Monday, August 20, 2007

Caixas de Pandora individuais

De Suzana Marion

Hoje eu preciso falar de luto, mas luto pra mim não é apenas a dor da perda para a morte, é a dor da perda ponto. Ultimamente tenho visto muita dor, muito luto e vivido as minhas próprias perdas. Mas como sou a favor de sofrer tudo de uma vez, até a última gota, não vejo sentido em guardar a dor numa caixinha lá no fundo e viver como se nada tivesse acontecido, porque a caixa se abre no momento mais inoportuno, como se a avó caduca do seu namorado, ou aquele tio inconveniente, resolvesse perguntar sua idade ou seu peso no meio do almoço de domingo.
Você acha que eu pareço louca por querer sofrer de uma vez? Mas você conhece a história da caixa de pandora, não é? Todas as dores do mundo estavam numa caixa até que Pandora foi induzida a abrí-la. Então, quase todos os males foram liberados de uma só vez e, se não fosse o medo de Pandora, o último mal teria sido liberado e aí já era a esperança, já era o nosso mundinho! Pois é disso que eu estou falando, de acumular toda a dor e toda a mágoa e depois começar a chorar assistindo comercial de margarina! De fingir que nada aconteceu e depois perder o controle numa discussão sobre o sabor do pastel na feira. Estou falando de perder o seu filho ou seu pai e não dar o tempo devido ao luto, tornando desastroso o nascimento de um novo filho ou o relacionamento com a sua mãe, por exemplo.
E agora alguém pode pensar: “falou a psicóloga”, “falou a dona da verdade”, mas não é essa a minha intenção. O que eu quero mesmo é tentar tirar de dentro de mim a tristeza que eu sinto pelos outros, porque senão eu não posso ajudar. O que acontece no Admirável Mundo Novo de Huxley não acontece com a gente. As pessoas ali eram condicionadas a ver a morte como ganho e não como perda, tinham a crença de que todos eram células do corpo e você não chora quando faz esfoliação, certo? Mas a nossa visão é de que somos um corpo, e o corpo todo sofre quando se perde um membro. O mais perto que podemos chegar daquele desprendimento está em algumas religiões e culturas, como por exemplo o Shivah dos judeus, mas não deixa de haver tristeza e sofrimento, mesmo que haja algum tipo de celebração.Assim, se eu pudesse, aconselharia a todos a não trancar suas dores e medos, pediria pra lutar até superar, pra só então se ver livre das amarras, dos erros cometidos e das fatalidades dessa vida. Quero que o luto vá embora e que você viva.

4 comments:

EOJ said...

Olha só, coincidentemente resolvi visitar o blog hoje e estava publicado o seu texto!hehehehehe.
Show de bola, como sempre.
Bjos.

CACiC - USM said...

Da próxima vez, sem fazer chantagem!rs mas de qualquer forma parabéns pelo texto! Preciso liberar minha caixa de Pandora!rsrs
bjos

Anonymous said...

Eu sou a caixa de Pandora! há há há!


























Brincadeirinha viu..eu só tenho setimentos bons e risadas engraçadas dentro de mim!

Unknown said...

Gostei do seu texto sobre o luto e acho que os conselhos são muito valorosos.
Algumas pessoas cometem o exagero de se culpar na perda de um ente, já outros, preferem não ver o real pra superar mais fácil. Aquele que ignora, não vive, acho eu.
Crenças, religiões, credos, culturas, todos são meios encontrados pra cada ser basear-se em seu luto, mas a dor em todos, acaba sendo a mesma.
Somos todos iguais. Somos todos um só.
Parabéns pelo texto.
gde beijo. Do seu velhoamigo de facul. Anderson.