Monday, June 11, 2007

Bebê

De Suzana Marion


Bebê,

Sentir falta é colocar mais um pouco de álcool na ferida, pois sempre lembra o ruivo Nando que “a falta é a morte da esperança” e eu não espero mais te ver. Não quero sentir sua falta, mas sim uma saudade gostosa de tudo o que vivemos e sonhamos juntos em todos esses anos. Eu guardarei os nossos beijos, a nossa troca de incertezas e a apreensão quanto ao futuro na famosa “latinha de ex”, que eu nunca deixei você ver.
Amei ter aprendido a engatinhar com você e dar os meus primeiros passos segurando em suas mãos. Cada palavra me emocionou, cada promessa e, acima de tudo, cada silêncio. Eu decorei tudo em você, seus gestos, seu modo de agir, sua delicadeza... eu pressinto quando o telefone toca e é você, reconheço o som do seu carro dobrando a esquina, eu sei dizer quantos cabelinhos nascem fora do lugar na sua sobrancelha. Até hoje me arrepio quando você chega perto, mesmo com toda a intimidade que nós temos.
Eu antecipo nosso fim nessa carta, como uma criança se despedindo do acampamento de verão, levando comigo todas as lembranças, as boas e também as más, como se os joelhos ralados fossem um troféu da diversão. Estou consciente de que essas lembranças se desgastarão com o tempo e que o seu sorriso fatalmente se perderá em mim, mas está na hora de crescer.
Chegou o momento de seguir em frente, de viver de verdade, de superar as ilusões. O nosso problema é que eu já me decidi, já sei o que quero, o que mais quero no mundo. Está gravado nos meus ossos que eu quero ficar pra sempre com você! Mas você não se decidiu ainda e é provável que não se decida, então não te farei sofrer com as minhas cobranças, com a minha ansiedade, com a minha verdade. A gente não sabe o que está fazendo quando diz “pra sempre” e vamos assumir a verdade, quase nada é pra sempre, mas eu não vou mais te fazer sofrer esperando uma luz te dizer o que é certo fazer.
Eu te devolvo pra sua prisão, porque a minha liberdade não te libertou, não importa o quanto eu leia nos seus olhos essa paixão latente, porque eu quero sempre mais e pra você tudo está bom. Então eu vou embora (e isso não é covardia, você já me encontrou assim), assumindo o que quero e o que sinto e lamentando profundamente não estarmos na mesma página. E eu juro que você vai ser (mais uma vez) pra sempre, a minha primeira opção.

6 comments:

Lu Paiva said...

É. Texto propício.
Devo estar meio sensível...

Ai ai... (suspiros)

Anonymous said...

Certamente uma história que cada um de nós viveu pelo menos uma vez na vida...
bjs

Bruno Carvalho said...

Fez assim como o nome do blog "soltando o verbo" (no bom sentido, é claro). Com uma sinceridade e autenticidade fora do comum. O que faz com que muitos (incluindo eu) se lembrem de um grande amor. Infelizmente, aquele amor inocente já não existe mais. Difícil descrever com palavras, e você fez isso brilhantemente... Parabéns!!

Abraços!

Anonymous said...

Ah não! não gostei! não pode desistir!Mesmo quando é difícil, sempre dá pra tentar, se não for agora, daqui a pouco!

bjos cunharada!!!

Li de Oliveira said...

Que lindo!! Que sincero... que verdade... a minha, a sua e de quantos mais lerem. Um filme que todos infelizmente vemos, o fim pré anunciado e necessario.

Beijos

Acerola das Neves said...

e assim vai-se vivendo, já diz o jargão... bjs