sujo, muito sujo mesmo, e a gente tomava um monte de picada de bicho. Mais a Clarinha, comigo eles só pulavam e iam embora.

Olha, passamos um sufoco viu. Aí ontem o moço de nariz achatado apareceu e disse que a gente ia ser libertada. Ouvi ele dizer que ia deixar a gente na marginal Pinheiros, só não sabia onde ficava esse lugar. Ficamos super felizes, mas minha irmã não conseguia sorrir. Tava com medo ainda.

A Clarinha ficou esperando ansiosa a noite toda. Quando amanheceu, o moço abriu a cela e falou pra Clarinha que o pai dela tava esperando. Não sei porque não falou ‘’nosso’’ pai, mas percebi que pra ele eu nem existia! E Clarinha sempre cuidou de mim, mas ela tava tão feliz em ouvir falar do papai que soltou minha mão, pegou a do moço e assim foi embora! Ela me deixou...

Fiquei muito triste e com medo. Não sabia mais o que fazer. Eu nunca tinha dormido sozinha antes, e passei a noite mais horrível de minha vida. Abandonada pela minha família achei que ia ficar ali pra sempre.

Foi então que, quando amanheceu, uma moça abriu o quarto. Parecia que ela ia limpar lá, quando me encontrou. Ela estendeu sua mão, me pegou e me colocou numa cadeira, fora do quarto. Quando terminou de limpar, me pegou de novo e disse que ia me apresentar sua filha. Chamava Jéssica.

Minha vida então mudou. Eu não vivo mais numa casa tão legal, num bairro de casas mais bonitas. Moro agora num lugar sujo chamado ‘’Elióplis’’, ando cheia de terra e meu braço tá todo descosturado. Aqui cheira a esgoto, não me chamam mais de Dorabella, mas pelo menos eu não tô mais sozinha.

Monday, July 30, 2007

Conhece-te a ti mesmo

De Luciana Muniz

Os mistérios do universo sempre me fascinaram, sempre tive a curiosidade de saber os porquês dos porquês dos porquês e isso não deve ser à toa...
Então fui atrás da minha curiosidade, sempre guiada pela minha intuição. Li muitos livros, mas ainda sentia que lia e não entendia! A sensação de que as palavras eram literais me perturbava, foi quando li, não recordo o livro tampouco o autor, que o caminho que leva à consciência do universo é um caminho sem volta...
Sinceramente não compreendi o que isso significava, como sem volta?
Somente anos mais tarde me dei conta do seu real significado, principalmente quando li textos de Sócrates, o filósofo grego, onde ele citou sabiamente: CONHECE-TE A TI MESMO. A meu ver esta frase é a chave para a compreensão de todo o universo!
Só conseguimos compreender as outras pessoas depois que aprendemos a nos conhecer, sem máscaras, sem ilusões. Quando aprendemos a enxergar sem medo nossas qualidades e defeitos, nossos sentimentos e desejos mais profundos, estamos aprendendo também a enxergar o próximo, porque o próximo também tem qualidades e defeitos, também anseia por algo, também sente medo.
Começamos aos poucos a enxergar o mundo à nossa volta e as pessoas que dele fazem parte, de outra forma, mais real, mágica! Aos poucos e naturalmente a sensibilidade vai aflorando até que sejamos capazes de compreender o real significado de um olhar, de uma palavra, um gesto.
É um caminho sem volta sim, pois toda a inocência é perdida, a realidade se mostra totalmente, às vezes de maneira cruel. Por um lado é muito bom, pois estaremos preparados para os acontecimentos, mas por outro... Às vezes é melhor não saber, não intuir e enxergar aquilo que gostaríamos que não fosse real.
Os inocentes são felizes, mas são cegos. Aqueles que conseguem enxergar além do superficial também são felizes, mas de uma felicidade sólida, com os pés fincados no chão, pois antes de tudo conhecem a si mesmos!

Friday, July 27, 2007

O CANDIDATO

De Marcelo Ferrari

- Dona Heloísa, manda entrar o próximo.
- Pois não, Dr. Ataliba!
- O próximo por favor!
- Sou eu.
- Pode entrar. É por esta porta.
- Obrigado
(...)
- Pode se sentar, por favor.
- Obrigado.
- Pois bem, o senhor está procurando emprego, é isto?
- Sim, é isto mesmo.
- E o que o senhor sabe fazer.
- Nada.
- Nada!?
- Bem, quase nada. Tem uma coisa que eu sei fazer.
- Ótimo, e o que é?
- Eu sei amar.
- Amar! Como assim?
- Eu amo as coisas, os bichos, as plantas, as pessoas. Bem, resumindo pro senhor, eu amo a vida.
- Meu amigo, você não pode estar falando sério. Isto só pode ser pegadinha, né? He he he... esta foi engraçada. Cadê a câmera?
- Com todo o respeito Doutor...
- Doutor Ataliba.
- Com todo o respeito Dr. Ataliba, eu estou falando sério. Eu não sei fazer nada, só sei amar mesmo.
- Meu amigo, como espera que eu lhe arranje um emprego assim.
- Ué, sempre ouço dizer que a terra está precisando de amor.
- Sim, mas o seu amor não conserta a geladeira do próximo, conserta?
- Não.
- Não faz pão na padaria, faz?
- Não.
- Não enche o tanque do carro de gasolina, enche?
- Também não. Mas, então, o que é que eu faço? Eu só sei amar, não sei fazer mais nada.
- Bem, você já tentou vaga em outros planetas?

Thursday, July 26, 2007

Já que mandou, vou mesmo!

De Tiago Abad

Por que existe a expressão "vá pro inferno!"? E por que ninguém te manda pro céu?. Dificilmente lhe desejam coisas boas, tirando seus familiares e amigos, a maioria das pessoas te mandam pra "baixo". A tal expressão está presente nos mais variados locais: no trânsito, nas portas de estádio, nas filas dos bancos, em cima da laje, e até nas religiões, “se você não fizer o bem, vai pro inferno”.
Aproveitando a expressão, e o aquecimento global, – no futuro nem precisaremos mais utilizar a expressão, pois viveremos no inferno – o que eu levaria na mochila pra passar uma estada no inferno? É uma dúvida grande, afinal de contas, ninguém te manda pro inferno e diz “olha, leva protetor solar que lá é quente!”. Bom, se eu realmente tivesse que passar alguns dias no inferno, a lista está pronta!
1. Uma garrafa d'água
2. Um leque (não levo ventilador, pode não haver tomadas)
3. Uma bermuda
4. Desodorante (depois de um tempo as coisas devem ficar "tensas")
5. Meias vivarina (protege de tudo)
6. Um guarda-sol
7. Espetinhos Mimi (onde há fogo, há churrasco)
8. Uma luva de amianto (pra não queimar a mão, vai que tem que abrir alguma porta ou sei lá o que)
9. Um esquimó (só pra ele vivenciar coisas diferentes)
10. Protetor para pernilongos (existe coisa mais infernal que pernilongos?)
E se alguém tiver dicas, por favor, me ajudem! E o capeta que se cuide.

Wednesday, July 25, 2007

Sem Medo

De Li de Oliveira

Ela sabia bem quem era, aonde ia e como faria para chegar lá. Não se importava com opiniões que não fossem realmente de alguma valia. Abominava hipocrisia. Pois, não entendia nem por segundo a ausência da verdade. Da sua. Do outro. De todos.
Por que as maiorias das pessoas tinham que ocultar a verdade, pois, acham a mentira mais aceitável? A mentira tem perna curta sim, e quando cai... Ahh machuca! Será que você não aprendeu?

Não entendia também, o medo de certas atitudes que todos tem vontade e não fazem porque isto pode chocar alguém. Ou alguém pode não entender. Ou alguém pode julgar errado. Mas “o alguém” paga as suas contas?

E por falar em julgamento... Que esporte é este que todos praticam? Malham suas línguas sem o menor propósito útil. Será que você olhou no espelho antes de falar do outro? Ela acreditava em motivos. Todos têm os seus. E como justiça, acreditava também em ato / conseqüência. Então, porque ela ia se abalar e deixar a sua vida para cuidar da do próximo? Cada um com seu cada qual.

Sim, ela gostava de frases feitas. Tinha uma idéia romântica sobre elas... Que se atravessaram anos e anos, passando por todos é porque realmente tinham força e verdade. Então porque realmente não praticá-las?

Todos complicavam muito. Todos se guardavam muito. E se apegavam muito a rótulos. Para ela não funcionava assim. Ela ria disto. Porque gostava da sensação de fazer. Fazer o que fosse. Quando fosse. Com quem fosse. O ato seria só seu. A conseqüência só sua. Por que deixar de lado as possibilidades?

Vive, pode e quer. Assim ela seguia. Provando um pouco dali. Um pouco daqui. Aproveitando o que lhe convinha. Ignorando o que não fazia a sua cabeça. Espiando o ilegal. Defendendo o legal. Pintando o cabelo e o sete. Beijando o pouco provável. Amando quem realmente merecia...
Por que a vida dela não era novela. Não precisava de expectadores. Tudo que faz é por ela. Pra ser feliz. E isto bastava.

Tuesday, July 24, 2007

A Diferença

De Thiago Fabrette

Existem duas coisas que parecem muito próximas, muito iguais, mas na real, não são.

Estou aqui falando de “ser sincero” e “ser verdadeiro”. E não quero fazer nenhuma alusão política. Se você, leitor, quiser buscar essa alusão, que o faça (estou aqui, sendo sincero. Pode perceber que ser sincero, às vezes, não é nada bom? Pode aborrecer algumas pessoas.).
Sou uma pessoa sincera e verdadeira. E percebe que um não anula o outro? Pois aí é que está! Não são iguais!
Já tentei ser uma pessoa rigidamente sincera. Muitas pessoas, acho que já tentaram... Falar tudo na cara! Na hora! Pra nós, que estamos sendo totalmente sinceros, é ótimo. Para as pessoas à nossa volta, nem tanto.
- Senhor, há uma cadeira ali, gostaria de sentar-se?
- Não, obrigado, minhas hemorróidas estão atacadas...
Imagine a sensação deliciosa de estar sendo sincero e a sensação horrorosa do receptor da mensagem. Isso não é nada.
- Amor, como ficou meu cabelo?
- Uma merda, se me permite dizer...
Pronto! Um mês para o cabelo crescer e um mês de caras feias. Foi legal?
Não, não foi nada legal. Dói.
É possível ser sincero sem usar tais palavras. É. É possível.
- Senhor, há uma cadeira ali, gostaria de sentar-se?
- Não obrigado, estou bem assim, de pé...
- Mas senhor, o atendimento vai demorar ainda...
- Minha senhora, me desculpe, mas minhas porras de hemorróidas estão atacadas, obrigado.
(às vezes, para não ser mais perturbado, uma pequena dose de sinceridade é bem eficiente, mas com certeza, você será odiado em muitos lugares e por muitas pessoas).
Ser verdadeiro. Isso. Me orgulho hoje de ter evoluído de sincero para verdadeiro. Tenho um compromisso com a verdade, mesmo que não precise machucar os outros.
- Amor, como ficou meu cabelo?
- Ah, meu bem, você fica ótima de qualquer jeito, não é seu aspecto externo que me atraiu em você. Mas, se quer minha opinião, gosto mais do outro jeito. Se bem que se você está se sentindo legal assim, eu também fico!
(que lindo! Mas que trabalhoso! Mas é assim mesmo. Me dá um trabalho danado, mas muitas vezes, recebo de volta uma coisa preciosa: sorrisos).
- Senhor, há uma cadeira ali, gostaria de sentar-se?
- Não obrigado, estou bem assim, de pé...
- Mas senhor, o atendimento vai demorar ainda...
- Hum... Vou considerar isso e posso aceitar seu convite depois. Por enquanto, estou bem acomodado assim, mas, mais uma vez, obrigado.
(sorriso).
Ser sincero e ser verdadeiro. Pra mim, duas coisas diferentes. Não complementares, não antagônicas, mas diferentes. Um dia, ser verdadeiro assim, deverá me valer de algo.
Se a pessoa que me vendeu o meu cachorro, meu filhote, tivesse sido verdadeira, se o veterinário que cuidou dele nos primeiros dias de vida (curta vida), tivesse um compromisso com a verdade, talvez ele não tinha sofrido tanto, nem lutado tanto em vão pela vida.
Viveu somente três meses. Tenho orgulho da luta dele. Eu teria desistido muito antes. Mas ele não, ele era muito forte.Um dia, ser verdadeiro vai me valer de algo. Coisa que, para essas pessoas que não fizeram nada para garantir a vida do meu filhote, um dia, vai fazer falta.

Monday, July 23, 2007

Mariano e Camila

De Suzana Marion

Mariano encontrou um ombro que era mais um lugar onde encostar a cabeça e não pensar. Onde podia discutir também (por que não?) e ser criticado se fosse necessário. Ele encontrou muito sorriso e pouco abraço, porque no fundo isso era tudo o que ele próprio podia dar. Era romântico, dos bem piegas, e estava sempre a declarar o seu amor por uma menina dessas que todas querem ser. O que Mariano procurava não era cura, mas distração e atenção na medida certa, não pra esquecer, mas pra ficar mais forte.
Camila encontrou a companhia perfeita e chegou a desejar que ele fosse gay. Era alguém com quem se podia ir ao cinema e sair rindo da previsibilidade de uma comédia romântica no meio da sessão, conversar sobre todos os assuntos, se aventurar em novos sabores, andar de bicicleta na chuva e ficar em silêncio sob as estrelas ou sobre qualquer telhado. A relação era o contrário de ‘friends with benefects’, ele era o namorado perfeito sem a parte do namoro, se é que você me entende.
Os dois se viam todos os dias, almoçavam aos domingos numa cantina ali do bairro e um já fazia o pedido pelo outro, tal era a sintonia. Ela ouvia os seus temores, ele ouvia suas histórias e boa parte das vezes sequer davam sua opinião. O coração dele estava quebrado, ela era bem resolvida. Ambos acreditavam que poderiam ainda na vida viver um grande amor e embora parecessem perfeitos um para o outro, tinham certeza de que nada aconteceria, não podiam se ver como homem e mulher.
Num dia de maior correria no trabalho e que eles não pudessem se encontrar, Camila até sonhava que estava dormindo aninhada em seu ombro, contando como foi seu dia, como o Alberto da contabilidade tinha sido um canalha... então ela acordava rindo, com a certeza de que, por mais que todos os seus amigos os apontassem como casal potencial, não era pra ser.
Camila acorda numa manhã chuvosa de março e conferindo o talão de cheque se dá conta que naquele mês eles não almoçaram sequer uma vez na famosa cantina. Mariano já sumiu há 3 dias... nenhuma mensagem de texto, nenhum e-mail, nada. Na última vez em que se viram ele não disse muita coisa, só que não podia ficar. Camila já sabia que trataram de lhe convencer de que se ele quisesse reconquistar seu grande amor não poderia ter uma relação como aquela que tinha com ela. E não poderia mesmo... nesses dias como é que se prova a verdade? Então ela se resignou a sua saudade muda, apagou o número dele do celular, guardou numa caixa no fundo do armário todas as lembranças dele, mas continuou, todos os domingos, almoçando na mesma cantina, onde foi pedida em casamento pelo tal Alberto da contabilidade. Meses depois encontrou Mariano na rua, sozinho, sem aliança, passeando com o cachorro. Foi só um abraço, sem olhares, sem palavras, e cada um seguiu seu rumo, sua vida e continuou correndo atrás da sua própria felicidade.

Friday, July 20, 2007

O avião

De Leandro Molino

Todos nos solidarizamos, certamente, com os familiares e amigos das mais de 180 vítimas do maior acidente aéreo da história do País. Um acontecimento trágico, um tanto quanto estranho, mal-explicado, que vai render muita discussão, mas que está se tornando corriqueiro. Infelizmente, a queda de aviões comerciais, destinados ao transporte de passageiros, está se tornando comum no Brasil. Será que em algum outro país, em qualquer tempo, dois aviões repletos de passageiros foram objeto de tragédias em menos de 10 meses? Lembram-se do avião da Gol? Aquele que se chocou com o jato Legacy no espaço aéreo da floresta amazônica? Eu não esqueci. Assim como não esquecerei o acidente desta semana. Independentemente de falhas (sejam estas humanas, mecânicas ou de estrutura) que tenham influído para tais acontecimentos, estes dois eventos são bastante representantivos, pois evidenciam a incapacidade das autoridades brasileiras em gerir qualquer coisa, não apenas as questões atinentes à segurança aérea, aeronáutica ou de infra-estrutura aeroportuária. Vivemos um instante perigoso em nosso País. Como o mundo passa por uma era de certa prosperidade, tendemos a supor que a melhora dos índices econômicos que temos presenciado se dá em razão da mão de nossos administradores públicos. Mas não. Estes apenas seguem o vau da valsa. É uma omissão sem tamanho, jamais vista! E, nesse ínterim, morrem pessoas que não guardam qualquer relação com isso. Morrem pessoas que estão dentro dos aviões que caem; morrem pessoas que estavam abastecendo seus carros; morrem pessoas em razão da disputa por pontos de venda de drogas nas periferias das grandes cidades; morrem pessoas largadas pelos corredores dos abandonados hospitais públicos. Enfim, morrem. Assim como a nossa esperança, que apesar de ultimar, um dia, também, morrerá. Tomara que não seja em decorrência da queda de outro avião.

Wednesday, July 18, 2007

Lu em cartaz

De Lucimara Paiva

Com essa minha mania de escrever sem o mínimo de noção das conseqüências, comecei a ouvir que preciso parar de me expor. “Você está louca?! Pode ser usado contra você qualquer dia.”.
Dia desses a exposição foi tão intensa que fui obrigada a retirar um texto do ar para que minha integridade física fosse mantida. Moça, a minha intenção é ser sincera, não encha meu saco. Mas mesmo assim retirei o texto. Não quis pagar para ver.
E nessas de sinceridade e exposição, descobri que escrevo nesse site há meses, mas a maioria dos que lêem os textos, não sabe quem é a Lucimara. Por mais que eu escreva, faça a galera rir, receba xingamentos, manifestações diversas, por mais que as pessoas se identifiquem com a realidade descrita, cheguei invadindo. Nem ao menos falei “Oi”. Exposição assim não tem graça. Quem é a fulana? Fulana é sua mãe, ô filho-da-put****.
Será que alguém sabe que eu só consigo escrever sobre o que me deixa indignada? Será que alguém sabe que sou péssima para fazer contos? Limitada. Além disso, por mais indignada que eu seja, às vezes canso de me esforçar e volto com meus pensamentos fúteis para tomar um fôlego como, por exemplo, minha atual crise dos 25. Após meu aniversário, na semana passada, descobri que os 18 anos nunca foram tão distantes. Se estou sentindo o peso dos 25, imagino dos 40. Terei que fazer 20 anos de análise. Quanto mais o tempo passa, mais minha bunda cai. Nunca fico muito tempo de costas para o espelho. Prefiro evitar lágrimas logo pela manhã. Se os 10 tubos de protetor solar e as 44 horas semanais de ginástica facial não resolverem, não me responsabilizo. Estou com medo. Alguém me dá um abraço?
Ah, sou reclamona também. Quase uma chata. Teimosa, cabeça dura e mimada. Falam que eu tenho a personalidade de um demônio e que já tiveram vontade de me bater para que eu calasse a boca. Mas sou sincera. Minha cara de nojo quando algo me incomoda é incontrolável. Tenho ímpetos de prepotência, mas só porque, como diz meu irmão, adoro mandar algumas pessoas se foderem. Nada que não tenha sido merecido. De todas, uma: ou tentaram me converter ou gritaram comigo sem razão, com a possibilidade de tentativa de me fazer de idiota ou foram hipócritas. Viu? Merecido.
Posso ser um monstro egoísta, eu sei. Mas esse meu coração que ainda bate, é enorme, e se alguém quiser fazê-lo de idiota, vai conseguir, assumo. É fácil me dobrar, sou sensível. Fiquei encantada com a Nutella e com a sapatilha de zebra que ganhei de presente. Choro de repente. A pose de durona desencanada é só um esforço, muitas vezes inútil, de não sofrer tanto.
Gosto de pizza, de Rob Zombie e de andar descalça. Odeio livro de auto-ajuda e manicure. Gosto de estudar, sou nerd. Tenho aflição quando mexem no meu joelho. Esqueci qual é o gosto de picanha. Não sei cantar e não tenho tinta no cabelo. Não uso drogas. O entorpecente mais forte que “uso” de vez em quando é tequila. Detesto me vestir de atriz pornô, aquele famoso estilinho “perua-árvore-de-natal” que a mulherada por aí insiste em achar que é a melhor maneira de ter “cara de rica”.
Tempos atrás, num dia de chuva, vi um filhote tremendo de frio no ponto de ônibus. Quase que o enfiei na mochila, mas acho que ele não ia gostar muito do tour que teria que fazer até às 6 da tarde. Já joguei um tijolo num velho maldito que pensou em espancar uma cachorra que estava amarrada num carrinho de catador de papel. Já fiz o trânsito parar para salvar um outro cachorro de ser atropelado, só não me pergunte como consegui convencê-lo a voltar para casa. Acho que foi a coxa de frango que obriguei a tiazinha do boteco a me dar.
Fora os bichos que têm minha preferência, faço qualquer coisa pelos meus poucos e bons amigos. Fico feliz ao extremo quando estão todos perto de mim. Fico bem só quando eles estão bem. Quando eu falo poucos, são poucos mesmo. Cansei de pessoas ridículas que me julgam e fazem sacanagem. Não perco tempo, excluo. Ô gentinha escrota.
Gosto de coisas simples. Sou baladeira, mas não é por isso que sou uma vadia. Adoro ler e de acordar com alguém me fazendo rir. Não gosto de fazer pose, prefiro minha empolgação pura como é. Envolvo-me. Não tenho meio termo, o que sinto chega sempre nos extremos. Não consigo ser superficial. Sou simples assim, não tem mais o que mostrar. E depois de ter sido exposta e virada do avesso mais do que deveria, resta-me dizer: Oi, quer ser meu amigo?

Tuesday, July 17, 2007

O paciente inglês

De Antonio Zubieta

"Senhor,Que eu não fique nunca
Como esse velho inglês
Aí do lado
Que dorme numa cadeira à espera de visitas que não vêm "
(Oswald de Andrade)


Quem já sabe o que é ser velho sabe qual a expectativa que se tem da vida. Velho é quando ficamos à espera de visitas que não vem, de dias que não passam, de fim de semana que foi e que bom que foi.
Conheci Tartúlio ontem. Estava numa fila de banco (quem faz fila em banco hoje?). Pois é, estávamos lá. Tartúlio sempre faz fila de banco. Não gosta de internet, se recusa a aprender informática, odeia celular, mas adora fila de banco. Aliás, qualquer fila o leva para o passado. O glorioso passado de branco e preto, de quando as pessoas conversavam e não apenas escreviam. Toda essa tecnologia faz plugá-lo ao mundo, interagir com as pessoas, falar sobre coisas que poderiam ser maiores daquilo que ele já sabe. Isso ele detesta.
Por isso estava lá numa fila de banco, pagando uma conta de luz de oito reais, que poderia estar no débito automático. Contou-me de grandes passagens da sua vida. Viu todos os jogos da copa do mundo. Não perde nenhuma disputa de medalha do pan-garé . Tartúlio sabe todos os resultados dos torneios de tênis deste ano. E por sorte esqueceu os outros resultados do ano passado. Seria demais para seus 82 anos. Aliás, "me surpreende o Senhor ter TV a cabo!". "Não fui eu, foi minha filha que insistiu", resmungou.
Aí me lembrei de um texto do Oswald de Andrade. Falei para ele sobre o texto e que iria escrever nossa conversa.
Falei do filme "Efeito borboleta". " Se você pudesse mudar algo do passado, o que mudaria para fazer diferente do que hoje realmente o é? " Não tenho necessidade de outra mudança. O que já estamos vivendo é a mudança de algo que já é diferente do que deveria ser."
Ele pediu para imprimir em papel meu texto.Falamos sobre tudo isso em uma hora de fila. Tartúlio era paciente.

Monday, July 16, 2007

O toque da chuva

De Luciana Muniz

Sua cabeça latejava ferozmente, a impressão que tinha era a de que suas veias iam explodir! Tomou o remédio habitual e deitou-se no mais absoluto silêncio e na completa escuridão, sabia que por alguns instantes precisava se desligar do mundo e esquecer seus problemas ou a dor não lhe deixaria em paz.
De tão cansada que estava não demorou a cair em sono profundo, o remédio começava a fazer efeito e a relaxar os seus músculos, involuntariamente retesados durante o transcorrer do dia.
Em seus sonhos ela se viu em um lugar da cidade que nunca tinha visto antes, não sabia explicar como, mas sabia que aquele lugar pertencia a sua cidade. Estava escurecendo e logo a noite deixou transparecer a luz da lua, única fonte de luz do lugar. Mesmo assim não sentiu medo e deixou que o vento brincasse com os seus longos cabelos. Sentir o vento acariciar o seu rosto lhe dava a sensação de leveza que há muito não sentia. Começou a reparar mais no lugar e então se deu conta de que não estava sozinha... Outras pessoas, como ela, também desfrutavam da luz da lua sob seus corpos e também pareciam maravilhadas com o vento que soprava sobre elas, parecia um presente divino!
Começou a chover, porém a chuva não lhe molhava, apenas aos outros, ela olhou em volta e achou estranho, pois não estava em um lugar coberto, estava no campo tanto quanto as outras pessoas, então por que a chuva não lhe tocava? Parou por alguns instantes e ficou pensativa olhando para os seus pés descalços, quando percebeu uma mão estendida para si. Levantou o olhar e viu um homem moreno, não totalmente desconhecido, porém ela nunca havia lhe visto. Ele percebeu a sua hesitação e lhe falou calmamente:
“Venha, sei que você também gosta da chuva...”
Ela sorriu como uma criança e tocando as mãos do misterioso homem, se deixou conduzir por ele até que, como magia, sentiu a chuva molhar todo o seu corpo. Era como se não seu corpo, mas sua alma fosse tocada pela chuva. Ela não sentia frio, medo ou qualquer agonia, sentia apenas a crescente sensação de bem estar.
O homem moreno a olhava maravilhado, estava contente por poder proporcionar este momento mágico para a sua amada, ela que não sabia do seu amor e tampouco da sua existência até aquele instante. Ele sabia que ainda demoraria um pouco para que ela se desse conta de sua existência e de sua paixão, mas ela já dava os primeiros passos na longa estrada que a levaria até os seus braços.
O seu êxtase com a chuva que caía sobre si havia lhe provado isso. Ele olhou para o céu e viu os primeiros raios de sol a aparecer, tinha que ir... Deixou-a sentindo o brando calor do sol sob sua pele, a secar o seu corpo e aquecer sua alma. Talvez ela não se lembrasse do sonho que tivera, vida corrida, cheia de afazeres, mas quando se encontrasse novamente solitária e deprimida pensaria no destino e nos sinuosos caminhos da vida. E então saberia que no universo existia alguém que a amava e que torcia em silêncio para que ela jamais deixasse de acreditar... Ele existia e estava à sua espera!

Saturday, July 14, 2007

A CAMBALHOTA DO BUDA

De Marcelo Ferrari

Hoje é domingo. Meus amigos me convidaram pra jogarfutebol. Seria um enorme prazer ficar correndo feitobobo atrás de uma bola, mas hoje também é dia depraticar meditação no templo. Estou em dúvida. Será que caso ou compro uma bicicleta? Buda ou Pelé? Fazer 1000 gols efêmeros ou chegar a iluminação? Quanto sofrimento trás esta coisa de livre-arbítrio. Nem fiz nada ainda e já estou sofrendo como se estivesse numa cadeira de dentista escutando o barulho do motorzinho.Como será que Sidarta se livrou deste inferno? De qualquer maneira, acho melhor usar meu livre-arbítrio e escolher ir pro templo praticar Zazen. Quem sabe é hoje que chego a iluminação!

Pronto, aqui estou! Mas como cheguei aqui? Sim, usei meu livre-arbítrio. Decidi pegar o ônibus, decidi entrar no templo, decidi sentar nesta almofadinha preta e agora estou decidindo deixar os pensamentos passarem. Estou decidindo não acolhe-los nem rejeita-los. Este pensamento aqui, por exemplo, do mestre Zen dançando com uma fruteira na cabeça, feito Carmem Miranda, é bem engraçado. Será que posso dar uma risadinha? Melhor não! Vou usar meu livre-arbítrioe permitir que ele passe. Você não sou eu, vá com deus. Este outro aqui, sobre a violência urbana, também não sou eu. Não concordo com a violência, masf azer o que? Não posso acolher nem recusar nada, eis a prática do Zazen.

Já deve ter passado pelo menos uma meia hora. Se estou decidindo tudo certinho, como manda o figurino, porque não chego a iluminação? Tudo quanto é pensamento que aparece eu deixo passar, estou usando meu livre-arbítrio da melhor maneira possível, mas porque estas escolhas não me levam a iluminação?Chega! Vou me levantar. Foda-se o Buda! Fo-da-se! Além do mais, minha perna está doendo pra caralho! Pra ficar sofrendo aqui, muito melhor seria sofre lá no campo de futebol. E se Sidarta estiver errado? Ou então, se ninguém entendeu o que o cara falou? Vai ver a felicidade é realmente feita de momentos efêmeros,como marcar um gol e dar uma cambalhota. Vai ver ela dura apenas o momento da cambalhota. Um ciclo fechado que vai do momento em que o pé sai do chão até o momento em que volta.

Mas o que faço? Levanto ou não levanto desta merda de almofadinha. Mais uma vez é a porra do livre-arbítrio! Que inferno! E o filho da puta do Buda ali no altar, me olhando com aquele sorrisinho de canto de boca, feito a monalisa. O cara deve ter mesmo chegado ailuminação, por isto fica rindo da nossa cara. Afinal,se o budismo começou depois do Sidarta, nem budista ele era. Ele não era porra nenhuma. Era um mané que nem eu.

C-a-r-a-l-h-o! Não acaba nunca esta porra de prática! Mas que merda de livre-arbítrio é este que não me deixa levantar e ir embora. É muito simples, primeiro decido me levantar, então, movimento o corpo e vouembora. Porque não? O que me impede? Meulivre-arbítrio? Mas não é justamente pra isto que eleserve? Pra que eu possa me levantar e ir embora? Vaiver é assim que se chega a iluminação, usando estamerda de livre-arbítrio pra fazer o que realmentetemos vontade e não pra ficar sentado nestaalmofadinha esperando o Nirvana cair do céu.

É isto! Vou me levantar! Vou contar até três, melevanto e nunca mais volto a usar meu livre-arbítrio pra nada além do que buscar cambalhotas efêmeras. Um. Será que é isto mesmo? Só tem um jeito de saber. Dois. Vamos lá, você consegue! Livre-arbítrio e determinação! Você quer ou não quer ser feliz? Dois e meio. Rapaz, mas o prazer é efêmero. O Sidarta chegou a felicidade sentado debaixo da figueira. Este é o caminho do meio. Dois e quase três. Ah! Foda-se ocaminho do meio, do lado e da frente! Se o caminho émeu, deixa eu caminhar, deixa eu. Três.

Não acredito, me levantei! Estou de pé! O mestre estáme olhando! Será que eu atingi a iluminação? Será queele reconheceu isto? Ele não está me censurando. Ah! Só pode ser isto a iluminação! Os mestres nos deixam aqui, subjugados pelas regras da meditação, presos nestas almofadinhas de merda, até descobrimos que a felicidade está no livre-arbítrio de ir e vir. Vou embora e nunca mais volto aqui. Agora sou um homem livre, dono do meu livre-arbítrio. Ou será que não? Ou será que tudo que acreditei estar escolhendo até me levantar foi só uma seqüência de ilusões? Só cambalhotas efêmeras? Será que o livre-arbítrio é uma ilusão? Será que eu...???Ooooops! É gooooooool!

Thursday, July 12, 2007

40% do que compramos é lixo

De Tiago Abad

A internet também é cultura, e quanto mais nos informamos, mais nos deparamos com a própria ignorância. E nos sentimos pequenos. Normal, até agora não falei nenhuma novidade.
Nessas empreitadas via web, encontro a informação de que 40% do que compramos é lixo! Ou seja, em uma lata de leite condensado, 60% é produto e 40% é lata e rótulo; existem vários exemplos: uma garrafinha de iogurte, uma caixa de "Bis", uma caixinha de molho de tomate, etc. E sabe o que é o pior? Pessoas perguntam porque existe crise no país, porque existe fome, porque os produtos são um lixo...
Sobre os produtos serem um lixo, eu respondo de prontidão, se em tudo que compramos, 40% é lixo, podemos chegar à simples (ou ridícula) conclusão de que a ênfase é dada na embalagem, ou seja, o produto é algo sub-embalagem. Aliás, essa é uma cultura incorporada pela maioria da população, vemos várias pessoas bonitas (embalagem) mas o conteúdo interno (produto) é um lixo. Agora me questiono, será que somente o que compramos tem 40% de lixo? Ou será que aquilo que desejamos também não é repleto de lixos? O desejo nada mais é que, aquilo que é colocado na embalagem! Ou seja, lixo. Claro, não estou falando aqui de desejos de ser feliz, etc, mas daqueles desejos do prazer pelo prazer.
Confusão instalada, mas pelo jeito o desejo supera a razão. Desejar não é raciocinar... alguém, antes de comer alguma coisa, já parou pra pensar na origem ou mesmo no processo do que aquilo é feito? Molho de tomate, será realmente que o que vem na caixinha é somente tomate? Os pontinhos pretinhos são temperos? Imagino que os tomates são jogados em uma esteira e lavados em série, claro, devem ser milhões de tomates por mês, e como todos podemos raciocinar, de onde vem os tomates existem bichos, será que não escapa nenhum? Duvido! Mas não imaginem que eu fico pensando nisso antes de comer, claro que não e ninguém faz isso. E dentro destes 40% de lixo, podemos ter materiais como o plástico e o metal que demoram mais de 100 anos pra sumirem, é praticamente uma vida de tartaruga. Um carrinho de brinquedo quebrado que você jogou fora quando criança, leva mais tempo para se decompor do que a sua vida toda, ou seja, você morre e aquele carrinho fica aqui! Agora, o vidro, 1 milhão de anos... é ano pra dedéu! Se o corpo fosse feito de vidro, teríamos umas espécies bem estranhas pra ver até hoje, intactas, mas, não poderíamos nem pensar em tropeçar.

Wednesday, July 11, 2007

07/07/07, VOTAMOS EM CRISTO

De Li de Oliveira

"Moro num país tropical, abençoado por Deus...", assim diz Jorge Ben Jor. E ele estava certo. Brasil é um país abençoado por muito mais de sete maravilhas. No entanto, diante a votação mundial, me senti na seguinte situação: quando seu filho está na escola e vem com um rabisco que chama de desenho, contente e feliz para perguntar se não é o desenho mais bonito da classe. Quando você sabe que na classe do seu filho existe um desenhista nato com lindos trabalhos mesmo tendo ele pouca idade. O que você faz? Obviamente sorri largamente e diz: "Sim, meu filho não existe aqui desenho mais bonito que o seu!". Pergunta-se por quê? Por amor.
O Brasil (graças a Deus) é um país unido. E por amor ao solo verde e amarelo, acredito eu que abraçaram a campanha "Vote Cristo" e nos levaram a lista das "7 Novas Maravilhas do Mundo"*. Na maior eleição globalizada, computando um total de 100 milhões de votos.
Por este amor, me orgulho. Entretanto, não culpo o jornal espanhol "El Mundo" em chamar o evento de "farsa em escala global", vendo pelo prisma que a votação foi dada pela internet e telefones celulares. O Brasil, com seus 188 milhões de habitantes, com certeza de qualquer forma sairia na frente de países como Grécia ou, até mesmo, Espanha, com suas pequenas populações. A competição foi realmente desigual.
Ou melhor, dizendo, injusta. Desculpem-me aos patriotas de plantão. Mas considero, de verdade, injusta esta votação. Qual é a história do Cristo Redentor? Você que votou nele sabe? Monumento grandioso construído desde 1926 e inaugurado em 1931, com a intenção de ser marco comemorativo do centenário da independência. Sabia disto? Porque quem não sabe disto, ainda diminuí a importância do tal para apenas um ponto turístico. Uma estátua religiosa que nos traz dinheiro. Contraditório.
E o que é o Cristo diante ao mistério de Stonehenge (Reino Unido)? Diante a resistência de Acrópole de Atenas (Grécia)? O romantismo da Torre Eiffel (França)? Ou a suntuosidade do Kremlin e Praça Vermelha (Moscou)? O concurso foi promovido por uma fundação suíça, encabeçado pelo cineasta Bernard Weber. A iniciativa não teve apoio unânime e a Unesco, que se dedica ao patrimônio mundial, decidiu não participar do evento. O que nos faz acreditar que tudo não passou de uma grande estratégia de marketing dos suíços, que agora se deleitam com os resultados do "concurso de beleza".
Enfim, as sete novas maravilhas do mundo são realmente "maravilhosas", no entanto, lamento por tantas outras que ficaram de fora. Como sempre nos foi dito, não é possível nunca agradar gregos e troianos. Ou devia dizer americanos e espanhóis? Franceses e japoneses...
O que nos resta é rezar para este Cristo que Sergio Cabral, governador do Rio de Janeiro, tenha mesmo razão. Com esta vitória, 250 mil empregos serão criados devido ao aumento do turismo em terras brasileiras. Assim seja.





*7 Novas Maravilhas do Mundo: Cristo Redentor, Muralha da China e Petra (Jordânia), Machu Picchu (Peru), Chichen Itza (México), Coliseu (Roma) e Taj Mahal (Índia).

Tuesday, July 10, 2007

É HOJE MESMO!

De Thiago Fabrette

Por motivos pessoais, hoje quase que eu não escrevo, mas estou aqui, sentado em minha mesa de trabalho confabulando bastante sobre uma notícia:

Um tal de Jin Seng alguma-coisa-assim, político corrupto chinês, foi executado hoje por ter aceito suborno para liberar o uso de um antibiótico particularmente perigoso, causando a morte de pelo menos dez pessoas.

Muito bem. Hora de trazermos pra nossa realidade...

Notícias – dia 12/07 de 2007
Em uma guinada fantástica na história do Brasil, o congresso e o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, aprovam a pena de morte por fuzilamento para qualquer cidadão brasileiro que for pego em atos de corrupção que resultarem em prejuízo em saúde ou morte de brasileiros ou estrangeiros no território nacional.

Dia 27/10 de 2007
Em Rondônia, os vinte e três detidos na operação Dominó, acusados de desvio de recursos públicos, corrupção, prevaricação, concussão, peculato, extorsão, lavagem de dinheiro e venda de sentenças judiciais, entre eles, o presidente do Tribunal de Justiça de Rondônia, Sebastião Teixeira Chaves, foram os primeiros a serem indicados à pena de morte por fuzilamento por desviarem mais de R$ 15.000.000,00 dos cofres públicos dentro das acusações acima. Eles devem recorrer da sentença e nenhum centavo foi até o momento rastreado ou devolvido às respectivas origens.

Dia 28/10 de 2007
Em Pirapora do Bom Jesus, um trabalhador rural foi preso por tentar subornar um médico com uma mandioca e um cacho de bananas, para que o mesmo atendesse a sua filha, em grave estado de epilepsia, antes dos outros pacientes em espera. Sob risco de linchamento e gritos de “fuzila!”, o trabalhador foi levado ao distrito policial onde aguarda o seu julgamento. Um defensor público deverá ser indicado para defendê-lo.

(Desenrolar dos fatos... ano seguinte)

Dia 30/04 de 2007
Pirapora do Bom Jesus. O primeiro brasileiro julgado e condenado à morte por fuzilamento será executado hoje em praça pública por ter tentado subornar um médico com uma mandioca e um cacho de bananas. O horário da execução foi definido como cinco da tarde. O defensor público encarregado da defesa do condenado não quis comentar o caso.

(Desenrolar dos fatos... dez anos depois)

Dia 12/03 de 2017
Rondônia. Os vinte e três detidos na operação Dominó, do ano de 2006, indicados à pena de morte em 2007, foram julgados e considerados inocentes no processo que avaliava desvio de recursos públicos, corrupção, prevaricação, concussão, peculato, extorsão, lavagem de dinheiro e venda de sentenças judiciais. Os dezoito defensores fizeram um comunicado à imprensa que a justiça foi feita, alcançada com muito esforço e dedicação por eles. Eles também já obtiveram o mesmo sucesso em casos como dos “dólares na cueca” e no escândalo da compra de ambulâncias, onde dos 72 (veja bem, setenta e dois) acusados, nenhum cumpriu um só dia de prisão ou devolveu um só centavo. Até agora, o único caso com pena de morte que foi realmente executado é o do trabalhador rural, Josiney da Costa, fuzilado em 2007 por tentar subornar um médico com um cacho de bananas e uma mandioca.
bananas e uma mandioca.