Monday, September 17, 2007

Socorro, SuperNanny!

De Suzana Marion

O mocinho planejou tudo por semanas, em todos os detalhes. Trocou cartas por meses, e com elas enviava estrelas, para que a mocinha não estranhasse o céu que ele lhe prometeu. Depois de aguardar o tempo necessário decidiu acabar com aquele ‘e se’ que o consumia. Fez todas as manobras possíveis, lutou contra uns dragões, rodeou o castelo... a mocinha na janela da mais alta torre já lhe sorria. Ela aguardou por meses a fio seu resgate, todas as noites imaginou seu rosto naqueles segundos confusos que antecedem o sono. Não era tão crescido quanto imaginara e suas pernas e braços tremiam à medida que seu coração saltava de ansiedade... Daí, durante a escalada ele lembrou que deixou o feijão no fogo, que tinha que pegar a tia doente na rodoviária, sentiu vontade de fumar outro cigarro, dor-de-cabeça, dor-de-barriga, ou qualquer coisa do tipo. Desceu os poucos metros que subira, deu umas moedas para o porteiro, pegou o elevador. Entrou depressa e deu um selinho na princesa sem ao menos saborear o momento e de nervoso esqueceu o número da árvore em que estacionou o Alasão. Chamou um táxi. Entre suas desculpas, desvios e atalhos não houve entrega ou alegria, pois a proximidade do amanhã inevitável já o assombrava e fez vã toda a sua jornada. Ela olhava pra ele e ele olhava pela janela durante todo o caminho. Pediu ao motorista que o deixasse primeiro em casa porque era mais perto e a princesa foi embora resignada e sozinha, com sua metade da corrida para pagar e tentando não pensar nos planos que fizera. Ele devia entrar na torre pela janela, suspende-la em seus braços com carinho, cavalgar abraçados para longe dali. Eles entrariam numa cabana na floresta, o príncipe fecharia atrás de si a porta e as janelas sem tirar os olhos dela e então eles ouviriam apenas o som dos pássaros e da chuva lá fora. Ele não diria banalidades, não ligaria a TV. Toda a sua atenção e seus sentidos estariam voltados para ela. Ele devia beijar seus olhos, sua testa, seu ombro, morder de leve a ponta da sua orelha direita, respirariam no mesmo compasso e brindariam com um longo beijo quente aquele momento sublime. Mas ela precisava dissipar aquelas nuvens de sonhos, pois ele ignorou todos os seus avisos e sucumbiu à própria covardia. Então ela ordenou ao motorista que desse meia volta, pediu que ele parasse na beira do caminho, pendurou, ao lado da placa “só solteiros” outra que dizia “apenas maiores de 30 anos”, e seguiu de volta ao castelo para mais uma vez trancar-se em sua torre. Menos que um sonho, aquela realização foi nada! Ficou apenas uma sensação, como ele mesmo dissera, de que ‘não custava tentar”.

2 comments:

Anonymous said...

Nem tudo acontece do jeito q a gente espera não é mesmo?

De novo as garotas a desejarem os homens mais velhos...

Ótimo texto, faltou só o "justificar" na hora de editá-lo.

Parabéns

Ana Medeiros said...

Sempre esperamos muito dos homens, nossas expectativas tolas...
São cabeças completamente diferentes!
Adorei o texto. Parabéns