Wednesday, August 15, 2007

Enjoy the silence

De Lucimara Paiva

Sabe aquele dia em que a cabeça simplesmente não funciona? Pois é, não estou conseguindo escrever e qualquer tentativa não passaria de um texto chato. Hoje é um daqueles dias em que não tenho vontade de saber de absolutamente nada.
Não quero saber se tem cliente surtado pra variar, se tenho que comer, se a garrafa de água está vazia e que por isso estou com sede. A preguiça é maior.
Foi uma luta para conseguir acordar. A mente mandava, mas o corpo não respondia e ao invés de as coisas serem feitas rapidamente, pois eu já estava atrasada, fiquei enrolando, enrolando, enrolando.....Talvez estava esperando o ânimo chegar. Não chegou e me arrastei até aqui. Só o corpo, que fique bem claro. A mente se perdeu pelo caminho, não sei onde ela está, pois são tantos caminhos que resolvi deixá-la escolher para onde ir.
Não quero saber se você é um doente que me cobra pelos meus sumiços, mas quando eu resolvo aparecer, some também. Se você persegue cada passo meu apenas porque sente que me possui como possui um vaso. Se eu, às vezes, sinto que vou explodir de tanta saudade e fico me sufocando com mil mensagens de celular. Se vou quando você chama e me encolho quando você vai embora. Se fico nessa espera insana sem saber quando e onde vou parar. Teste para ver quem é mais idiota?
Não quero saber se tenho que usar protetor por causa das rugas, se alguma vez me arrependi, se magoei, se fodi a vida de alguém.
Não sei se sou adequada, se o guardinha lá da minha rua fica curioso sobre o que eu faço da vida toda vez que chego em casa, se eu tenho que parar de usar tênis e passar a usar scarpin para parecer comportada e não a Avril Lavigne depois da gripe.
Cansei de ser uma chata reclamona que supre a carência com uma caixa de chocolate e que acha que ser do contra é lindo. Lulu, meu amor, mais fácil ser só mais uma. Aí é só começar a dar para “só mais um”. Será uma foda “só mais uma”, que renderá uma história “só mais uma” e se der algum problema a resposta estará no orkut. Só que eu não quero mais saber de orkut e deletei tudo.
Também não estou com a mínima vontade de falar. Língua com preguiça, já viu? Acho que meu corpo está parando aos poucos, e só por hoje vou deixá-lo assim, inércia pura.
Só por hoje quero ser alienada, entende? Alienada sobre o mundo, alienada sobre essa realidade podre que me dá vontade de vomitar a cada meia hora, sobre gravatas, sobre ternos, sobre regras, tanto que parei de passar chapinha e tinta na cabeça. Alienada sobre você que brinca de esconde-esconde comigo só para suprir teu ego sádico, alienada sobre minhas escolhas e minha angústia sem fundo, sobre como serei quando não tiver mais tanto cabelo assim. Não consigo responder se acho mesmo que meu cabelo combina com minha cara, muito menos se meu nome combina com o resto do corpo. E se fosse Júlia, Bárbara, Hermenegilda? E se o cabelo fosse curto e loiro? E se eu fosse magérrima e não tivesse essa bunda grande?
Não quero mais saber porque palavras são desnecessárias, não quero saber por que quanto mais eu falo mais eu me arrependo, e por que cada vez que fico quieta, me arrependo por ter ficado engasgada. Então parei de pensar. Nem adianta tentar me dar opinião, não quero ouvir, além disso, como diria Raulzito, pegue toda essa opinião que você tem formada sobre tudo e enfie no meio do olho do teu cu. Farei algum esforço para ouví-lo quando seus próprios conselhos servirem para você, caso contrário, muito obrigada, enlouqueça sozinho, pois só por hoje não quero saber.

Monday, August 13, 2007

Aos 13 de agosto

De Luciana Muniz

Acordou com azia. Mais um dia de trabalho. Aquela semana não acabava nunca? Chegou atrasado para a reunião de líderes, justo a que o diretor da sua área compareceria. Dez minutos antes, perdera a vaga para um engraçadinho que se fingiu de morto e estacionou primeiro. Ele teve o ímpeto de fazer o fingimento se tornar realidade, mas desistiu da idéia porque sabia que já estava atrasado e não queria se tornar um homicida e um desempregado no mesmo dia.
A reunião não poderia ter sido mais terrível, um verdadeiro show de horror, o diretor era tão polido quanto um mastodonte e (pior!) tinha a plena certeza de que era a versão melhorada de Maquiavel nos planos estratégicos. Lamentável...
Quando olhou no relógio já eram duas da tarde e nada dele poder sair para almoçar e respirar um pouco. Então, já que o almoço tinha ido para as cucuias, resolveu sair tão logo as dezoito horas chegassem.
Anoitecia quando pisou na calçada, deu um longo suspiro. Que dia!
Manobrava o carro quando se deu conta de que havia esquecido o celular em sua mesa, voltou para buscar rapidamente.
Minutos depois, um tanto cansado, entrou no carro e não percebeu que haviam aproveitado sua distração.
Parou no farol vermelho e ao olhar no espelho percebeu que não estava sozinho. A primeira reação foi de incredulidade, não entendia como alguém tinha entrado em seu carro. Mas assim que sentiu o canivete em seu abdômen, se lembrou de que deixou a porta do carro destravada, confiante de que não demoraria na operação de ir e voltar.
– Entra à esquerda na próxima rua e nem um pio, senão te furo!
– Ca-calma... Já estou entrando... Mas é uma rua sem saída...
– É esta mesmo!
Chegando na ruazinha mal iluminada, agilmente escolhida pelo ladrão, sentiu que assim como o dia, a noite também seria longa. O larápio exigiu que ele saísse do carro e deixasse tudo, celular, carteira, documentos e até o paletó. Pensando bem, a gravata também era bonita...
Obedeceu a todas as exigências sem protesto algum, já tentando buscar na memória os números de telefone do seguro.
De tão obediente que fora, o ladrãozinho de voz fina desconfiou de suas intenções e tratou de retardar a sua busca por qualquer tipo de ajuda.
Saiu decidido do carro e então ele pôde ver que o assaltante era bem alto e corpulento, forte demais para uma briga justa, além de estar com um canivete.
Quando o assaltante saiu da viela com os pneus cantando, ele estava caído no chão com um corte não muito profundo na barriga, mas o suficiente para sangrar e apavora-lo. Sentia uma dor muito fina no local atingido e por conta disso não conseguia andar. Teve que quase se rastejar até a avenida mais próxima e implorar para que o ajudassem. Os transeuntes andavam apressados e não queriam se envolver. Só depois de quase meia hora uma senhora parou e o ajudou a chamar um táxi.
O caminho para o hospital foi um capítulo à parte. Os minutos não passavam e os segundos desfilavam vagarosamente pirracentos, gozando de sua dor. Suava frio. Perdia sangue. Estava exausto.
Quando enfim chegou ao hospital, foi medicado e levou os pontos necessários. Foi liberado em seguida, com uma receita repleta de remédios e recomendações.
Agora a segunda parte. Avisar a seguradora do roubo do automóvel e em seguida procurar uma delegacia para o boletim de ocorrência. Com a seguradora foi relativamente rápido, sem contar os quarenta e cinco minutos de espera ouvindo musiquinha. Mas na delegacia... A espera foi grande, o delegado estava em uma mega operação para prender uma quadrilha de assaltantes que estava lhe tirando o sono desde Abril. Do ano retrasado.
Quando chegou em casa e finalmente foi dormir, eram exatamente vinte e três horas e cinqüenta e oito minutos. Foi então que se deu conta. Faltavam dois minutos para o seu aflitivo dia acabar. Era uma sexta-feira, 13 de Agosto.