Friday, June 29, 2007

Deus e os Caras

De Marcelo Ferrari

E o cara descarado argumentou: "Deus não existe porque nunca o viu andando pela rua". Ora, se for assim – ver pra crer – precisamos rever também outros ilustres desconhecidos. Os Caras, por exemplo, será que existem mesmo? Tal como Deus, dizem que os Caras estão em todas: na política, na religião, na cultura, no engarrafamento, na internet, na pequena e na grande área. Contudo, todavia, entretanto, eu pessoalmente na pessoa de mim mesmo, nunca vi os Caras andando pela rua. Sei que os Caras são um filhos da puta. Sei que os Caras são foda. Sei que os Caras não entendem porra nenhuma. E sei também que a culpa é dos Caras. Mas, cadê os Caras? Talvez o Povo conheça os caras. Será?Também nunca vi o Povo cara a cara. Sei que o Povo é burro. Sei que o Povo não sabe votar. Sei que o Povo tem o governo que merece. Mas, meu Deus, cadê o Povo que não dá as caras? Se o Povo passasse por mim agora, juro por tudo que é mais sagrado que o convidaria pra tomar um copo. Talvez o povo tenha algo a me dizer sobre os Caras. Afinal, a voz do povo é a voz de Deus, não é mesmo?

Thursday, June 28, 2007

Chamar de loucura é dar espaço pra chamar alguém de normal

De Tiago Abad

Chamamos alguém de louco pra mostrar que existem pessoas normais. Agora, dizemos hoje em dia: "O mundo está louco!", e a quem chamaremos normais? Lua? Marte? Plutão? Talvez sim. Temos liberdade em chamar o mundo de louco pois é o único mundo que acreditamos ser habitado... através da dialética, podemos chegar à brilhante conclusão de que o mundo está louco porque as pessoas estão loucas.
A depressão é a doença do momento, e a tristeza provavelmente tomará conta dos sentimentos futuros da sociedade. Mas também estamos vivendo os frutos de uma sociedade cada vez mais vazia. A sociedade do entretenimento traz um vácuo na cabeça das pessoas como pacote de entrada. Tudo "mastigado". Pra que ler um livro, se os filmes e as novelas nos jogam as informações dentro da mente? Você não tem nem tempo de pensar ou refletir sobre o que quer aprender. O livro te coloca essa possibilidade, e dentro de um livro, quem faz o tempo da propaganda e "assiste ao próximo capítulo" é você, a imaginação dita o que será digerido. O mundo da imaginação é muito mais criativo que um filme, e está sendo jogado às traças pela mídia.
Tudo bem, se os governantes são a solução, acabo de comunicar-lhes que estamos perdidos! É como esperar uma luz de quem não paga a conta? A solução pra acabar com a burrice foi fazer um plano de governo onde as pessoas não mais repetem de ano. Política excelente se fosse baseada em "vamos fazer o cara estudar pra que ele passe de ano". Mas o único objetivo solicitado é que o cara tenha presença em sala de aula... Uau! Agora sim, deixaremos a ignorância satisfazer o governo, ou ao menos, teremos dados maquiados em índices de analfabetismo.
Estudar é conhecer coisas. Não precisamos ler Física Quântica pra sermos inteligentes; não precisamos ler Fernando Pessoa, Fernando Sabino, Mário de Andrade... leiamos gibi da Turma da Mônica, Almanaque, Palavra Cruzada, o diabo que seja, mas manter a mente cheia de letras é o princípio do fim da burrice.
Preocupados com o futuro da nação, vamos iniciar uma campanha “Leia desde matérias que te interessam em jornal de esportes à poesias perdidas em livros esquisitos”.
"A mente parada é a casa do diabo" já diria Edir Macedo.

Wednesday, June 27, 2007

SABEDORIA DE BOTEQUIM

De Li de Oliveira

João Renato estava lá, sentado, preguiçosamente, na cadeira, daquele jeito: um pé lá e outro cá, com sua filosofia de rótulo de garrafa, comentava empolgado: - "Sumemo" , não existe amizade sincera entre homem e mulher!
- Ah vá, Renato, você tá falando isso porque tá com dor de cotovelo. Ele levou um perdido da Claudia Ana, meu! – Sergio Augusto não deixou barato.
- Mentira, cara, que tu tentou comer a Claudia Ana!? Pára, cara, Claudião é brother pra gente. Quase um homem. Por que vamos combinar, ela tem até bigode! Hahahahahha – Rodrigo Lucio se acabou em risada acompanhado por Sergio Augusto.
- Se liga, presta atenção. É disso aqui que eu to falando. – João Renato levantou o copo como um objeto sagrado e contemplou o líquido amarelo. – Vocês acham que quem bebe isso, e bebe bem, vai se lembrar que fulana é amiga na hora que bate o tesão alcoólico?
- Tesão alcoólico? Hahahaha. É aquele tesão que precede a "brochada homérica"? Renatinho, deixa de ser bobo, amigo que é amigo, é amigo até bêbado. – Keli Cristina amenizou.
- Crisca, fala sério, não tem tesão por nenhum de nós? Seja sincera!
- Aonde?????? Não to a perigo não!!!
- Pô Crisca, magoou agora, heim? – Rodrigo Lucio perdeu o seu sorriso.
- Mas, em compensação, aposto que vocês todos adorariam uma noite comigo.
- Ahhh mas vá, ta se tendo certeza, né não? – Sergio comentou
- Fala pra mim Sesé, você não gostaria de me comer?
- Sinceramente? Posso falar? Não. Você é irmã pra mim.
- Ah irmã? Sei. Mas, assim, você não me acha desejável?
- Nunca nem reparei por este lado, Crisca.
- Como assim Sergio Augusto? Ta querendo dizer que eu não tenho nenhum atrativo??!!
- Afe mulher, to querendo dizer que te considero tanto, que nem vejo você pelo prisma sexual! Você também ta com o Renatinho, que não acredita em amizade verdadeira entre sexos diferentes?
- Não! Quer dizer, acredito, mas não to entendendo porque você não me acha gostosa.
João Renato só olhava a discussão, divertindo-se com a semente que plantou.
- To achando que a Crisca quer dar pro Sesé. – foi ele querendo dar mais pimenta à história.
- Quero porra nenhuma! Nunca que eu ia dar pro Sesé. É irmão. Não ouviu o que ele disse? Irmão!! Ora essa.
- A Crisca quer dar pro Sesé! A Crisca quer dar pro Sesé! Ninguém pode negar... – Rodrigo Lucio cantava na melodia "Fulano é bom companheiro".
- Calaboca, Ro! Eu não quero dar pra ninguém. E quer saber? Vou embora, antes que eu não seja nem mais amiga de vocês.
- Veja pelo lado bom cara, se você não for mais amiga, aí pode ser que o Sesé queira te comer...
Keli Cristina levantou da mesa bufando, pegou na carteira a quantia que supôs ser sua parte na conta e jogou para eles. Saiu sem falar tchau. Rodrigo Lucio baixou a cabeça e se pôs a comer amendoim sem parar. Sergio Augusto ficou com a cara de: "mas o que foi que eu falei?" enquanto João Renato se deliciava com um longo gole de cerveja...

- Quer saber? Eu comeria a Crisca! Ô, capitão, traz mais uma aqui pra nós?

Tuesday, June 26, 2007

Mais do mesmo

De Thiago Fabrette

Vou repetir. Pareço repetitivo? MUDE!
Não é nada demais. Não precisa de muito.
Precisa sim, se desprender de muita coisa. Por exemplo, se você quiser mudar de profissão, terá que abrir mão, muitas vezes, de uma condição financeira confortável para, em um esforço hercúleo, desenvolver novas atividades, habilidades, tirar da gaveta velhos conhecidos, novos contatos, estudar muita coisa, esquecer quem você era.
Ah, e muito importante, não dar ouvidos aos vizinhos. Ao irmão. Aos parentes. Aos amigos.
Muito tentarão dissuadi-lo da tarefa. Mas quem você deve ouvir? Você mesmo. Mas quem sou eu então para lhe dizer o que você deve ou não fazer? Não estou falando para você, leitor, na verdade. Estou mesmo é falando para mim.
E se você quer mudar de cidade? Melhorar a sua qualidade de vida, melhorar seus hábitos, mudar de ares ou tentar uma vida nova com alguém. Muito bem. Mais uma vez, vão tentar que você desista. Mas aí, é o seu coração e, meu amigo, esse é o mais forte paredão que encontrará. Mudar de cidade, de estado ou qualquer coisa do tipo requer muita conversa com você mesmo. Como deixar para trás a sua família e amigos? Não se iluda, muitos amigos se tornarão meros colegas, amizades sinceras, sim, mas distantes. Nos envolvemos com o lugar onde vivemos, assumimos compromissos, academia, caminhadas, eventos sociais e a nossa antiga vida, vai ficando pra depois.
E tentar mudar o seu modo de ver as coisas? Tentar mudar de opinião. Tudo bem. Mudar de opinião é fácil, quando não estamos totalmente convictos. Mas tal convicção, quando se aproxima da fé, é realmente difícil. Mas o ponto de vista alheio é um país a ser desvendado. Aprenda com a fé do outro, absorva a convicção alheia e tente respeitá-la.
Faz bem mudar de opinião, de hábitos.
Faz bem mudar de cidade, talvez faça bem mudar a fé.
Só não faz bem mudar o que você é ou o que você deveria ser.
Quando estamos convictos do que somos, devemos perseguir isso até o fim, sob todos os riscos.
Quer um exemplo prático?
Não segui aquilo que eu deveria ser, um biólogo. E hoje, quero mudar. A todo o momento.
No fim, mudar faz bem à alma, ao Homem. Só mantenha aquilo que você tem de maior. A sua liberdade de ser e fazer o que quer. Por que no final, você vai se sentir orgulhoso de ter feito o que seu coração lhe disse.

Monday, June 25, 2007

Verdades e Mentiras

De Suzana Marion

Todos os dias eu lido com gente enrolada que dá desculpas esfarrapadas quando não pode ir a um compromisso. Sabe aquele tipo “MEU CACHORRO COMEU MINHA LIÇÃO”? Então, quando eles crescem matam a mãe morta todo dia pra escapar das suas responsabilidades, te ligam 12:30 pra dizer que não podem comparecer a reunião das 13:00, porque se esqueceram que a placa do carro é final 1; dizem no dia 30 que os clientes ainda não pagaram os títulos do dia 5, pra você segurar o cheque por mais uns dias; inventam que os filhos estão doentes, mas na semana seguinte não se lembram da mentira e acabam se entregando; batem no peito dizendo eu odeio mentira, mas quando o telefone toca gritam “fala que eu não estou se for a Marília”.
Sabe aquele tipo “TIA, FOI O JOÃO QUE GRUDOU A MASSINHA NO CABELO DA ANINHA”? Então, quando eles crescem viram a prima recalcada que diz “você sabe que eu sou sua amiga, mas o seu namorado me deu a maior secada quando eu cheguei”, ou o marido que diz que você ficou muito estranha com essa franja quando você chega do cabeleireiro, o tio que diz que você está muito peituda no meio do almoço de família, o colega que puxa o seu tapete contando pro chefe que você saiu mais cedo na quinta e pediu pra sua amiga bater seu cartão, o cliente inconveniente que pergunta se você está grávida naquele dia de calor em que você decidiu vestir uma bata, o pretê que diz que o filme que você escolheu é muito ruim, o avô que diz que não gostou do presente, a faxineira que diz que você cozinha mal... tem de tudo nessa vida em nome da sinceridade e contra a cordialidade!
Você certamente já mentiu para se proteger e já disse a verdade para ferir. E certamente já conheceu mentirosos compulsivos, que mentem até mesmo quando a verdade é mais fácil e melhor. Provavelmente você conhece alguém que cospe a verdade na cara de todo mundo a pretexto de ser uma pessoa sincera, acreditando que quem diz a verdade é o dono dela. Não estou aqui fazendo acusações, nem tentando eu mesma ser a dona da verdade, um baluarte de justiça. Eu admito que minto (bem as vezes porque eu me esqueço logo e acabo me traindo) e que sou capaz de ser bem arrogante dizendo a verdade como se fosse a revelação final da série, com direito a plano americano, close no olho tremendo e até flashback! Mas o que eu quero discutir (então fiquem a vontade para deixar comentários sobre o assunto no link ali embaixo) é o comportamento descontrolado de tanta gente, que às vezes parece doença, mas na verdade é falta de vergonha na cara, de confiança em si mesmo e de respeito com o meu ouvido.(Agora me ocorreu que a vida dessa gente enrolada em “verdades” e mentiras deve ser bem emocionante...hehe)