Monday, July 16, 2007

O toque da chuva

De Luciana Muniz

Sua cabeça latejava ferozmente, a impressão que tinha era a de que suas veias iam explodir! Tomou o remédio habitual e deitou-se no mais absoluto silêncio e na completa escuridão, sabia que por alguns instantes precisava se desligar do mundo e esquecer seus problemas ou a dor não lhe deixaria em paz.
De tão cansada que estava não demorou a cair em sono profundo, o remédio começava a fazer efeito e a relaxar os seus músculos, involuntariamente retesados durante o transcorrer do dia.
Em seus sonhos ela se viu em um lugar da cidade que nunca tinha visto antes, não sabia explicar como, mas sabia que aquele lugar pertencia a sua cidade. Estava escurecendo e logo a noite deixou transparecer a luz da lua, única fonte de luz do lugar. Mesmo assim não sentiu medo e deixou que o vento brincasse com os seus longos cabelos. Sentir o vento acariciar o seu rosto lhe dava a sensação de leveza que há muito não sentia. Começou a reparar mais no lugar e então se deu conta de que não estava sozinha... Outras pessoas, como ela, também desfrutavam da luz da lua sob seus corpos e também pareciam maravilhadas com o vento que soprava sobre elas, parecia um presente divino!
Começou a chover, porém a chuva não lhe molhava, apenas aos outros, ela olhou em volta e achou estranho, pois não estava em um lugar coberto, estava no campo tanto quanto as outras pessoas, então por que a chuva não lhe tocava? Parou por alguns instantes e ficou pensativa olhando para os seus pés descalços, quando percebeu uma mão estendida para si. Levantou o olhar e viu um homem moreno, não totalmente desconhecido, porém ela nunca havia lhe visto. Ele percebeu a sua hesitação e lhe falou calmamente:
“Venha, sei que você também gosta da chuva...”
Ela sorriu como uma criança e tocando as mãos do misterioso homem, se deixou conduzir por ele até que, como magia, sentiu a chuva molhar todo o seu corpo. Era como se não seu corpo, mas sua alma fosse tocada pela chuva. Ela não sentia frio, medo ou qualquer agonia, sentia apenas a crescente sensação de bem estar.
O homem moreno a olhava maravilhado, estava contente por poder proporcionar este momento mágico para a sua amada, ela que não sabia do seu amor e tampouco da sua existência até aquele instante. Ele sabia que ainda demoraria um pouco para que ela se desse conta de sua existência e de sua paixão, mas ela já dava os primeiros passos na longa estrada que a levaria até os seus braços.
O seu êxtase com a chuva que caía sobre si havia lhe provado isso. Ele olhou para o céu e viu os primeiros raios de sol a aparecer, tinha que ir... Deixou-a sentindo o brando calor do sol sob sua pele, a secar o seu corpo e aquecer sua alma. Talvez ela não se lembrasse do sonho que tivera, vida corrida, cheia de afazeres, mas quando se encontrasse novamente solitária e deprimida pensaria no destino e nos sinuosos caminhos da vida. E então saberia que no universo existia alguém que a amava e que torcia em silêncio para que ela jamais deixasse de acreditar... Ele existia e estava à sua espera!

8 comments:

Cesar Veneziani said...

Acho que todos esperamos por um sonho como esse...

Anonymous said...

Puxa, que delícia esse conto. Amanhã nem vou levar meu guarda-chuva...
Claro que é uma delícia de conto. Só podia ser da maravilhosa Lu, minha amiga, que sabe descrever emoções refinadas como poucos.
Parabéns again my dear.
Beijocas

Xaxim said...

Déjà vu! Em duplo sentido.

:)

Beijos

Anonymous said...

Essa é pro Mr Tazaki:

Lembra da caipirinha de saquê? Ela é a culpada!!!

Não me deu outra alternativa... rs

Xaxim said...

Olá só, botando a culpa na caipirinha que vc nem terminou, seja responsavel pelos seus atos! :P hehe

Beijão!

Camila Fernandes said...

Quem será que nunca experimentou, ao se apaixonar, a sensação de que sempre amou aquela pessoa, mesmo antes de conhecê-la?
Lindo texto, com um toque pessoal que por isso mesmo é universal...
Beijos!

Anonymous said...

Nada como uma chuvinha para lavar a alma........ Lu, como tudo q cê faz, lindo! Após a leitura, fiquei com a alma lavada

Azengo :*)

Acerola das Neves said...

E qtos não sentem a chuva mesmo estando molhados? É a questão da entrega, mas em São Paulo, a chuva te fode, pois vc tem reuniao e não pode se molhar.. hehehehe bjs, e bom texto!!