Monday, August 27, 2007

Espelhos d´água

De Luciana Muniz

Muitos dizem que os amigos representam a família que podemos escolher.
Concordo. Escolhemos os amigos por afinidade, já a família é um tanto diferente. Considero completamente hipócrita o pensamento de que devemos adorar aquele primo chato que vive falando mal de tudo e de todos, só porque faz parte de um ramo familiar da árvore genealógica. Claro que nada impede de termos relações cristalinas e gratificantes com pessoas da família, só não acredito em nada que é imposto ou forçado em nome das aparências.
Quer um outro exemplo clássico? A relação com colegas de trabalho. Duvido que haja um ser que se relacione com todos de maneira igual. Na maioria das vezes existe aquele (ou aquela) em que depositamos mais carinho, nos sentimos mais à vontade para comentar as mazelas do dia-a-dia ou mesmo desabafar algo que nos perturba.
E por que isso acontece? Relações são construídas a todo instante, um assunto em comum, uma opinião ou anseios semelhantes são suficientes para aproximar pessoas, mas não tanto para mantê-las em um laço de amizade. O que faz com a amizade prevaleça é uma mistura homogênea de confiança e dedicação.
Nos vemos no outro, ele nos entende e nós o entendemos. Como um espelho d’água, enxergamos no outro um pouco de nós e é essa sensação de que podemos ficar à vontade que propicia, na minha opinião, a construção das relações amistosas.
Quem é que se sente bem na companhia de alguém que nos faz sentir inferior, não entende nossos anseios, ri das nossas dificuldades e parece não compreender nossas motivações?
Obviamente que não estou pregando que um amigo ideal é aquele que concorda com tudo só para agradar. Não, não é isso. Um verdadeiro amigo é aquele que sabe dizer a verdade olhando no fundo dos teus olhos, sem medo de te desagradar, sabe elogiar sem te deixar fora da realidade e torce pelo teu sucesso.E claro, não desaparece nos momentos de turbulência...

2 comments:

Xaxim said...

Abaixo a hipocrisia! Fazia tempo que não me indentificava tanto com um texto. A única resalva que faço é com relação aos momentos de turbulencia, pelo menos pra mim e quem está a minha volta, isso parece ser uma constante, e com isso, podemos estar cegos e não percerbermos que um grande amigo está passando por dificuldades.

Beijos Lú!

Anonymous said...

Lu,

"Os amigos dizem o que eu preciso ouvir e não o que eu quero ouvir." Sempre ouvi esta frase. E vejo que o sentimento que ela desperta está presente no seu texto. Viva a transparência e a arte em ser sincero sem ser arrogante ou ácido.

Beijos!