De Marcelo Ferrari
- Dona Heloísa, manda entrar o próximo.
- Pois não, Dr. Ataliba!
- O próximo por favor!
- Sou eu.
- Pode entrar. É por esta porta.
- Obrigado
(...)
- Pode se sentar, por favor.
- Obrigado.
- Pois bem, o senhor está procurando emprego, é isto?
- Sim, é isto mesmo.
- E o que o senhor sabe fazer.
- Nada.
- Nada!?
- Bem, quase nada. Tem uma coisa que eu sei fazer.
- Ótimo, e o que é?
- Eu sei amar.
- Amar! Como assim?
- Eu amo as coisas, os bichos, as plantas, as pessoas. Bem, resumindo pro senhor, eu amo a vida.
- Meu amigo, você não pode estar falando sério. Isto só pode ser pegadinha, né? He he he... esta foi engraçada. Cadê a câmera?
- Com todo o respeito Doutor...
- Doutor Ataliba.
- Com todo o respeito Dr. Ataliba, eu estou falando sério. Eu não sei fazer nada, só sei amar mesmo.
- Meu amigo, como espera que eu lhe arranje um emprego assim.
- Ué, sempre ouço dizer que a terra está precisando de amor.
- Sim, mas o seu amor não conserta a geladeira do próximo, conserta?
- Não.
- Não faz pão na padaria, faz?
- Não.
- Não enche o tanque do carro de gasolina, enche?
- Também não. Mas, então, o que é que eu faço? Eu só sei amar, não sei fazer mais nada.
- Bem, você já tentou vaga em outros planetas?
Friday, July 27, 2007
Thursday, July 26, 2007
Já que mandou, vou mesmo!
De Tiago Abad
Por que existe a expressão "vá pro inferno!"? E por que ninguém te manda pro céu?. Dificilmente lhe desejam coisas boas, tirando seus familiares e amigos, a maioria das pessoas te mandam pra "baixo". A tal expressão está presente nos mais variados locais: no trânsito, nas portas de estádio, nas filas dos bancos, em cima da laje, e até nas religiões, “se você não fizer o bem, vai pro inferno”.
Aproveitando a expressão, e o aquecimento global, – no futuro nem precisaremos mais utilizar a expressão, pois viveremos no inferno – o que eu levaria na mochila pra passar uma estada no inferno? É uma dúvida grande, afinal de contas, ninguém te manda pro inferno e diz “olha, leva protetor solar que lá é quente!”. Bom, se eu realmente tivesse que passar alguns dias no inferno, a lista está pronta!
1. Uma garrafa d'água
2. Um leque (não levo ventilador, pode não haver tomadas)
3. Uma bermuda
4. Desodorante (depois de um tempo as coisas devem ficar "tensas")
5. Meias vivarina (protege de tudo)
6. Um guarda-sol
7. Espetinhos Mimi (onde há fogo, há churrasco)
8. Uma luva de amianto (pra não queimar a mão, vai que tem que abrir alguma porta ou sei lá o que)
9. Um esquimó (só pra ele vivenciar coisas diferentes)
10. Protetor para pernilongos (existe coisa mais infernal que pernilongos?)
E se alguém tiver dicas, por favor, me ajudem! E o capeta que se cuide.
Por que existe a expressão "vá pro inferno!"? E por que ninguém te manda pro céu?. Dificilmente lhe desejam coisas boas, tirando seus familiares e amigos, a maioria das pessoas te mandam pra "baixo". A tal expressão está presente nos mais variados locais: no trânsito, nas portas de estádio, nas filas dos bancos, em cima da laje, e até nas religiões, “se você não fizer o bem, vai pro inferno”.
Aproveitando a expressão, e o aquecimento global, – no futuro nem precisaremos mais utilizar a expressão, pois viveremos no inferno – o que eu levaria na mochila pra passar uma estada no inferno? É uma dúvida grande, afinal de contas, ninguém te manda pro inferno e diz “olha, leva protetor solar que lá é quente!”. Bom, se eu realmente tivesse que passar alguns dias no inferno, a lista está pronta!
1. Uma garrafa d'água
2. Um leque (não levo ventilador, pode não haver tomadas)
3. Uma bermuda
4. Desodorante (depois de um tempo as coisas devem ficar "tensas")
5. Meias vivarina (protege de tudo)
6. Um guarda-sol
7. Espetinhos Mimi (onde há fogo, há churrasco)
8. Uma luva de amianto (pra não queimar a mão, vai que tem que abrir alguma porta ou sei lá o que)
9. Um esquimó (só pra ele vivenciar coisas diferentes)
10. Protetor para pernilongos (existe coisa mais infernal que pernilongos?)
E se alguém tiver dicas, por favor, me ajudem! E o capeta que se cuide.
Wednesday, July 25, 2007
Sem Medo
De Li de Oliveira
Ela sabia bem quem era, aonde ia e como faria para chegar lá. Não se importava com opiniões que não fossem realmente de alguma valia. Abominava hipocrisia. Pois, não entendia nem por segundo a ausência da verdade. Da sua. Do outro. De todos.
Por que as maiorias das pessoas tinham que ocultar a verdade, pois, acham a mentira mais aceitável? A mentira tem perna curta sim, e quando cai... Ahh machuca! Será que você não aprendeu?
Não entendia também, o medo de certas atitudes que todos tem vontade e não fazem porque isto pode chocar alguém. Ou alguém pode não entender. Ou alguém pode julgar errado. Mas “o alguém” paga as suas contas?
E por falar em julgamento... Que esporte é este que todos praticam? Malham suas línguas sem o menor propósito útil. Será que você olhou no espelho antes de falar do outro? Ela acreditava em motivos. Todos têm os seus. E como justiça, acreditava também em ato / conseqüência. Então, porque ela ia se abalar e deixar a sua vida para cuidar da do próximo? Cada um com seu cada qual.
Sim, ela gostava de frases feitas. Tinha uma idéia romântica sobre elas... Que se atravessaram anos e anos, passando por todos é porque realmente tinham força e verdade. Então porque realmente não praticá-las?
Todos complicavam muito. Todos se guardavam muito. E se apegavam muito a rótulos. Para ela não funcionava assim. Ela ria disto. Porque gostava da sensação de fazer. Fazer o que fosse. Quando fosse. Com quem fosse. O ato seria só seu. A conseqüência só sua. Por que deixar de lado as possibilidades?
Vive, pode e quer. Assim ela seguia. Provando um pouco dali. Um pouco daqui. Aproveitando o que lhe convinha. Ignorando o que não fazia a sua cabeça. Espiando o ilegal. Defendendo o legal. Pintando o cabelo e o sete. Beijando o pouco provável. Amando quem realmente merecia...
Por que a vida dela não era novela. Não precisava de expectadores. Tudo que faz é por ela. Pra ser feliz. E isto bastava.
Ela sabia bem quem era, aonde ia e como faria para chegar lá. Não se importava com opiniões que não fossem realmente de alguma valia. Abominava hipocrisia. Pois, não entendia nem por segundo a ausência da verdade. Da sua. Do outro. De todos.
Por que as maiorias das pessoas tinham que ocultar a verdade, pois, acham a mentira mais aceitável? A mentira tem perna curta sim, e quando cai... Ahh machuca! Será que você não aprendeu?
Não entendia também, o medo de certas atitudes que todos tem vontade e não fazem porque isto pode chocar alguém. Ou alguém pode não entender. Ou alguém pode julgar errado. Mas “o alguém” paga as suas contas?
E por falar em julgamento... Que esporte é este que todos praticam? Malham suas línguas sem o menor propósito útil. Será que você olhou no espelho antes de falar do outro? Ela acreditava em motivos. Todos têm os seus. E como justiça, acreditava também em ato / conseqüência. Então, porque ela ia se abalar e deixar a sua vida para cuidar da do próximo? Cada um com seu cada qual.
Sim, ela gostava de frases feitas. Tinha uma idéia romântica sobre elas... Que se atravessaram anos e anos, passando por todos é porque realmente tinham força e verdade. Então porque realmente não praticá-las?
Todos complicavam muito. Todos se guardavam muito. E se apegavam muito a rótulos. Para ela não funcionava assim. Ela ria disto. Porque gostava da sensação de fazer. Fazer o que fosse. Quando fosse. Com quem fosse. O ato seria só seu. A conseqüência só sua. Por que deixar de lado as possibilidades?
Vive, pode e quer. Assim ela seguia. Provando um pouco dali. Um pouco daqui. Aproveitando o que lhe convinha. Ignorando o que não fazia a sua cabeça. Espiando o ilegal. Defendendo o legal. Pintando o cabelo e o sete. Beijando o pouco provável. Amando quem realmente merecia...
Por que a vida dela não era novela. Não precisava de expectadores. Tudo que faz é por ela. Pra ser feliz. E isto bastava.
Tuesday, July 24, 2007
A Diferença
De Thiago Fabrette
Existem duas coisas que parecem muito próximas, muito iguais, mas na real, não são.
Estou aqui falando de “ser sincero” e “ser verdadeiro”. E não quero fazer nenhuma alusão política. Se você, leitor, quiser buscar essa alusão, que o faça (estou aqui, sendo sincero. Pode perceber que ser sincero, às vezes, não é nada bom? Pode aborrecer algumas pessoas.).
Sou uma pessoa sincera e verdadeira. E percebe que um não anula o outro? Pois aí é que está! Não são iguais!
Já tentei ser uma pessoa rigidamente sincera. Muitas pessoas, acho que já tentaram... Falar tudo na cara! Na hora! Pra nós, que estamos sendo totalmente sinceros, é ótimo. Para as pessoas à nossa volta, nem tanto.
- Senhor, há uma cadeira ali, gostaria de sentar-se?
- Não, obrigado, minhas hemorróidas estão atacadas...
Imagine a sensação deliciosa de estar sendo sincero e a sensação horrorosa do receptor da mensagem. Isso não é nada.
- Amor, como ficou meu cabelo?
- Uma merda, se me permite dizer...
Pronto! Um mês para o cabelo crescer e um mês de caras feias. Foi legal?
Não, não foi nada legal. Dói.
É possível ser sincero sem usar tais palavras. É. É possível.
- Senhor, há uma cadeira ali, gostaria de sentar-se?
- Não obrigado, estou bem assim, de pé...
- Mas senhor, o atendimento vai demorar ainda...
- Minha senhora, me desculpe, mas minhas porras de hemorróidas estão atacadas, obrigado.
(às vezes, para não ser mais perturbado, uma pequena dose de sinceridade é bem eficiente, mas com certeza, você será odiado em muitos lugares e por muitas pessoas).
Ser verdadeiro. Isso. Me orgulho hoje de ter evoluído de sincero para verdadeiro. Tenho um compromisso com a verdade, mesmo que não precise machucar os outros.
- Amor, como ficou meu cabelo?
- Ah, meu bem, você fica ótima de qualquer jeito, não é seu aspecto externo que me atraiu em você. Mas, se quer minha opinião, gosto mais do outro jeito. Se bem que se você está se sentindo legal assim, eu também fico!
(que lindo! Mas que trabalhoso! Mas é assim mesmo. Me dá um trabalho danado, mas muitas vezes, recebo de volta uma coisa preciosa: sorrisos).
- Senhor, há uma cadeira ali, gostaria de sentar-se?
- Não obrigado, estou bem assim, de pé...
- Mas senhor, o atendimento vai demorar ainda...
- Hum... Vou considerar isso e posso aceitar seu convite depois. Por enquanto, estou bem acomodado assim, mas, mais uma vez, obrigado.
(sorriso).
Ser sincero e ser verdadeiro. Pra mim, duas coisas diferentes. Não complementares, não antagônicas, mas diferentes. Um dia, ser verdadeiro assim, deverá me valer de algo.
Se a pessoa que me vendeu o meu cachorro, meu filhote, tivesse sido verdadeira, se o veterinário que cuidou dele nos primeiros dias de vida (curta vida), tivesse um compromisso com a verdade, talvez ele não tinha sofrido tanto, nem lutado tanto em vão pela vida.
Viveu somente três meses. Tenho orgulho da luta dele. Eu teria desistido muito antes. Mas ele não, ele era muito forte.Um dia, ser verdadeiro vai me valer de algo. Coisa que, para essas pessoas que não fizeram nada para garantir a vida do meu filhote, um dia, vai fazer falta.
Existem duas coisas que parecem muito próximas, muito iguais, mas na real, não são.
Estou aqui falando de “ser sincero” e “ser verdadeiro”. E não quero fazer nenhuma alusão política. Se você, leitor, quiser buscar essa alusão, que o faça (estou aqui, sendo sincero. Pode perceber que ser sincero, às vezes, não é nada bom? Pode aborrecer algumas pessoas.).
Sou uma pessoa sincera e verdadeira. E percebe que um não anula o outro? Pois aí é que está! Não são iguais!
Já tentei ser uma pessoa rigidamente sincera. Muitas pessoas, acho que já tentaram... Falar tudo na cara! Na hora! Pra nós, que estamos sendo totalmente sinceros, é ótimo. Para as pessoas à nossa volta, nem tanto.
- Senhor, há uma cadeira ali, gostaria de sentar-se?
- Não, obrigado, minhas hemorróidas estão atacadas...
Imagine a sensação deliciosa de estar sendo sincero e a sensação horrorosa do receptor da mensagem. Isso não é nada.
- Amor, como ficou meu cabelo?
- Uma merda, se me permite dizer...
Pronto! Um mês para o cabelo crescer e um mês de caras feias. Foi legal?
Não, não foi nada legal. Dói.
É possível ser sincero sem usar tais palavras. É. É possível.
- Senhor, há uma cadeira ali, gostaria de sentar-se?
- Não obrigado, estou bem assim, de pé...
- Mas senhor, o atendimento vai demorar ainda...
- Minha senhora, me desculpe, mas minhas porras de hemorróidas estão atacadas, obrigado.
(às vezes, para não ser mais perturbado, uma pequena dose de sinceridade é bem eficiente, mas com certeza, você será odiado em muitos lugares e por muitas pessoas).
Ser verdadeiro. Isso. Me orgulho hoje de ter evoluído de sincero para verdadeiro. Tenho um compromisso com a verdade, mesmo que não precise machucar os outros.
- Amor, como ficou meu cabelo?
- Ah, meu bem, você fica ótima de qualquer jeito, não é seu aspecto externo que me atraiu em você. Mas, se quer minha opinião, gosto mais do outro jeito. Se bem que se você está se sentindo legal assim, eu também fico!
(que lindo! Mas que trabalhoso! Mas é assim mesmo. Me dá um trabalho danado, mas muitas vezes, recebo de volta uma coisa preciosa: sorrisos).
- Senhor, há uma cadeira ali, gostaria de sentar-se?
- Não obrigado, estou bem assim, de pé...
- Mas senhor, o atendimento vai demorar ainda...
- Hum... Vou considerar isso e posso aceitar seu convite depois. Por enquanto, estou bem acomodado assim, mas, mais uma vez, obrigado.
(sorriso).
Ser sincero e ser verdadeiro. Pra mim, duas coisas diferentes. Não complementares, não antagônicas, mas diferentes. Um dia, ser verdadeiro assim, deverá me valer de algo.
Se a pessoa que me vendeu o meu cachorro, meu filhote, tivesse sido verdadeira, se o veterinário que cuidou dele nos primeiros dias de vida (curta vida), tivesse um compromisso com a verdade, talvez ele não tinha sofrido tanto, nem lutado tanto em vão pela vida.
Viveu somente três meses. Tenho orgulho da luta dele. Eu teria desistido muito antes. Mas ele não, ele era muito forte.Um dia, ser verdadeiro vai me valer de algo. Coisa que, para essas pessoas que não fizeram nada para garantir a vida do meu filhote, um dia, vai fazer falta.
Monday, July 23, 2007
Mariano e Camila
De Suzana Marion
Mariano encontrou um ombro que era mais um lugar onde encostar a cabeça e não pensar. Onde podia discutir também (por que não?) e ser criticado se fosse necessário. Ele encontrou muito sorriso e pouco abraço, porque no fundo isso era tudo o que ele próprio podia dar. Era romântico, dos bem piegas, e estava sempre a declarar o seu amor por uma menina dessas que todas querem ser. O que Mariano procurava não era cura, mas distração e atenção na medida certa, não pra esquecer, mas pra ficar mais forte.
Camila encontrou a companhia perfeita e chegou a desejar que ele fosse gay. Era alguém com quem se podia ir ao cinema e sair rindo da previsibilidade de uma comédia romântica no meio da sessão, conversar sobre todos os assuntos, se aventurar em novos sabores, andar de bicicleta na chuva e ficar em silêncio sob as estrelas ou sobre qualquer telhado. A relação era o contrário de ‘friends with benefects’, ele era o namorado perfeito sem a parte do namoro, se é que você me entende.
Os dois se viam todos os dias, almoçavam aos domingos numa cantina ali do bairro e um já fazia o pedido pelo outro, tal era a sintonia. Ela ouvia os seus temores, ele ouvia suas histórias e boa parte das vezes sequer davam sua opinião. O coração dele estava quebrado, ela era bem resolvida. Ambos acreditavam que poderiam ainda na vida viver um grande amor e embora parecessem perfeitos um para o outro, tinham certeza de que nada aconteceria, não podiam se ver como homem e mulher.
Num dia de maior correria no trabalho e que eles não pudessem se encontrar, Camila até sonhava que estava dormindo aninhada em seu ombro, contando como foi seu dia, como o Alberto da contabilidade tinha sido um canalha... então ela acordava rindo, com a certeza de que, por mais que todos os seus amigos os apontassem como casal potencial, não era pra ser.
Camila acorda numa manhã chuvosa de março e conferindo o talão de cheque se dá conta que naquele mês eles não almoçaram sequer uma vez na famosa cantina. Mariano já sumiu há 3 dias... nenhuma mensagem de texto, nenhum e-mail, nada. Na última vez em que se viram ele não disse muita coisa, só que não podia ficar. Camila já sabia que trataram de lhe convencer de que se ele quisesse reconquistar seu grande amor não poderia ter uma relação como aquela que tinha com ela. E não poderia mesmo... nesses dias como é que se prova a verdade? Então ela se resignou a sua saudade muda, apagou o número dele do celular, guardou numa caixa no fundo do armário todas as lembranças dele, mas continuou, todos os domingos, almoçando na mesma cantina, onde foi pedida em casamento pelo tal Alberto da contabilidade. Meses depois encontrou Mariano na rua, sozinho, sem aliança, passeando com o cachorro. Foi só um abraço, sem olhares, sem palavras, e cada um seguiu seu rumo, sua vida e continuou correndo atrás da sua própria felicidade.
Mariano encontrou um ombro que era mais um lugar onde encostar a cabeça e não pensar. Onde podia discutir também (por que não?) e ser criticado se fosse necessário. Ele encontrou muito sorriso e pouco abraço, porque no fundo isso era tudo o que ele próprio podia dar. Era romântico, dos bem piegas, e estava sempre a declarar o seu amor por uma menina dessas que todas querem ser. O que Mariano procurava não era cura, mas distração e atenção na medida certa, não pra esquecer, mas pra ficar mais forte.
Camila encontrou a companhia perfeita e chegou a desejar que ele fosse gay. Era alguém com quem se podia ir ao cinema e sair rindo da previsibilidade de uma comédia romântica no meio da sessão, conversar sobre todos os assuntos, se aventurar em novos sabores, andar de bicicleta na chuva e ficar em silêncio sob as estrelas ou sobre qualquer telhado. A relação era o contrário de ‘friends with benefects’, ele era o namorado perfeito sem a parte do namoro, se é que você me entende.
Os dois se viam todos os dias, almoçavam aos domingos numa cantina ali do bairro e um já fazia o pedido pelo outro, tal era a sintonia. Ela ouvia os seus temores, ele ouvia suas histórias e boa parte das vezes sequer davam sua opinião. O coração dele estava quebrado, ela era bem resolvida. Ambos acreditavam que poderiam ainda na vida viver um grande amor e embora parecessem perfeitos um para o outro, tinham certeza de que nada aconteceria, não podiam se ver como homem e mulher.
Num dia de maior correria no trabalho e que eles não pudessem se encontrar, Camila até sonhava que estava dormindo aninhada em seu ombro, contando como foi seu dia, como o Alberto da contabilidade tinha sido um canalha... então ela acordava rindo, com a certeza de que, por mais que todos os seus amigos os apontassem como casal potencial, não era pra ser.
Camila acorda numa manhã chuvosa de março e conferindo o talão de cheque se dá conta que naquele mês eles não almoçaram sequer uma vez na famosa cantina. Mariano já sumiu há 3 dias... nenhuma mensagem de texto, nenhum e-mail, nada. Na última vez em que se viram ele não disse muita coisa, só que não podia ficar. Camila já sabia que trataram de lhe convencer de que se ele quisesse reconquistar seu grande amor não poderia ter uma relação como aquela que tinha com ela. E não poderia mesmo... nesses dias como é que se prova a verdade? Então ela se resignou a sua saudade muda, apagou o número dele do celular, guardou numa caixa no fundo do armário todas as lembranças dele, mas continuou, todos os domingos, almoçando na mesma cantina, onde foi pedida em casamento pelo tal Alberto da contabilidade. Meses depois encontrou Mariano na rua, sozinho, sem aliança, passeando com o cachorro. Foi só um abraço, sem olhares, sem palavras, e cada um seguiu seu rumo, sua vida e continuou correndo atrás da sua própria felicidade.
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