De Li de Oliveira.
Cores, gritos, raças e crédulos. Tudo. Tudo ali. De uma só vez.
- E pro Bush tudoooo?
- NADAAAAAAAAAAAA !!!
- E como é que é?
- É festa! Festa!
- Vamos almoçar buchada!!!!!! – e todos iam ao delírio.
Acompanhando a massa um mais desavisado transeunte pergunta: - A parada gay não é só junho??
E ninguém o responde. Apenas seguem. Rumo a “só-Deus-sabe-onde”.
- Olha cerveja geladinha, é dois real, é dois real, ta geladinha. – e o comércio “alternativo” fazia sua vez como não é bobo e nem nada.
- Estamos aqui diretamente da avenida Paulista, acompanhando a manifestação contra o Presidente Americano que desembarca esta noite no Brasil... Por favor, você, o que está protestando? – pergunta a repórter a um rapaz em meio ao caos.
- Ah sei lá maluco, os cara falaram pra eu colá aqui pro grito, vim de boa. E se os homi colá a gente cai pra cima, demoro. – disse o entrevistado que mal podia falar de tantos piercings na boca.
A repórter o olhou com cara de interrogação, o agradece com um comprimento de cabeça, e encerra seu link. O que poderia ela concluir? Pelo menos nossos jovens falam dois idiomas?
Mais à frente a pancadaria, manifestantes mais afoitos sobem em cima de um carro e dispensam chutes no mesmo. Será que a placa dele era EUA?
Picham ônibus (quais brasileiros fazem uso!!!!), vão para cima dos policiais com porretes improvisados (estes policiais que zelam pela nossa segurança). Além de parar o trânsito de uma das principais avenidas da cidade. Aquela, que boa parte das pessoas trabalhadoras precisam pegar para chegar em seus lares.
Mas e o Bush mesmo? Com toda essa confusão quase me esqueço dele. Ah sim, ele vai bem obrigada. Chegando em seu luxuoso avião e seguindo escoltado ao Hilton, um dos nossos mais luxuosos hotéis paulistanos. Quais algumas exigências foram feitas ao mesmo, todas as dependências de lazer do hotel foram fechadas ao uso do Presidente americano. Ou melhor, ao não uso? Já que ele não permanecerá aqui por mais de 24 horas. Nada do hotel será utilizado além das paredes, porque TUDO foi trazido por ele, desde a cozinheira até a água que ele vai beber. Sim, ele trouxe sua própria marmitex! As ruas ao redor do hotel também foram fechadas. E mais um hotel foi reservado. Tendo como os hóspedes mais importantes os cachorros da segurança pessoal do Excelentíssimo Sr. God Bush.
A visita do presidente ao Brasil veio para fortalecer laços com o país e minar a ascendência de Chavéz, o venezuelano, não eu não falava do mexicano. Este nem Bush derruba. E discutir pautas como a do Álcool. Que o nosso presidente provavelmente não se importará com o aumento do preço, desde que até a meia noite seja Open Bar.
E um último grito de um manifestante quando a limusine atravessa em alta velocidade a entrada do hotel Hilton, quase atropelando um grupo de populares:- Bush a próxima viagem é pra Estônia não é? Manda um cartão postal de lá “ “Estonia” PQP e mando lembranças”
P S 1 : Alguns dos fatos são verdadeiros, outros são fictícios. Portanto, não acreditem em tudo que lhe falam.
P S 2 : Meu respeito a todos os descendentes da Estônia, somente foi um trocadilho (talvez de mau gosto, porém sem más intenções), mesmo que eu não saiba onde fica a Estônia.
Saturday, March 10, 2007
Thursday, March 08, 2007
Digite sua senha por favor
De Tiago Abad.
As senhas ou códigos surgiram há tempos imemoriais. São provenientes de bem antes da escrita, da roda, do fogo, do cigarro, da camisinha... Creio que surgiram de algum grunhido, resmungo, berro ou sinal, aos quais, na era das cavernas, homens utilizavam-nos pra caçar, como se o código fosse “vai!; já!; fudeu!”. Sim, eles já utilizavam o “fudeu”, bastava o surgimento de um Tiranossauro Rex.
O mundo foi evoluindo, as coisas foram mudando e hoje em dia se você disser “já” pra alguém, pode tomar um tapa, pode iniciar uma corrida, uma competição, uma detonação, uma explosão, ou simplesmente ligar seu computador no horário certo.
A evolução das coisas, provocou o surgimento de mais códigos, mais senhas, mais complicações, principalmente. De manhã, acordo, tomo café e ligo pro bank-line, digito minha senha pessoal, meu cpf, data de nascimento e minha senha alfabética. Vou pro trabalho, mas antes, tiro dinheiro no banco, digitei minhas senhas novamente. Sento em frente ao meu computador, tenho seis e-mails, um pessoal, um da empresa, um pra receber putaria, outro pra uma lista de discussões sobre alimentos modificados, um sobre a camada de ozônio e outro que criei pra entrar no Orkut. Aliás, pra entrar no Orkut, coloquei senha diferente das outras cinco contas, tenho medo que algum racker me complique.
Não posso esquecer, que a cada cadastro, tenho que confirmar a senha novamente, só pra certificar que não esquecerei, mas também, tem ali em baixo “esqueci minha senha”. Bom, o problema é se dentro do “esqueci minha senha”, enviarem um e-mail pra outro e-mail que também esqueci a senha.
Minha empresa é muito moderna, temos crachás com identificadores de códigos de barra, claro, pro almoço, cada um passa seu crachá e digita sua senha pessoal, mas esta é fácil, é apenas a data de aniversário invertida, não tem erro! Claro, a não ser que eu confunda com aquela que tem metade da data de minha esposa e metade da minha data de aniversário, mas é difícil de confundir, porque esta senha é de nossa conta conjunta. Diferente daquela conta que temos pro nosso filho, que tem a mesma senha da conta conjunta, mais o restante o ano de nascimento do Juca.
Uso bastante o cartão de débito, é a maior comodidade, mas, tenho cinco contas em bancos, acho que me confundo às vezes, sou xingado em algumas filas por pessoas impacientes, mas isso não tira meu humor. Só rezo pra não sofrer seqüestro relâmpago.
Ah, acabo de receber um correio de voz no celular! Mais uma senha, rápido e fácil, mensagem ouvida... era meu provedor de internet comunicando que fazem 60 dias que não altero minha senha.
Promoção! “Faça um Cartão Extra, obtenha 20% de desconto nas quartas-feiras”, to nessa! Mais uma senha, tudo fácil, é só colocar o número da minha placa do automóvel, que aliás, posso colocar a mesma senha do cartão do seguro... fácil, fácil.
Hoje estive contando, cartões de fidelidade Gol, TAM e VARIG (já que a empresa quebrou, uma senha a menos), cartões Carrefour e Pão de Açúcar, me cadastrei no youtube pra ver vídeos proibidos, provedor, internet bank (aliás, são senhas numéricas e alfabéticas que correspondem a números!), ligar e desbloquear o celular, retirar a proteção de tela do computador, pra instalar o windows vi mais códigos que todas as já citadas... chega!
É isso mesmo que eu quero, um mundo mais seguro!
As senhas ou códigos surgiram há tempos imemoriais. São provenientes de bem antes da escrita, da roda, do fogo, do cigarro, da camisinha... Creio que surgiram de algum grunhido, resmungo, berro ou sinal, aos quais, na era das cavernas, homens utilizavam-nos pra caçar, como se o código fosse “vai!; já!; fudeu!”. Sim, eles já utilizavam o “fudeu”, bastava o surgimento de um Tiranossauro Rex.
O mundo foi evoluindo, as coisas foram mudando e hoje em dia se você disser “já” pra alguém, pode tomar um tapa, pode iniciar uma corrida, uma competição, uma detonação, uma explosão, ou simplesmente ligar seu computador no horário certo.
A evolução das coisas, provocou o surgimento de mais códigos, mais senhas, mais complicações, principalmente. De manhã, acordo, tomo café e ligo pro bank-line, digito minha senha pessoal, meu cpf, data de nascimento e minha senha alfabética. Vou pro trabalho, mas antes, tiro dinheiro no banco, digitei minhas senhas novamente. Sento em frente ao meu computador, tenho seis e-mails, um pessoal, um da empresa, um pra receber putaria, outro pra uma lista de discussões sobre alimentos modificados, um sobre a camada de ozônio e outro que criei pra entrar no Orkut. Aliás, pra entrar no Orkut, coloquei senha diferente das outras cinco contas, tenho medo que algum racker me complique.
Não posso esquecer, que a cada cadastro, tenho que confirmar a senha novamente, só pra certificar que não esquecerei, mas também, tem ali em baixo “esqueci minha senha”. Bom, o problema é se dentro do “esqueci minha senha”, enviarem um e-mail pra outro e-mail que também esqueci a senha.
Minha empresa é muito moderna, temos crachás com identificadores de códigos de barra, claro, pro almoço, cada um passa seu crachá e digita sua senha pessoal, mas esta é fácil, é apenas a data de aniversário invertida, não tem erro! Claro, a não ser que eu confunda com aquela que tem metade da data de minha esposa e metade da minha data de aniversário, mas é difícil de confundir, porque esta senha é de nossa conta conjunta. Diferente daquela conta que temos pro nosso filho, que tem a mesma senha da conta conjunta, mais o restante o ano de nascimento do Juca.
Uso bastante o cartão de débito, é a maior comodidade, mas, tenho cinco contas em bancos, acho que me confundo às vezes, sou xingado em algumas filas por pessoas impacientes, mas isso não tira meu humor. Só rezo pra não sofrer seqüestro relâmpago.
Ah, acabo de receber um correio de voz no celular! Mais uma senha, rápido e fácil, mensagem ouvida... era meu provedor de internet comunicando que fazem 60 dias que não altero minha senha.
Promoção! “Faça um Cartão Extra, obtenha 20% de desconto nas quartas-feiras”, to nessa! Mais uma senha, tudo fácil, é só colocar o número da minha placa do automóvel, que aliás, posso colocar a mesma senha do cartão do seguro... fácil, fácil.
Hoje estive contando, cartões de fidelidade Gol, TAM e VARIG (já que a empresa quebrou, uma senha a menos), cartões Carrefour e Pão de Açúcar, me cadastrei no youtube pra ver vídeos proibidos, provedor, internet bank (aliás, são senhas numéricas e alfabéticas que correspondem a números!), ligar e desbloquear o celular, retirar a proteção de tela do computador, pra instalar o windows vi mais códigos que todas as já citadas... chega!
É isso mesmo que eu quero, um mundo mais seguro!
Wednesday, March 07, 2007
Turistas. Aja como um.
De Fernando Alonso...
Tem dia que de noite é uma merda. Eu sei, eu sei, já usei essa expressão antes, em outro texto, outro personagem, mas aquele texto é aquele, esse aqui é esse. E acho que essa frase cai perfeitamente aqui.
Barcelona, Julho de 2000. Cheguei tarde demais. Esperava alcançar a cidade antes das férias, mas não foi possível. Certo, vamos entrar na onda dos turistas então. Aliás, sempre que viajamos somos turistas, mas engraçado como fazemos questão de parecer que não. E foi assim, querendo dar uma de não-turista, que eu tomei na cabeça, ou melhor, quase.
Caía a tarde e resolvi com meu amigo sair na noite Catalã. Apesar conhecer pessoas na cidade, resolvemos improvisar e perguntar por ali mesmo no hotel – localizado na rambla*, próximo ao centro - onde poderíamos nos divertir. Todos apontavam para as boates no porto antigo, as mais famosas....para turistas claro.
Com o sorriso no rosto, cabelinho ajeitado, perfuminho, ficamos prontos. Eu e o Fê. Como não confiava muito no hotel, tive a sensacional idéia de levar o passaporte junto (isso mesmo, para uma boate, aonde iria me embebedar). Tem gente que não aprende.
Assim fomos. A pé, pois éramos ‘’locais’’. Chegando lá encontramos uma brasileira que conhecemos durante um passeio de tarde. Estava toda simpática para meu amigo, que não perdeu tempo em tacar-lhe uns beijos. Assim, algumas tequilas depois eu estava lá, sorridente, falando com todo mundo e quase dançando break, quando encostei no bar, pedi outra e comecei a conversar com um suíço. Cara gente fina, falava bem inglês, mesmo bêbado foi fácil o diálogo. Esse foi o problema, gente fina demais. Sim, ele me contou que gostava do carnaval brasileiro, e mais. Disse que adorava chacoalhar sua ‘’bunda’’ nas festas. Nesse momento eu quase esguichei a cerveja no olho do barman. Lancei um sorriso amarelo para meu ‘’amigo’’ e saí de banda. Primeiro revés da festa. Mas um brasileiro não desiste nunca, e lá fiquei, fiquei, fiquei ‘’travado’’.
Sabia que meu amigo havia voltado ao hotel, e resolvi fazer igual, mesmo imaginando que ele poderia estar no quarto (e pior, na minha cama) com a menina.
E como todo sujeito deveras embriagado, voltei tropeçando do porto até o hotel, que se localizava na própria rambla*, porém situado num local tido como ‘’perigoso’’ para os transeuntes tarde da noite. Todos são instruídos a andarem ao centro da rambla*, e não pelas laterais, mas o maioral aqui obviamente esqueceu da regra e foi pela lateral. Ali fui abordado por 4 jovens marginais, um deles bem grandinho, maior que eu. Começaram a fazer aquela brincadeira de ‘’Ronaldinho, Romário, Rivaldo'', que por sinal é a coisa mais irritante numa viagem e eu, bêbado, notei que estava com problemas. Foi quando nosso bandido español ‘’maiorzinho’’ me imobilizou pelas costas. Na hora me veio um único pensamento: FODEU. Os moleques começaram a me bolinar (veja bem, não no sentido sexual da palavra) buscando dinheiro, e só me preocupei com o passaporte. O medo foi tanto que a adrenalina disparou, e eu fiquei sóbrio. Consegui derrubar o grandão no chão, caindo junto. Mas quatro são quatro e levantei pensando que iria tomar uma bela surra. Foi aí que os moleques fugiram. Olhei para o lado e vi umas señoras olhando espantadas, e um homem também. Eles acabaram assustando os garotos, e assim eu levantei, ergui a cabeça como se fosse um Lorde, como se nada tivesse acontecido e voltei pro hotel, com vontade de deixar as coisas lá e sair com um pau atrás deles. Foi quando entrei no quarto chutando a porta e peguei meu amigo de cueca tentando se esconder como se fosse uma virgem e a menina, de calcinha e sutiã, super à vontade. Pouco se importando com o flagra, ela calmamente veio em minha direção com um olhar de preocupação ‘’ Oi Fê, tá tudo bem?’’. Enquanto isso, meu amigo ainda constrangido tentava sem muito sucesso colocar a calça. Assim, a dúvida foi tamanha em saber qual dos 2 me ajudaria a procucar os moleques que acabei desistindo da empreitada e fui dormir. Sóbrio.
* La Rambla (Barcelona) – Nome figurativo da principal avenida da cidade, que discorre entre a Plaza de Cataluña (ponto central importante da cidade) até o porto antigo, onde se situa a estátua de Cristobal Colón. Essa avenida peatonal tem aproximadamente 1,5 km de extensão, e está cheia de quiosques de flores, mercadores, cafés, comércio, hotéis e edifícios de relevante importância, como o teatro de El Liceo e o Palácio de la Virreina.
Tem dia que de noite é uma merda. Eu sei, eu sei, já usei essa expressão antes, em outro texto, outro personagem, mas aquele texto é aquele, esse aqui é esse. E acho que essa frase cai perfeitamente aqui.
Barcelona, Julho de 2000. Cheguei tarde demais. Esperava alcançar a cidade antes das férias, mas não foi possível. Certo, vamos entrar na onda dos turistas então. Aliás, sempre que viajamos somos turistas, mas engraçado como fazemos questão de parecer que não. E foi assim, querendo dar uma de não-turista, que eu tomei na cabeça, ou melhor, quase.
Caía a tarde e resolvi com meu amigo sair na noite Catalã. Apesar conhecer pessoas na cidade, resolvemos improvisar e perguntar por ali mesmo no hotel – localizado na rambla*, próximo ao centro - onde poderíamos nos divertir. Todos apontavam para as boates no porto antigo, as mais famosas....para turistas claro.
Com o sorriso no rosto, cabelinho ajeitado, perfuminho, ficamos prontos. Eu e o Fê. Como não confiava muito no hotel, tive a sensacional idéia de levar o passaporte junto (isso mesmo, para uma boate, aonde iria me embebedar). Tem gente que não aprende.
Assim fomos. A pé, pois éramos ‘’locais’’. Chegando lá encontramos uma brasileira que conhecemos durante um passeio de tarde. Estava toda simpática para meu amigo, que não perdeu tempo em tacar-lhe uns beijos. Assim, algumas tequilas depois eu estava lá, sorridente, falando com todo mundo e quase dançando break, quando encostei no bar, pedi outra e comecei a conversar com um suíço. Cara gente fina, falava bem inglês, mesmo bêbado foi fácil o diálogo. Esse foi o problema, gente fina demais. Sim, ele me contou que gostava do carnaval brasileiro, e mais. Disse que adorava chacoalhar sua ‘’bunda’’ nas festas. Nesse momento eu quase esguichei a cerveja no olho do barman. Lancei um sorriso amarelo para meu ‘’amigo’’ e saí de banda. Primeiro revés da festa. Mas um brasileiro não desiste nunca, e lá fiquei, fiquei, fiquei ‘’travado’’.
Sabia que meu amigo havia voltado ao hotel, e resolvi fazer igual, mesmo imaginando que ele poderia estar no quarto (e pior, na minha cama) com a menina.
E como todo sujeito deveras embriagado, voltei tropeçando do porto até o hotel, que se localizava na própria rambla*, porém situado num local tido como ‘’perigoso’’ para os transeuntes tarde da noite. Todos são instruídos a andarem ao centro da rambla*, e não pelas laterais, mas o maioral aqui obviamente esqueceu da regra e foi pela lateral. Ali fui abordado por 4 jovens marginais, um deles bem grandinho, maior que eu. Começaram a fazer aquela brincadeira de ‘’Ronaldinho, Romário, Rivaldo'', que por sinal é a coisa mais irritante numa viagem e eu, bêbado, notei que estava com problemas. Foi quando nosso bandido español ‘’maiorzinho’’ me imobilizou pelas costas. Na hora me veio um único pensamento: FODEU. Os moleques começaram a me bolinar (veja bem, não no sentido sexual da palavra) buscando dinheiro, e só me preocupei com o passaporte. O medo foi tanto que a adrenalina disparou, e eu fiquei sóbrio. Consegui derrubar o grandão no chão, caindo junto. Mas quatro são quatro e levantei pensando que iria tomar uma bela surra. Foi aí que os moleques fugiram. Olhei para o lado e vi umas señoras olhando espantadas, e um homem também. Eles acabaram assustando os garotos, e assim eu levantei, ergui a cabeça como se fosse um Lorde, como se nada tivesse acontecido e voltei pro hotel, com vontade de deixar as coisas lá e sair com um pau atrás deles. Foi quando entrei no quarto chutando a porta e peguei meu amigo de cueca tentando se esconder como se fosse uma virgem e a menina, de calcinha e sutiã, super à vontade. Pouco se importando com o flagra, ela calmamente veio em minha direção com um olhar de preocupação ‘’ Oi Fê, tá tudo bem?’’. Enquanto isso, meu amigo ainda constrangido tentava sem muito sucesso colocar a calça. Assim, a dúvida foi tamanha em saber qual dos 2 me ajudaria a procucar os moleques que acabei desistindo da empreitada e fui dormir. Sóbrio.
* La Rambla (Barcelona) – Nome figurativo da principal avenida da cidade, que discorre entre a Plaza de Cataluña (ponto central importante da cidade) até o porto antigo, onde se situa a estátua de Cristobal Colón. Essa avenida peatonal tem aproximadamente 1,5 km de extensão, e está cheia de quiosques de flores, mercadores, cafés, comércio, hotéis e edifícios de relevante importância, como o teatro de El Liceo e o Palácio de la Virreina.
Monday, March 05, 2007
Esquizofrenia Tecnológica
De Suzana Marion
Márcia acordou atrasada. Ainda com os olhos meio fechados bateu com força na porta das gêmeas e gritou o costumeiro “ta na hora”. Quando finalmente chegou à cozinha, impecável em seu terninho cinza claro, encontrou as crianças e o namorado, irritantemente sorridentes para seu estado de espírito, já acendendo as velinhas, e só então se deu conta de que era 25 de abril, seu aniversário de 30 anos.
De mau-humor e com muita pressa, agradeceu os presentes sem muita empolgação, deu um beijo assim-assim no Eduardo e enquanto ele passava o chip dela para o novo celular, ela se serviu num guardanapo de uma fatia fina do bolo. Mal abriu seus presentes, foi saindo para a garagem pisando duro e quase se esqueceu de levar as meninas para o colégio. Se sentiu meio arrependida pela grosseria, mas tinha uma reunião importante no primeiro horário. Era uma conta grande de uns clientes chatos e se as crianças ficassem chateadas comentaria os R$800 mensais que gastava só de escola com cada uma.
Márcia deixou o carro na garagem, chamou o elevador que não vinha nunca e resolveu subir de escada mesmo os 4 lances até o escritório. Foi aí que ela ouviu alguém chamar Márcia, Márcia. Ela olhou pra trás e, como não viu ninguém, continuou subindo. Sem cumprimentar a secretária, foi logo entrando na sala de reuniões e enquanto montava a apresentação ia se desculpando pelo atraso. Mesmo com um semblante de pitbull, a apresentação foi um sucesso. Despediu-se dos clientes e ordenou à secretária que não fosse interrompida. Colocou o fone de ouvido e o mesmo CD tocando inúmeras vezes, até que sentiu fome.
Logo que entrou no Almanara ouviu mais uma vez a voz chamando seu nome e saiu de lá correndo rumo aos 2 hambúrgueres com alface, queijo, molho especial... Por toda a tarde Márcia procurou se ocupar, tirar aquela voz meio metálica da cabeça, mas a voz insistia em chamar Márcia, Márcia, pelo menos de hora em hora. Pensou no tio que ouvia vozes, coitado, um dia matou a esposa porque sua gata mandou e morreu numa clínica, amarrado e tomando choque. Mas ela não podia estar louca, ligou para a endocrinologista e perguntou se o novo remédio para emagrecer não dava barato, mas a Dra. garantiu que era 100% seguro.
Às 15 horas Márcia pegou as crianças no colégio e as levou para a natação, depois as deixou na casa da sua mãe e saiu com o carro sem rumo. Dirigiu por alguns minutos com a voz dizendo Márcia, Márcia, até que passou em frente a uma dessas igrejas neo-pentecostais e resolveu entrar. Sentou na primeira fila e ouviu muitos testemunhos de gente perturbada, que não dava valor a família, que achava que o dinheiro era o mais importante, até que entraram por aquelas portas e tiveram suas vidas transformadas. A essa altura Márcia já chorava alto e, no fim do culto, foi conversar com o pastor da igreja, pedir uma oração, pois a voz continuava a dizer Márcia, Márcia entre uma música e outra.
- É claro que eu posso orar por você, querida. Mas você não gostaria de atender seu celular primeiro?
- Mas meu celular não está tocando!
- Seu nome não é Márcia? Durante todo o sermão eu escutei seu celular tocando, chamando este nome.Então Márcia abriu a bolsa e viu as 35 chamadas perdidas do namorado. Abraçou e agradeceu o pastor, nem quis mais a oração e de alma lavada foi correndo pra casa devolver o presente e terminar tudo com o Eduardo. “Como é que ele se atreve a gravar um toque desses para o meu celular e não avisa nada?”
Márcia acordou atrasada. Ainda com os olhos meio fechados bateu com força na porta das gêmeas e gritou o costumeiro “ta na hora”. Quando finalmente chegou à cozinha, impecável em seu terninho cinza claro, encontrou as crianças e o namorado, irritantemente sorridentes para seu estado de espírito, já acendendo as velinhas, e só então se deu conta de que era 25 de abril, seu aniversário de 30 anos.
De mau-humor e com muita pressa, agradeceu os presentes sem muita empolgação, deu um beijo assim-assim no Eduardo e enquanto ele passava o chip dela para o novo celular, ela se serviu num guardanapo de uma fatia fina do bolo. Mal abriu seus presentes, foi saindo para a garagem pisando duro e quase se esqueceu de levar as meninas para o colégio. Se sentiu meio arrependida pela grosseria, mas tinha uma reunião importante no primeiro horário. Era uma conta grande de uns clientes chatos e se as crianças ficassem chateadas comentaria os R$800 mensais que gastava só de escola com cada uma.
Márcia deixou o carro na garagem, chamou o elevador que não vinha nunca e resolveu subir de escada mesmo os 4 lances até o escritório. Foi aí que ela ouviu alguém chamar Márcia, Márcia. Ela olhou pra trás e, como não viu ninguém, continuou subindo. Sem cumprimentar a secretária, foi logo entrando na sala de reuniões e enquanto montava a apresentação ia se desculpando pelo atraso. Mesmo com um semblante de pitbull, a apresentação foi um sucesso. Despediu-se dos clientes e ordenou à secretária que não fosse interrompida. Colocou o fone de ouvido e o mesmo CD tocando inúmeras vezes, até que sentiu fome.
Logo que entrou no Almanara ouviu mais uma vez a voz chamando seu nome e saiu de lá correndo rumo aos 2 hambúrgueres com alface, queijo, molho especial... Por toda a tarde Márcia procurou se ocupar, tirar aquela voz meio metálica da cabeça, mas a voz insistia em chamar Márcia, Márcia, pelo menos de hora em hora. Pensou no tio que ouvia vozes, coitado, um dia matou a esposa porque sua gata mandou e morreu numa clínica, amarrado e tomando choque. Mas ela não podia estar louca, ligou para a endocrinologista e perguntou se o novo remédio para emagrecer não dava barato, mas a Dra. garantiu que era 100% seguro.
Às 15 horas Márcia pegou as crianças no colégio e as levou para a natação, depois as deixou na casa da sua mãe e saiu com o carro sem rumo. Dirigiu por alguns minutos com a voz dizendo Márcia, Márcia, até que passou em frente a uma dessas igrejas neo-pentecostais e resolveu entrar. Sentou na primeira fila e ouviu muitos testemunhos de gente perturbada, que não dava valor a família, que achava que o dinheiro era o mais importante, até que entraram por aquelas portas e tiveram suas vidas transformadas. A essa altura Márcia já chorava alto e, no fim do culto, foi conversar com o pastor da igreja, pedir uma oração, pois a voz continuava a dizer Márcia, Márcia entre uma música e outra.
- É claro que eu posso orar por você, querida. Mas você não gostaria de atender seu celular primeiro?
- Mas meu celular não está tocando!
- Seu nome não é Márcia? Durante todo o sermão eu escutei seu celular tocando, chamando este nome.Então Márcia abriu a bolsa e viu as 35 chamadas perdidas do namorado. Abraçou e agradeceu o pastor, nem quis mais a oração e de alma lavada foi correndo pra casa devolver o presente e terminar tudo com o Eduardo. “Como é que ele se atreve a gravar um toque desses para o meu celular e não avisa nada?”
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