Tuesday, May 01, 2007

E as pêras rolaram....

Cronista Convidado: Amanda Cruz

Manhã de quinta-feira. A velha rotina de sempre. Acordar, tomar um banho para espantar o sono, olhar pela janela para conferir as condições climáticas e seguir para a etapa do dia mais difícil na vida de uma mulher: escolher que roupa vestir.
Após trocas incontáveis de blusinhas, calças, tênis e sandálias, acabei escolhendo qualquer coisa, por achar que não tinha roupa suficiente e por estar mais do que atrasada para o trabalho. O tempo corre ligeiro na cidade de São Paulo.
Passo no supermercado para comprar algo que consiga enganar meu estômago. Escolho três pêras.
Caminho em direção ao ponto de ônibus. Logo chega minha condução e, como já era esperado, lotada.Torço para alguma pessoa levantar para que eu posso me acomodar sem ser mais espremida que sardinha enlatada durante todo o percurso. Consigo um lugar, acomodo meu saquinho de frutas entre meus pés e começo a ler o jornal.
Tudo parecia correr bem quando uma freada repentina do ônibus lança todos os passageiros para frente, assim como minhas pêras, que rolaram saquinho a fora como se tivessem vida própria e resolvessem passear entre os pés das pessoas. Considerando impossível a hipótese de tê-las de volta, tentei me esconder atrás do jornal e esquecer a existência daquelas três pêras fugitivas.
Esforço em vão. Sempre existe uma pessoa com ótimas intenções, que recolheu as frutas perguntando em alto e bom som a quem pertenciam. E, é óbvio, que alguém sempre vê tudo, mesmo num ônibus lotado, e também resolve praticar o bem dizendo “é daquela mocinha ali!”.
Silêncio. Senti o ônibus inteiro me observando. A pressão era muita, como naqueles interrogatórios de filmes policiais. Todos aguardavam o meu depoimento. Diante das circunstâncias, tive que assumir que as pêras estavam sob minha responsabilidade e prometi cuidar melhor delas.
Pêras devolvidas, agradeci e desci antes mesmo de chegar no meu ponto. Na pressa, não percebi que o saquinho furou. As pêras mais uma vez tentaram fugir. Observei uma a uma caindo e rolando pela calçada. Quer saber? Fujam! Desta vez não me importarei com vocês.
“Ei moça! Suas pêras!” Olhei para o cara que gritava no meio da rua e disse: “Pode ficar com elas, tô com pressa!”
Nunca pensei que algumas frutinhas pudessem transformar uma pacata manhã a caminho do trabalho em uma situação tão constrangedora.

1 comment:

Lu Paiva said...

Eu morreria.....rsrsrs

Bj
Lu