Tuesday, April 10, 2007

''Concentre-se, um pouco que seja e pense no significado do amor para você. Pensou? Agora imagine qual a relação de tudo isso com a morte?''

De Antonio Zubieta

Concentre-se, um pouco que seja e pense no significado do amor para você. Pensou? Agora imagine qual a relação de tudo isso com a morte?
Demorei para entender a relação deste texto de Drummond com tudo o que há na morte. Por isso o melhor a fazer é receber esse dom e nao se perguntar porque.


Não teve tempo de tirar sua roupa e chapéu de chefe de cozinha. Começou a escalar por seus cabelos negros, grossos e fortes. Enquanto subia orientava-se por seus olhos hipnotizantes e suavemente carinhosos. Olhos de boneca; imortais e mortalmente apaixonantes.
Foi então, quando defronte dela, que lentamente mas continuamente, como um padeiro tira uma bisnaga do forno, que a matéria cresceu. Naquele momento lembrou do seu bisavô com a bengala de ponteira-de-quadro-negro feita de Jacarandá. Lembrou das milhares de pessoas que podiam estar fazendo o mesmo.
Lembrou tanto quanto pôde de admirar a sensualidade de Havana. E que agora estavam ali sentados, conversando sobre tudo e sobre nada. Ao lado da pizza doce e do vinho seco e que agora o momento era só deles.
O momento tinha um quê de sentimento puro de inocência. Ao mesmo tempo também de cumplicidade, amor e de matéria viva que perdoa.

Ela mal sabia, mas ele passou a noite à espiá-la. Administrando e guardando seu sono terno. Mas a noite passou muito rápido e quando pensou em cochilar o sol despontou sobre seu ombro.
Era o sinal de que tinha que começar a descer. Deixar de olhar pela última vez aqueles olhos lindos.
E enquanto descia fixava o olhar nela e parecia levitar.

Ficou até tarde na mesa do café fazendo bolinhas de miolo de pão – era isso? Precisava saber o que passava por sua cabeça. Estava intranqüilo pela perda e ansioso por revê-la num sentimento incondicional e impossível. A ligação amorosa agora estava por se dissipar com um último afago, um último beijo e olhar. Somente o tempo dirá o dia do retorno.
Ficou com medo de estar humanizando demais a vida e que deveria ficar com a visão toda, mesmo que isso significasse a existência de uma verdade incompreensível para as coisas.
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Depois ficou em silêncio e sob um destino que o escapa, como um simples fragmento hieroglífico.
Ao olhar a foto dela lembrou de toda sua aventura, da escalada, do sono, dos beijos, de suas mãos.
Meteu a mão no bolso e reparou que havia guardado as bolinhas de pão - e ficou com elas.

1 comment:

Anonymous said...

Rapaz, que farofa boa essa q o cozinheiro fez! Mandou ver como chef de cozinha de hotel muquiado em Sampa, com sotaque praiano da baía de Guanabara...