Postado por Thiago Fabrette
O mundo mudou e não tem nada mais verdadeiro que isso. Mas o mundo mudou demais, demais para deixar as coisas como estão e tentar viver obtuso. Na real, isso seria muito bom: deixar a vida me levar.
O mundo mudou...
Ovos de galináceos não afetam mais o colesterol, e galináceos são os parentes mais próximos dos dinossauros.
O espaço negro e escuro não é mais um espaço vazio, e sim um espaço preenchido pela “matéria escura”, ainda sem nome (outra coisa que mudou, antigamente, um nome já estaria em nossas matérias científicas).
Aliás, minhas parcelas do corpo, que antes tinham nomes mais populares, agora se chamam “Fíbula, Panturrilha, Escápula”.
A Petrobrás é a mais promissora empresa tupiniquim, não mais a poluidora ambiental, que não investe em segurança contra vazamentos, pois é mais barato que a multa – grande dilema.
O mundo mudou, esquentou demais, vem esquentando demais.
A música não vale nada, não se vende, eu posso fazer um download. A novela das oito começa às nove.
O ômega 3 é necessário, a próstata é frágil, o café faz bem.
O Prozac faz o bem. Faz feliz.
O mundo mudou.
O meu presidente mudou e é tão obtuso quanto eu gostaria de ser, mas mesmo assim, continuo achando que ser como ele não é bom. A minha noção de “bom” mudou.
O mundo mudou, o funk mudou, a bossa mudou.
O combustível mudou. Tri-combustível é a próxima.
O mundo mudou?
Se mudou tanto, por que ainda algumas coisas realmente estão enraizadas, estáticas, imóveis, inertes?
Os políticos continuam impunes, continuam odiados e alimentando a esperança vã.
O meu dinheiro continua minguado, o trânsito continua estagnado, enraizado, imóvel. Um amigo diz que, daqui a pouco, ao invés de IPVA, vamos pagar IPTU para dirigir em São Paulo.
O mundo mudou?
Programas sociais continuam a ser usados como palanques, modelos perfeitos de conquista de votos e de poder.
Meus pais continuam iguais, meus filhos continuarão me culpando, eu continuo achando a juventude diferente, verdadeiros etês. E pensar que achavam isso de mim.
O Chico continua igual, Jô Soares continua idêntico.
A amizade mudou, mas não faço mais amigos, continuo com os mesmos de sempre. E as raízes são cada vez mais profundas.
Eu mudei?
Sim, mudei. Comi mais ovos, fiz menos amigos, ganhei e perdi dinheiro, comprei um carro flex, tomei Prozac, café, comi tomate para preservar a próstata, mesmo sem gostar, comi peixe, escutei funk, baixei músicas.
E salve Chico Buarque, Jô Soares e o Hubble.
Tuesday, February 06, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
9 comments:
Seu texto me causou suspiros e uma disconfiança: será que eu também mudei?
bjx
Interessante! Eu mudei também... talvez muitas coisas não citadas também mudaram, afinal de contas, até as fichas do telefone público viraram objeto de colecionadores. E a Vale do Rio Doce é orgulho nacional... mas não é nossa! rsrrsrs Texto bem bom! abraço!!
Tiago Abad
Logico que nem todas as mudanças são para o bem... mas se tudo fosse sempre uma mesmice o quão insuportavel seria o mundo?
Seja bem vindo! Bjos.
Logico que nem todas as mudanças são para o bem... mas se tudo fosse sempre uma mesmice o quão insuportavel seria o mundo?
Seja bem vindo! Bjos.
Thiagón, vc mudou mesmo, até lançou livro! Boa sorte por aqui. Abraço do Botter.
Fala garoto!
mudar é legal....se bem que às vezes bate uma síndrome de Peter Pan, aí complica...hehe
Grande abraço!
Fe Alonso
É isso aí Tiagão...mudar para o mundo continuar girando. Só não pode mudar a nossa vontade de escrever e tentar mudar o mundo.
Abs e Boa sorte!
Muitas vezes as mudanças ocorrem também em nosso interior, em ritmo mais lento, porém observando tantas mudanças exteriores, de repente nos damos conta do quanto gradativamente mudamos por dentro.
Ótimo texto!
Bjitos!!
Lu Muniz
Post a Comment