Tuesday, July 17, 2007

O paciente inglês

De Antonio Zubieta

"Senhor,Que eu não fique nunca
Como esse velho inglês
Aí do lado
Que dorme numa cadeira à espera de visitas que não vêm "
(Oswald de Andrade)


Quem já sabe o que é ser velho sabe qual a expectativa que se tem da vida. Velho é quando ficamos à espera de visitas que não vem, de dias que não passam, de fim de semana que foi e que bom que foi.
Conheci Tartúlio ontem. Estava numa fila de banco (quem faz fila em banco hoje?). Pois é, estávamos lá. Tartúlio sempre faz fila de banco. Não gosta de internet, se recusa a aprender informática, odeia celular, mas adora fila de banco. Aliás, qualquer fila o leva para o passado. O glorioso passado de branco e preto, de quando as pessoas conversavam e não apenas escreviam. Toda essa tecnologia faz plugá-lo ao mundo, interagir com as pessoas, falar sobre coisas que poderiam ser maiores daquilo que ele já sabe. Isso ele detesta.
Por isso estava lá numa fila de banco, pagando uma conta de luz de oito reais, que poderia estar no débito automático. Contou-me de grandes passagens da sua vida. Viu todos os jogos da copa do mundo. Não perde nenhuma disputa de medalha do pan-garé . Tartúlio sabe todos os resultados dos torneios de tênis deste ano. E por sorte esqueceu os outros resultados do ano passado. Seria demais para seus 82 anos. Aliás, "me surpreende o Senhor ter TV a cabo!". "Não fui eu, foi minha filha que insistiu", resmungou.
Aí me lembrei de um texto do Oswald de Andrade. Falei para ele sobre o texto e que iria escrever nossa conversa.
Falei do filme "Efeito borboleta". " Se você pudesse mudar algo do passado, o que mudaria para fazer diferente do que hoje realmente o é? " Não tenho necessidade de outra mudança. O que já estamos vivendo é a mudança de algo que já é diferente do que deveria ser."
Ele pediu para imprimir em papel meu texto.Falamos sobre tudo isso em uma hora de fila. Tartúlio era paciente.

2 comments:

Anonymous said...

Lindo texto Antônio!
Consigo imaginar perfeitamente o Sr. Tartúlio pacientemente aguardando a sua vez na fila do banco... rs.

Bjitos!

Acerola das Neves said...

O que intriga, é que Tartúlio acabou não vivenciando o contato estreito...hehehe ele realmente vai pro téte a téte... hehehe abraço