De Leandro Molino
Todo o dia, quando abrimos os jornais, ouvimos as rádios ou assistimos os telejornais, somos compelidos à “compreensão” de notícias quase sempre desagradáveis. É como se nos fosse propiciada uma imersão na desgraça humana. Em uma das noites passadas, deparei-me com o seguinte pensamento: “Caramba: será que somente ocorrem tragédias e desgraças no Brasil?”. Essa questão surgiu logo após assistir ao tal “nacional”, aquele telejornal, no chamado “principal canal da televisão brasileira”. Era um tal de morte de um lado, fuzilamento de policiais do outro, enchente para cima e pra baixo, rebelião nos presídios! Não pude me furtar de tentar compreender o que estava ocorrendo. Graças ao papai do céu, ao meu lado havia pessoas razoáveis e inteligentes, que também perceberam que o tom adotado pelo tal telejornal era muito mais próximo ao dos primeiros 30 minutos do “Resgate do Soldado Ryan” do que à prática de um responsável e sério jornalismo. Estávamos, todos, embasbacados. Paralisados. Nos sentíamos tragados por aquele montão de desgraças que desfilavam, em cores, em nossa televisão. Os mais críticos diriam: “Essa é a realidade do País em que vivemos, meu caro; e o objetivo deste tipo de jornalismo é demonstrar a verdade.” Trata-se, certamente, de um argumento válido. Mas será que os competentes profissionais envolvidos na produção daquele telejornal refletiram sobre as conseqüências da demonstração nua e crua da realidade? E, mais grave, da forma como realizado? Será que só existe este tipo de jornalismo, este modo de informar?
A questão toda está na definição do que é realidade. Realidade nunca foi, e jamais será, um conceito uniforme e estanque. E tal situação torna-se ainda mais evidente em um País tão desagregado quanto o nosso, ambiente propício para a formação de diversas realidades: a do pobre; a do “classe média” e a do rico, ao menos. Mas até esse conceito, veja-se, não é absoluto, pois no cerne destas classes sociais existem, ademais, realidades diversas: a dos desempregados; a dos empregados; a dos patrões; a dos serviçais; a dos profissionais liberais; a dos políticos (ô realidade torpe, esta!). Enfim, uma gama enorme de interesses e de peculiaridades que fazem surgir diversos níveis e definições de realidade. Percebem como uniformizar, “pausterizar” a realidade é um tremendo equívoco? E este erro adquire contornos ainda mais relevantes quando se percebe que é realizado, cotidianamente, por quem não poderia fazê-lo: os meios de comunicação. É óbvio que o papel da imprensa, em um ambiente democrático, deve ser respeitado. Não se está aqui, de forma alguma, apregoando a necessidade de um controle sobre os meios de comunicação. O que se está afirmando é que estes meios de comunicação acabam por não realizar o seu escopo, que é o de é informar, fazer com que o cidadão se interesse pelo que ocorre no cotidiano de sua cidade, de seu Estado, enfim, de seu País. Nunca foi papel da imprensa realizar uma verdadeira lavagem cerebral, como hodiernamente ocorre, instalando a pílula do medo no inconsciente coletivo. Isso sempre foi o triste papel dos inimigos da democracia. E liberdade de imprensa e democracia são irmãs, gêmeas e siamesas. Todavia, o que é realizado atualmente por um número muito significativo dos veículos de comunicação brasileiros é tão-somente uma lavagem cerebral: o sujeito fica tão atormentado com as notícias que lhe são dirigidas que acaba por perder o interesse. Acerca de tudo! Torna-se um ser acuado e amedrontado. É o efeito reverso do que deveria ocorrer. Na minha opinião, listo como raras exceções algumas atividades jornalísticas que são hoje realizadas nas Rádios do País, entre estas destaco a JovemPan, a CBN, a Band. Encontramos outras louváveis exceções em alguns canais de TV à Cabo. Mas quantos brasileiros assistem TV à Cabo? Quanto aos jornais impressos, temos um caso à parte, pois a premissa para lê-los é saber ler e interpretar, compreender, o que está escrito. E quantos dos “novos brasileiros” sabem realmente ler? Nos demais meios de comunicação, especialmente o televisivo aberto, o que se vê é um jornalismo extremamente superficial, sem sal nem açúcar. A imprensa, em sua absoluta maioria, é, no Brasil, formada por pessoas altamente capacitadas. Entretanto, falta aos meios de informação brasileiros isenção. Não me refiro à liberdade absoluta, pois isto seria utópico demais. Refiro-me à isenção no ato de informar; à responsabilidade na formação de uma audiência participativa e responsável. Os meios de comunicação não podem, em sua maioria, somente servir ao stabilishment. Todavia, também não estão autorizados a simplesmente questionar o status quo, como que por esporte. Devem questioná-lo, sim, criticá-lo, mas de maneira isenta, analisando as questões propostas, os fatos do cotidiano, a fim de inserir o telespectador, o ouvinte ou o leitor no contexto da informação. A demonstração da realidade nua e crua gerará o simples receio, o temor justificado, pois é induvidoso o fato de vivermos em uma situação limiar de insegurança e instabilidade de nossas instituições. Uma imprensa que não questiona e que não traz à tona exemplos positivos acaba por pouco contribuir para a formação da cidadania. É como ensinar a fazer um bolo sem apresentar a receita. Você pode até mesmo decorar diversos elementos daquela, mas jamais a sua totalidade. Sempre faltará um ingrediente. Sempre o mais relevante. Não há como falar-se em desenvolvimento social e econômico sem conscientização. Somente conscientes do que somos, do que podemos e do que queremos é que poderemos, um dia, deixar de dançar essa valsa de notas tristes que é impingida a todos nós: a do desinteresse, causa da nossa inação. Ou os meios formadores de opinião passam a discutir, a fundo, tudo o que está ocorrendo ao nosso redor, ou estaremos condenados a ser, para sempre, o País do Samba e do Futebol.
Friday, March 16, 2007
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3 comments:
É....to começando a me convencer de que voce vai se tornar um político...Só não vai estragar tudo quando chegar lá!!
hahaha
Abraço!!
Bom, estamos lutando tb pelo grau de país do analfabetismo, do sangue e por aí vai... vários títulos a ganhar. abraço!
Tiago Abad
É... Um texto para ler e ficar refletindo depois...
Bjitos!
Lu Muniz
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