Monday, September 24, 2007

O Upgrade Feminino

De Luciana Muniz

Houve um tempo em que o sentido divino era feminino e também masculino. Deuses e Deusas conviviam no universo e nos corações dos que os cultuavam, olhando por suas criaturas.
Com o passar dos séculos a balança pendeu para um dos lados em detrimento do divino feminino. Assim surgiu a árdua tarefa feminina de recuperar o espaço perdido. Durante este processo a figura feminina passou por alguns “upgrades” antes de ser tornar a versão que conhecemos atualmente.
Na Versão “Original”, após a chegada do cristianismo e as lendas de Adão e Eva, os homens subiram em um pedestal e as mulheres passaram a se submeter e, pior, a acreditar que eram inferiores aos seus maridos, seus amantes, seus irmãos e seus pais! Uma cultura machista se instalou e a maior ambição de uma mulher passou a ser o casamento e a criação dos filhos. E assim foi por muitos anos...
Já na Versão Medieval haviam mulheres corajosas, à frente do seu tempo e das convenções sociais, que lutavam, cada qual à sua maneira, para minimizar de alguma forma tanta injustiça. Como mulheres assim eram escassas, os homens se voltavam para elas com a fúria de um gigante que recebe uma pedrada na testa de um moleque travesso e ágil.
Então começaram a transformar as mulheres inteligentes e intuitivas em bruxas, bacantes e seguidoras do diabo... Muitas foram perseguidas e queimadas vivas por conta da feminilidade que transbordava de seus poros... A mesma feminilidade que atraía estes mesmos homens... Todos sabem que homens e mulheres se procuram e se atraem, mas a atração se transforma em agressividade se um dos lados se sente em terreno desconhecido. Subjugar o que não se conhece passou a ser a medida adotada pela sociedade machista.
Durante a Versão Moderna felizmente os anos escorreram como água em correnteza e os homens passaram a questionar mais abertamente a “intuição feminina” e a localização exata do tal “ponto G”.
As mulheres por sua vez, passaram a não mais se calar e a cada vez mais conquistar, mesmo que devagar, o seu próprio espaço. Espaço este não apenas no terreno profissional, mas também em casa e no cuidado com os filhos. Lentamente os papéis começam a se inverter e a balança começa a dar sinais de um novo ponto de equilíbrio.
Em nossa Versão Contemporânea, escapar das armadilhas é o maior desafio das mulheres do século XXI, temos a missão de ser excelentes profissionais, mães, amantes, donas de casa e ainda cuidar do nosso bem estar como pessoa. Mais uma vez a tarefa imposta não é fácil de se cumprir. Mas ser mulher é mais do que intuir se um dos filhos precisa de ajuda, é mais do que sofrer por amor ou não ter vergonha de chorar.
E ainda carregamos o rótulo de sexo frágil... Intimamente sabemos que isso não é verdade, mas não ser frágil também não significa saber tudo, o bom senso deve prevalecer sempre. Não é justo criticar atitudes masculinas e por conta do feminismo nos transformarmos em “mulheres homens”, ou seja, mulheres com atitudes de homens, com a doce ilusão de que assim seremos modernas e vitoriosas. Ser mulher é ser forte, é saber enfrentar os desafios, mas nunca, em momento algum, perder a delicadeza que nos faz ser aquilo que somos: MULHERES!

3 comments:

Cesar Veneziani said...

Mulher moderna não é a que se masculiniza, mas sim a que se impõe pela sua capacidade sem perder a feminilidade! Perfeita sua análise!

Anonymous said...

Adorei o seu texto! Parabéns! Você traduziu exatamente o momento que eu estou passando no resgate ao Feminino, que foi massacrado durante séculos e agora parece que está ressurgindo...

Anonymous said...

Em tempo, o sentido do divino, tanto masculino quanto feminino existiu em civilizações posteriores ao chamado "início dos tempos", já que a Grécia e o Egito, principais pólos politeístas da antigüidade, pelo menos da documentada, e posteriormente Roma, colocavam os seus Deuses e Deusas em pé de igualdade. O Egito mais que a Grécia, uma vez que Zeus era masculino e reinava soberano, sobre os deuses menores. O que também refletia na sociedade grega. Já no Egito, inclusive, houve uma Faraó do sexo feminino, chamada Hatshepsut (Hat shep sut), que reinou por volta de 5 mil anos atrás.

Naquilo que é chamado no texto de "versão original", vale lembrar que Adão e Eva e cristianismo distam, pelo menos, em 3 mil anos. Logo, não devem ser jogados no mesmo "balaio" como exemplo. Além do que, colocar-se em pedestal é o mesmo que pedir para ruir, pois basta um pequeno golpe para que o "macho" venha abaixo.

Se o exemplo for a civilização semita, tanto judeus quanto árabes realmente imputavam um papel secundário às mulheres, fruto da má interpretação dos ensinamentos antepassados, mas principalmente como uma maneira de dominar e manipular os menos favorecidos, que sempre existiram, fossem homens ou mulheres.

Voltando um pouco ao antigo Egito, quando Abrão foi para lá e fez Sarai passar-se por sua irmã, em virtude de sua beleza e do medo que sentiu de apresentá-la aos príncipes egípcios como sua esposa - pois achou que poderia ser morto para que sua mulher ficasse livre para casar-se com o Faraó - acabou por entregá-la de mão beijada a ele que, ao descobrir a verdade, expulsou-os de suas terras.

Percebe-se que nossas referências históricas judaico-cristãs não são nenhum grande exemplo de respeito e dignidade; ao contrário dos "pagãos" egípcios. Uma sociedade que respeitava a mulher em igualdade ao homem.

Inclusive, quando da chegada de Meneláu, após a guerra de Tróia, para recompor seu exército em terras egípcias, Helena, pivô, sem querer sê-lo, de tal disputa, recebeu a proteção de Ramsés 2º e de Nefertari, Rei e Rainha do Egito, contra a vontade do grego, que exigia seu retorno à Grécia, mesmo contra seu arbítrio. No final, para evitar mais luta, ela vai embora e comete suicídio ainda no Nilo. Caso tivesse resolvido ficar, teria contado com a liberdade que a população egípcia já gozava naquela momento.

Já na idade média, nada mais foi que uma reprogramação da cultura israelita sob a égide do dito cristianismo. Qualquer um que se opusesse à ideologia vigente e aos líderes religiosos, fossem homens ou mulheres, corriam o risco de irem para fogueira, serem enforcados ou, na melhor das hipóteses, encarcerados. Muitos pagaram o preço, outros voltaram atrás nas suas teorias em relação ao antropo, geo e héliocentrismo. Mas quem realmente ficou na história não foi nenhum homem, mas uma mulher. Lembram-se de Joana?

Atualmente sabemos que, historicamente, em momento nenhum a mulher se calou. Apenas não havia uma mídia que desse espaço para que ela se manifestasse mundialmente, e lucrasse com isso, claro.

Por outro lado, as mulheres, dentro de seus casúlos, como quis dizer a autora do texto, o que é falacioso, sempre viveram com imensa sabedoria, e aí vai o ponto positivo do que foi escrito: em virtude de sua intuição. A mulher sempre sentiu, e agiu em acordo a esse sentimento. Ao contrário do que foi dito, quem vem descobrindo essa propriedade é o próprio homem. Exclusivo ensino de sociedades secretas até então, a utilização da intuição hoje escancarou-se e percebemos o quanto ela é necessária, fundamental, nos dias conturbados de hoje. Algo que as mulheres, que nunca foram e nunca serão vítimas de quem quer que seja, sempre tiveram presente em suas vidas.

Num plano dual é óbvio que homens e mulheres, naturalmente, tem papéis diversos para desempenharem. Não fosse assim, não haveria necessidade de dois sexos diferentes. Para simples procriação, todos poderíamos ser hermafroditas.

Na diferença desses papéis é que surgiram as discriminações, os complexos de superioridade e inferioridade, E AMBOS SÃO COMPLEXOS, as lutas internas - em cada indivídio, o descontentamento, os movimentos separatistas, e toda essa gama de desencontrontos e insatisfação. Só não sabe-se quando, como ou porque impregnou-se tão fundo. Ou sabe-se?

Parece que ao invés de trazer a evolução, os movimentos feministas atuais, ou aqueles com esse mote, trouxeram um estado nunca antes experimentado. Ao invés de libertar, prendeu. E o sexo assumiu o papel de divisor de águas entre a liberdade e a penitência feminina.

Engraçado falar-se em ponto "G" como sinônimo de reconhecimento(!?), ou pior, como o descobrimento de algo importantíssimo e que sempre passou despercebido. Ainda mais num momento onde paga-se qualquer preço pelos holofotes da pernóstica sociedade em que nos encontramos na qual o corpo da mulher virou moeda de troca e é usado como elemento de poder.

Com essa conotação, o sexo enquanto sinônimo de liberdade, a dita liberdade, além de relativa, e portanto efêmera, trás o efeito contrário do desejado, pois afasta a mulher de sua essência.

Em virtude de tudo isso, só resta aclamar-se com um VIVA as Prostitutas! Pelo menos elas são sinceras e sabem exatamente o que estão fazendo. Não são hipócritas, nem omissas. E quando deitam em seus travesseiros, depois de um longo dia de trabalho, sabem exatamente quem são. Elas sentem. Intuem. E não trocam os pés pelas mãos. E vocês? Sabem quem são?

Não gostaram?

Existe outra possibilidade. Tem uma saída. Basta buscar na essência o que se É! Aí, não vai ter sociedade que consiga ditar o que é certo ou errado e cada um viverá sua vida em acordo com aquilo que reconheceu de si. Medos, frustrações, inseguranças, tudo esvai-se. E o que sobressai é o SER.

Homem ou Mulher, não importa. Apenas SER aquilo que se É.

Luiz