Wednesday, April 04, 2007

Meu dia de domingo

De Thiago Fabrette.

Hoje - segunda-feira - vai passar um ótimo filme na TV a cabo. “Falcão Negro em Perigo”. Vinte e duas horas, na TNT LA. E só vou vê-lo porque sobrevivi.
Se me perguntares: O que fez no seu domingo, eu direi: sobrevivi.
O meu domingo prometia! Dia de sol, calor, praia. Eu, amigos, mais uma ótima companhia do meu lado.
Passamos o dia inteiro na praia da Sununga, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, jogando conversa fora, rindo à toa, sol, cervejinha e muito bom-humor, depois de um fim de semana muito tranqüilo e muito agradável. Resolvemos que precisávamos aprender a surfar em um Skin-board, mais conhecido como “sonrrisal”, uma pequena pranchinha para deslizar pelos espelhos d´água produzidos pelos recuos das ondas. Um equipamento aparentemente fácil de usar, mas que nos causou alguns pequenos arranhões e boas risadas.
Quero aqui fazer um parênteses. Se você, leitor, ta achando meio sacal esse tipo de texto: “como foram minhas férias”, me desculpe, achei prudente falar sobre o assunto. Me sinto confortável dem digerir e dividir isso com vocês.
Segundo parênteses, se você não conhece a praia da Sununga (Águas Cantantes), vale a pena, mas recomendo: tome extremo cuidado. De uma hora pra outra, uma ondulação se une a outra, bem na areia e forma ondas de proporções incríveis, sem aviso.
Retomando, senti vontade de fazer xixi. Como estava molhado, na beira do mar, fui usar o próprio para satisfazer minha necessidade. Entrei, nadei um pouco, briguei com as pequenas ondas e tentei, tentei, mas o mar não estava ajudando, não me deixava parar um minuto e relaxar.
Fiquei imaginando uma grande e divertida onda se formando... Imaginando? Nada. Ela estava se unindo a outras duas e, sem mais nem menos, uma enorme vaga de 3 metros subiu e formou uma parede branca na minha frente. Abandonei o que estava tentando fazer e nadei um pouco na direção contrária. Pura burrice, deveria ter nadado em direção à onda, para passar por cima ou por baixo, qualquer coisa, menos nadar para a areia. Era impossível conseguir sair do lugar. Na verdade, ela começou a me tragar para dentro. Me preparei para o impacto e bum! Fui atingido, mas tudo bem, naquele momento, nada alarmante. Só que, em um instante, outra onda veio e transformou a minha sustentação, a água embaixo de mim, em cem toneladas de espuma branca e criou um vácuo sob meu corpo. Anos e anos de natação transformados em nada. Fui para o meio do mundo branco e bebi muita água. Nada, nenhuma movimentação dos meus braços me levavam para cima. E, estranho, eu tentava me salvar, mas minha cabeça estava extremamente lúcida e consciente do que fazer. Salve-se. Nade, faça algo, mas não desista, porra!
Minha boca e meu nariz conseguiram dois segundos de ar, mas nada demais, uma nova e enorme onda veio para me deixar furioso. Que saco! Preciso de ar e mais uma onda? Ainda deu tempo de ver duas meninas me olhando, parecendo realmente preocupadas. Nessa hora, bateu o desespero, pois já me encontrava a pelo menos um minuto e meio sem ar e tentando me salvar. Não respirava mais nada e meu corpo respondeu: puxei água para o pulmão.
Nesse momento, meus pés bateram na areia. Eu estava de pé. As ondas recuaram e eu pus pra fora toda a água tomada, numa regurgitação automática. Tudo, tudo, durou menos de três minutos. Quem conhece a Sununga sabe: do mesmo modo que as ondas sobem, descem, sem aviso, repentinamente e isso que me tragou mas isso que me salvou. Não foi mérito meu ou de Deus. De ninguém. Foi pura sorte. Não era minha hora.
Depois disso tudo, saí da água quase chorando, quase desmaiando de tamanho esforço. Meus braços estavam como duas pedras, minhas pernas trêmulas e a adrenalina corria com um trem desgovernado. Fiquei ainda, em torno de vinte minutos deitado, sendo acalmado pela Paula (meu anjinho), com o coração a 220 batidas por minuto. Sério, fui corredor, sei do que estou falando. Este é o mínimo que ele chegou, tenho certeza. E a respiração demorou outros 20 minutos para normalizar.
Agora, lembrando da cena, me vem tanta coisa na cabeça! E se eu tivesse nadado para o lado contrário? Foi mesmo burrice ou instinto? Tantas coisas poderiam ter acontecido! Coisas que eu agora, me pergunto: de que me valeu tudo isso? Algum ensinamento pode ter, alguma coisa boa?
No fim, a experiência, julgo, serviu para descobrir que: pra morrer, meu amigo leitor, basta estar vivo. Mas ainda prefiro procurar viver e respeitar ainda mais o mar (e principalmente, a praia da Sununga). Sem medo.

6 comments:

Anonymous said...

Foi mesmo um susto! Por sorte(ou mérito), podemos rir disso hoje.

Li de Oliveira said...

Menino!!!!!! O que foi isto?? Graças que está bem.... mas isso aí é a vida, nos surpreendendo a cada minuto. Não basta estar atento, tem que contar mesmo com a sorte também !!!
Se cuida aí. Beijoss.

Suzana Marion said...

mais uma lição:
"Em Surunga, descarregue sua cerveja no banheiro. Ir um pouco mais para o fundo para obter privacidade pode te encher ainda mais de líquidos."

fico feliz por vc estar bem.

bjx

Anonymous said...

tambem fico feliz por voce estar bem para escrever textos bacanas como esse. Gostei especialmente de "Se você, leitor, ta achando meio sacal esse tipo de texto: “como foram minhas férias”, me desculpe"

bj!

Unknown said...

Puxa Thi graças a DEUS que está tudo bem, da próxima vez, seja mais prudente, sei disso, pois amo o mar também, e não devemos abusar nunca, não importa o quanto saibamos nadar...
Beijos

Neural said...

cara, que puta susto hein! na hora que voce respirou a agua eu ja pensei "quem sera que psicografou essa historia"
E quando vc achou que tudo estava perdido, de pe...
fiquei bem impressionado. ve se se cuida hein cabecao!

grande abraco,
renato