Wednesday, March 07, 2007

Turistas. Aja como um.

De Fernando Alonso...

Tem dia que de noite é uma merda. Eu sei, eu sei, já usei essa expressão antes, em outro texto, outro personagem, mas aquele texto é aquele, esse aqui é esse. E acho que essa frase cai perfeitamente aqui.
Barcelona, Julho de 2000. Cheguei tarde demais. Esperava alcançar a cidade antes das férias, mas não foi possível. Certo, vamos entrar na onda dos turistas então. Aliás, sempre que viajamos somos turistas, mas engraçado como fazemos questão de parecer que não. E foi assim, querendo dar uma de não-turista, que eu tomei na cabeça, ou melhor, quase.
Caía a tarde e resolvi com meu amigo sair na noite Catalã. Apesar conhecer pessoas na cidade, resolvemos improvisar e perguntar por ali mesmo no hotel – localizado na rambla*, próximo ao centro - onde poderíamos nos divertir. Todos apontavam para as boates no porto antigo, as mais famosas....para turistas claro.
Com o sorriso no rosto, cabelinho ajeitado, perfuminho, ficamos prontos. Eu e o Fê. Como não confiava muito no hotel, tive a sensacional idéia de levar o passaporte junto (isso mesmo, para uma boate, aonde iria me embebedar). Tem gente que não aprende.
Assim fomos. A pé, pois éramos ‘’locais’’. Chegando lá encontramos uma brasileira que conhecemos durante um passeio de tarde. Estava toda simpática para meu amigo, que não perdeu tempo em tacar-lhe uns beijos. Assim, algumas tequilas depois eu estava lá, sorridente, falando com todo mundo e quase dançando break, quando encostei no bar, pedi outra e comecei a conversar com um suíço. Cara gente fina, falava bem inglês, mesmo bêbado foi fácil o diálogo. Esse foi o problema, gente fina demais. Sim, ele me contou que gostava do carnaval brasileiro, e mais. Disse que adorava chacoalhar sua ‘’bunda’’ nas festas. Nesse momento eu quase esguichei a cerveja no olho do barman. Lancei um sorriso amarelo para meu ‘’amigo’’ e saí de banda. Primeiro revés da festa. Mas um brasileiro não desiste nunca, e lá fiquei, fiquei, fiquei ‘’travado’’.
Sabia que meu amigo havia voltado ao hotel, e resolvi fazer igual, mesmo imaginando que ele poderia estar no quarto (e pior, na minha cama) com a menina.
E como todo sujeito deveras embriagado, voltei tropeçando do porto até o hotel, que se localizava na própria rambla*, porém situado num local tido como ‘’perigoso’’ para os transeuntes tarde da noite. Todos são instruídos a andarem ao centro da rambla*, e não pelas laterais, mas o maioral aqui obviamente esqueceu da regra e foi pela lateral. Ali fui abordado por 4 jovens marginais, um deles bem grandinho, maior que eu. Começaram a fazer aquela brincadeira de ‘’Ronaldinho, Romário, Rivaldo'', que por sinal é a coisa mais irritante numa viagem e eu, bêbado, notei que estava com problemas. Foi quando nosso bandido español ‘’maiorzinho’’ me imobilizou pelas costas. Na hora me veio um único pensamento: FODEU. Os moleques começaram a me bolinar (veja bem, não no sentido sexual da palavra) buscando dinheiro, e só me preocupei com o passaporte. O medo foi tanto que a adrenalina disparou, e eu fiquei sóbrio. Consegui derrubar o grandão no chão, caindo junto. Mas quatro são quatro e levantei pensando que iria tomar uma bela surra. Foi aí que os moleques fugiram. Olhei para o lado e vi umas señoras olhando espantadas, e um homem também. Eles acabaram assustando os garotos, e assim eu levantei, ergui a cabeça como se fosse um Lorde, como se nada tivesse acontecido e voltei pro hotel, com vontade de deixar as coisas lá e sair com um pau atrás deles. Foi quando entrei no quarto chutando a porta e peguei meu amigo de cueca tentando se esconder como se fosse uma virgem e a menina, de calcinha e sutiã, super à vontade. Pouco se importando com o flagra, ela calmamente veio em minha direção com um olhar de preocupação ‘’ Oi Fê, tá tudo bem?’’. Enquanto isso, meu amigo ainda constrangido tentava sem muito sucesso colocar a calça. Assim, a dúvida foi tamanha em saber qual dos 2 me ajudaria a procucar os moleques que acabei desistindo da empreitada e fui dormir. Sóbrio.

* La Rambla (Barcelona) – Nome figurativo da principal avenida da cidade, que discorre entre a Plaza de Cataluña (ponto central importante da cidade) até o porto antigo, onde se situa a estátua de Cristobal Colón. Essa avenida peatonal tem aproximadamente 1,5 km de extensão, e está cheia de quiosques de flores, mercadores, cafés, comércio, hotéis e edifícios de relevante importância, como o teatro de El Liceo e o Palácio de la Virreina.

10 comments:

Anonymous said...

hahahahaha
consegui imaginar perfeitamente a cena!

ótimo texto, fê!

bjo

Acerola das Neves said...

Bom, a lição pelo jeito é fato... rsrsrs jamais leve coisas importantes pra lugares onde vc vai se embebedar... RG, somente a xerox... rsrsrs boa história!! Grande abraço!
Tiago Abad

Anonymous said...

é fefo, essas histórias verídicas são as melhores, primeiro pq eu conheço já várias delas, depois pq eu sei direitinho cada cara que vc fez em cada hora da história. Quem sabe um dia uma história minha não pinta por aqui tb....parabens e abçao

Unknown said...

Fê...pode escrever pra "MINHA NADA MOLE VIDA " ou "OS NORMAIS"
Sensacionalllllllllllllllll!
Bjokassss

Lu Paiva said...

Bebedor nato de tequila e afins e ainda não aprendeu?!rsrsrsrsrsrs

Bj
LU

Suzana Marion said...

Fiquei com inveja agora... não tenho nenhuma "AVENTURA-MICO" de viagem pra contar...
Vou providenciar uma urgente!rs
bjx

Camila Fernandes said...

Fe!
Séria essa história, cara? Que coisa do inferno... nenhum turista merece. Por mais que se parece com um turista, rs.
Vê se lembra de me contar mais aventuras espanholas!
Beijão.

Senhorita Rosa said...

Eu li!

Anonymous said...

Oi Fê!!

Tudo culpa da tequila...
Por isso que eu não bebo! :D

Bjitos!

Anonymous said...

Fala sério....você gostou de ser bulinado na Espanha, né? huahuahuaa......boa história.